Pílula anticoncepcional

Os anticoncepcionais hormonais podem, ainda, proteger mulheres contra alguns tipos de doen�as, como c�ncer de ov�rio e de �tero, e diminuir efeitos de tens�o disf�rica pr�-menstrual

PHILIPPE HUGUEN/AFP

Os contraceptivos hormonais s�o comumente administrados como meios artificiais de controle de natalidade. Apesar de muitos benef�cios, efeitos colaterais adversos associados a altas doses, como trombose e infarto do mioc�rdio, causam hesita��o no uso. Como uma alternativa, pesquisadores da Universidade das Filipinas Diliman apresentaram um modelo computacional para minimizar a dose total desses rem�dios, mas sem afetar a contracep��o. A redu��o pode chegar a 92%. Segundo os autores, o estudo pode servir de base para tratamentos personalizados e menos agressivos.

Um ciclo menstrual normal � influenciado por v�rios horm�nios produzidos pelo sistema end�crino, e as abordagens mais comuns dispon�veis para reduzir o risco de gravidez, incluindo p�lulas, injet�veis e implantes, envolvem a administra��o de estrog�nio ou progesterona para bloquear a fase do ciclo em que um �vulo � liberado no �tero. No novo estudo, os pesquisadores usaram dados sobre os n�veis hormonais de 23 mulheres, com idade entre 20 e 34 anos e ciclos menstruais normais, para desenvolver um modelo computacional que descrevesse as intera��es entre v�rios n�veis hormonais, bem como os impactos, no organismo, dessas subst�ncias presentes nos anticoncepcionais.

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O modelo forneceu evid�ncias de que � poss�vel reduzir a dose total em 92% nos anticoncepcionais s� de estrog�nio e em 43% nos que s� t�m progesterona e, ainda assim, prevenir a ovula��o. A equipe tamb�m descobriu que, ao combinar os horm�nios, as dosagens podem sofrer uma redu��o ainda maior. "Um resultado interessante do estudo � a sugest�o de que, em compara��o com a administra��o de dosagem constante, que � como a maioria das p�lulas anticoncepcionais � administrada, uma infus�o cont�nua com doses variadas, cuja dosagem total � significativamente menor do que a administra��o de dose constante, ainda pode suprimir efetivamente a ovula��o", explica Brenda Lyn Gavina, principal autora do estudo e estudante de doutorado no Instituto de Matem�tica na universidade filipina.

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Na avalia��o de Gavina e os colegas, com o r�pido avan�o em implantes e inje��es que fornecem administra��o cont�nua, h� um grande potencial para implementar novos esquemas de dosagem m�nima e personalizada. "At� onde sabemos, nosso trabalho � o primeiro a usar modelagem para estudar o tempo de dosagem, minimizando ainda mais a dose. Os resultados t�m potencial para fornecer contracep��o a mais mulheres, especialmente porque doses mais baixas tamb�m diminuem os riscos de efeitos colaterais adversos, como tromboembolismo venoso e infarto do mioc�rdio", escreveram no artigo, publicado na revista PLOS Computational Biology.

C�nceres

Tatianna Ribeiro, ginecologista da cl�nica Rehgio, em Bras�lia, explica que a combina��o de horm�nios para fins contraceptivos � comum. "Eles impedem principalmente a libera��o do �vulo pelos ov�rios (ovula��o), aumentam a densidade do muco no colo do �tero e, uma vez que esse muco est� mais espesso, dificulta-se a passagem dos espermatozoides do colo para a cavidade do �tero, deixando um ambiente mais hostil."

 

Os anticoncepcionais hormonais podem, ainda, proteger mulheres contra alguns tipos de doen�as, como c�ncer de ov�rio e de �tero, e diminuir efeitos de tens�o disf�rica pr�-menstrual, conhecida popularmente como TPM. Mas a m�dica alerta que, assim como qualquer outro medicamento, h� contraindica��es e efeitos colaterais. "Entre eles, podemos citar o aumento do risco de complica��es vasculares, como trombose venosa profunda, embolia pulmonar, infarto do mioc�rdio, dist�rbios hep�ticos e acidente vascular cerebral", lista. "Por isso, � importante consultar um m�dico antes de optar por esse m�todo contraceptivo".

 

Para a ginecologista, a possibilidade de reduzir os horm�nios existentes nesses rem�dios pode trazer diversos benef�cios �s usu�rias. "Quanto menor a dose, menores ser�o os efeitos colaterais, al�m de diminuir os riscos atrelados ao m�todo", afirma. "Baixar as dosagens sem comprometer a efic�cia do m�todo � uma possibilidade fant�stica para as mulheres que precisam fazer uso desses horm�nios, seja para contracep��o, seja para outras quest�es da sa�de feminina."

 

Gavina pondera que o modelo precisa ser refinado com o uso de mais dados e lembra que ele n�o captura todos os fatores relacionados � contracep��o, uma vez que o sistema reprodutivo feminino � altamente din�mico e complexo, dependente de v�rios horm�nios. "Por exemplo, o modelo atual pode ser acoplado a um modelo farmacocin�tico para levar em considera��o a natureza exata e o metabolismo dos horm�nios administrados, permitindo a investiga��o dos efeitos de drogas espec�ficas", ilustra.

 

A pesquisadora conclui que mesmo que os resultados do estudo n�o sejam diretamente traduz�veis para o cen�rio cl�nico, a expectativa � que os dados possam ajudar os m�dicos a identificarem a dose m�nima e poss�veis novos esquemas de tratamento para contracep��o. "Al�m de querer contribuir para controlar o crescimento populacional, pretendemos empoderar mais as mulheres, dando-lhes mais controle sobre quando conceber e iniciar a maternidade e de uma forma mais segura", diz.

*Estagi�ria sob a supervis�o de Carmen Souza