Mulher sentada em sofá se abandando com leque

As ondas de calor s�o uma das principais causas de mortalidade induzida pelo clima

Getty Images

Alertas de ondas de calor e temperaturas extremas se tornaram comuns em muitos pa�ses, mas raramente esses alertas incluem outros fatores que representam um risco � sa�de do ser humano e dificultam sua capacidade de adapta��o.


Os alertas dos servi�os meteorol�gicos sobre ondas de calor deveriam se basear n�o apenas nas temperaturas, mas incluir tamb�m �ndices de estresse t�rmico que levem em considera��o fatores como umidade, vento e exposi��o ao Sol, segundo um estudo cient�fico publicado recentemente.


Um n�vel elevado de umidade no ambiente e a aus�ncia de vento podem fazer com que, por exemplo, uma temperatura extrema de 37ºC seja mais prejudicial � sa�de do que a mesma temperatura em um ambiente seco ao dificultar o resfriamento do corpo humano.

 

Este � um dos principais pontos do estudo elaborado por uma equipe internacional de cientistas do Instituto de Sa�de Global de Barcelona (ISGlobal) e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, publicado na revista Npj | Climate and Atmospheric Science, da Nature.

No estudo, eles alertam que se basear unicamente nas temperaturas pode n�o ser suficiente para informar a popula��o sobre os verdadeiros riscos � sa�de de uma onda de calor, e pedem que esses dados sejam inclu�dos nos alertas.


Mulher se refrescando em frente a ventilador

Em 2022, foram registradas mais de 20 mil mortes relacionadas �s ondas de calor na Europa, lembra o estudo

Getty Images

O que � estresse t�rmico

"De forma simples, trata-se de levar em considera��o que temperatura n�o � o mesmo que calor", explica Xavier Rod�, um dos autores do estudo, � BBC News Mundo, servi�o em espanhol da BBC.


"A diferen�a est� em como o corpo percebe fisiologicamente a combina��o entre uma temperatura alta e uma umidade alta."


"Isso � o que os diferentes �ndices de estresse t�rmico levam em considera��o de certa forma, junto a outros par�metros como vento e radia��o, mas basicamente o aspecto central � a umidade", acrescenta.

 

Leia mais: Dias de calor: hora de ter cuidado redobrado contra picadas de mosquito

 

 

 Dias de calor: hora de ter cuidado redobrado contra picadas de mosquito 

 

 O cientista espanhol, respons�vel pelo programa "Clima e Sa�de" do ISGlobal, destaca que "o que o estudo faz, acima de tudo, � enfatizar que a comunica��o por parte dos servi�os de meteorologia sobre como comunicam os (eventos) extremos, as ondas de calor, est� baseada exclusivamente, pelo menos aqui em nosso pa�s e em outros pa�ses, nas temperaturas m�ximas".


No entanto, ele acredita que deveriam ser seguidos os passos de outros pa�ses, como Estados Unidos, Canad� e Alemanha, que j� inclu�ram �ndices de estresse t�rmico ao comunicar as ondas de calor "como medida mais adequada do perigo, de uma situa��o de alerta, basicamente porque a mesma temperatura, em diferentes n�veis de umidade, representa um risco diferente".


Criança jogando um balde de água na cabeça de um homem adulto

Os especialistas alertam para a import�ncia de se hidratar bastante e se refrescar com frequ�ncia para evitar insola��o

Getty Images

Com a umidade acima de 50% e temperaturas elevadas, o corpo perde a capacidade de dissipar o excesso de calor ao n�o conseguir transpirar da mesma forma, por isso n�o consegue se resfriar, o que pode representar riscos prejudiciais � sa�de.


"Essa � a diferen�a introduzida pelos �ndices de estresse t�rmico, e isso � bem simples, a n�vel cient�fico n�o � um avan�o. Mas, sim, do ponto de vista da comunica��o: como isso chega � popula��o em geral, ainda mais num momento em que esse tipo de situa��o acontece com mais frequ�ncia", acrescenta Rod�.

Diferentes �ndices

Embora o limiar de resist�ncia ao calor de cada pessoa varie em fun��o de uma s�rie de fatores individuais, diferentes �ndices de estresse t�rmico foram concebidos para descrever o impacto das condi��es meteorol�gicas no corpo, incluindo o ponto em que as condi��es vivenciadas podem se tornar uma amea�a � sa�de humana.


Assim como n�o existe um n�vel de alerta de calor �nico para todos, tampouco existe um �ndice de estresse t�rmico �nico.

Alguns dos exemplos mais conhecidos s�o o humidex (Hu), usado no Canad�; o �ndice de calor (HI), adotado nos EUA; e o �ndice universal de clima t�rmico (UTCI), utilizado na Alemanha.


No entanto, a mensagem real de alerta de onda de calor enviada pelos meios de comunica��o continua a ser, na maioria das vezes, relacionada �s temperaturas m�ximas — e raramente inclui informa��es sobre os valores previstos para esses �ndices, em parte tamb�m devido ao desconhecimento do p�blico.


Termômetro marcando temperatura alta

O estudo tamb�m destaca a import�ncia de conscientizar a popula��o sobre as ondas de calor e os diferentes �ndices

Getty Images

Neste ponto, os especialistas insistem que dependendo da umidade, 36°C em um determinado lugar pode ser, em um caso, bastante inc�modo e, em outro, perigoso.


"Nesses dois casos, se n�o se estabelecem dois n�veis de alerta diferentes e n�o se comunicam claramente as consequ�ncias para a sa�de substancialmente distintas que se espera, � f�cil para a popula��o local perder a no��o dos diferentes n�veis de perigo associados aos dois eventos de 36°C ", eles escreveram no estudo.


Isso � especialmente importante quando se considera as chamadas "ondas de calor �mido", cuja frequ�ncia teme-se aumentar com as mudan�as clim�ticas.


As ondas de calor �mido podem fazer com que condi��es em torno de temperaturas anteriormente consideradas seguras em um determinado local (durante ondas de calor seco) se tornem perigosas.


Para os pesquisadores do estudo, � encorajador que alguns pa�ses j� usem esses �ndices.


"O que ainda falta � que os �ndices de calor sejam comunicados regularmente � popula��o, como tradicionalmente � feito com as temperaturas", diz Ivana Cvijanovic, principal autora do estudo.


"Poderia ajudar se a comunidade cient�fica chegasse a um consenso sobre qual �ndice de calor � melhor comunicar e quais n�veis de perigo usar."

'Zonas de perigo'

Para elaborar o estudo, a equipe de cientistas estudou as recentes ondas de calor recorde na Europa, Am�rica do Norte e �sia — e comparou os mapas das temperaturas m�ximas di�rias com os �ndices de estresse t�rmico m�ximo de cada dia.


As �reas geogr�ficas onde os �ndices de estresse t�rmico revelavam maior risco n�o coincidiam necessariamente com as regi�es em que foram registradas as temperaturas mais altas.


Por exemplo, durante as ondas de calor na Europa em junho e julho de 2019, os registros mostram que o centro e o nordeste da Espanha apresentaram as temperaturas mais altas.


No entanto, ao calcular os �ndices de estresse t�rmico, a equipe constatou que as �reas com as condi��es mais cr�ticas se encontravam na Fran�a, B�lgica e Holanda, pa�ses que registraram 2,5 mil "mortes em excesso", que s�o as mortes acima da m�dia hist�rica.


Silhueta de mulher bebendo água de garrafa ao ar livre

Dor de cabe�a, respira��o e batimentos card�acos acelerados, temperatura alta e pele vermelha s�o alguns dos sintomas de insola��o

Getty Images

Outro caso citado foi o epis�dio de calor extremo ocorrido em �reas do oeste do Canad� e noroeste dos Estados Unidos em junho de 2021.


Embora as temperaturas mais altas tenham sido registradas nos estados americanos de Washington e Oregon, os �ndices de estresse t�rmico revelaram que prov�ncias canadenses como Alberta, Territ�rios do Noroeste e British Columbia tamb�m apresentaram condi��es perigosas — sendo que essa �ltima registrou 600 mortes relacionadas ao calor.


"As li��es aprendidas com as grandes ondas de calor recentes sugerem que � necess�rio melhorar os protocolos de a��o. Uma vez emitido um alerta meteorol�gico, � necess�rio haver uma cadeia clara de responsabilidades", diz Ivana Cvijanovic.


"As autoridades devem agir prontamente e saber quando fechar escolas ou suspender atividades esportivas ao ar livre, abrir centros de refrigera��o para popula��es socialmente vulner�veis %u200B%u200Be garantir uma resposta de emerg�ncia suficiente."


"Educar a popula��o em geral sobre como se comportar durante as ondas de calor tamb�m � muito importante", acrescenta.