Comprimido reduz pela metade a mortalidade por c�ncer de pulm�o
Estudo apresentado na reuni�o anual da Asco, mostra que, em quatro anos, 73% dos pacientes que tomaram a subst�ncia osimertinibe estavam livres da doen�a
Os pacientes beneficiados foram previamente operados e tinham tumores n�o metast�ticos
Pascal POCHARD-CASABIANCA/AFP
Uma p�lula ao dia pode reduzir em 51% a mortalidade por c�ncer de pulm�o, tumor oncol�gico que mais mata no mundo, com 32 mil novos casos estimados no Brasil no tri�nio 2023-2025. Em um estudo apresentado neste domingo (4/6) durante a reuni�o anual da Associa��o Norte-Americana de Oncologia Cl�nica (Asco), em Chicago, nos Estados Unidos, pesquisadores revelaram que, em quatro anos, 73% dos pacientes que tomaram a subst�ncia osimertinibe estavam livres da doen�a, contra 38% do grupo placebo.
Todos os 682 participantes tinham c�ncer de pulm�o de c�lulas n�o pequenas, o mais comum, e encontravam-se entre os est�gios 1B a 3A da doen�a, ou seja, sem met�stases. Eles haviam sido tratados com a cirurgia de ressec��o tumoral e alguns tamb�m passaram pela quimioterapia tradicional antes de serem inclu�dos no estudo. O alvo da subst�ncia, comercialmente vendida como Tagrisso, s�o muta��es em receptores chamados EGFR. Nos Estados Unidos e na Europa, o c�ncer de pulm�o com essa variante representa aproximadamente 10% a 25% dos casos; na �sia, entre 30% e 40%. No Brasil, alguns estudos estimam em 7%.
"Esses dados apontam para um novo paradigma que demonstra a import�ncia do uso de terapia direcionada contra tumores epid�rmicos induzidos por fator de crescimento (EGFR) o mais cedo poss�vel no curso da doen�a de um paciente", afirmou, em uma entrevista divulgada pela organiza��o do Asco, Roy S. Herbst, principal autor do estudo. "Os resultados levam a um novo padr�o de tratamento nesse cen�rio de doen�a."
CURA Todos os anos, 2,2 milh�es de pessoas s�o diagnosticadas com c�ncer de pulm�o. Em 25% e 30% dos pacientes com a forma mais comum, a enfermidade � identificada precocemente, a tempo de serem submetidos � cirurgia curativa. A taxa de sobrevida em cinco anos no est�gio 1B � de 73%, passando para 56%-65% no 2. Ela cai para 41% nos pacientes com tumor 3A e 24% naqueles no est�gio 3B.
No estudo Adaura de fase III, a idade m�dia dos pacientes era 64 anos, aproximadamente dois ter�os n�o tinham hist�rico de tabagismo. Cerca de 75% eram asi�ticos, onde a muta��o alvo � mais frequente. O objetivo foi verificar a sobrevida livre da doen�a — quando n�o h� met�stases — e a sobrevida global, que acompanha o participante do in�cio do estudo ao �bito por qualquer causa durante o per�odo da pesquisa, que foi de quatro anos. Dados anteriores apresentados no Asco de 2020 indicaram um alto percentual de indiv�duos que n�o tiveram recorr�ncia ap�s o tratamento experimental. "No entanto, muitos se perguntavam sobre a sobreviv�ncia global. Bem, no estudo atual, acredito que n�o decepcionamos", comentou Herbst.
Segundo o m�dico, chefe de oncologia m�dica no Hospital de C�ncer Smilow, da Universidade de Yale, os resultados mostram a import�ncia de se obter o perfil gen�tico do tumor. "Se algu�m tiver uma muta��o EGFR e se enquadrar no quadro da doen�a em est�gio 1 a 3, esses pacientes devem ser considerados para a terapia adjuvante; primeiro com quimioterapia padr�o, se apropriado, como chegamos no estudo, mas depois com osimertinibe", aconselha. "Estamos personalizando a terapia para doen�as iniciais. Ao personaliz�-la e us�-la o mais cedo poss�vel, acredito que estamos curando pacientes."
NOVO PADR�O Agora, h� estudos em andamento para avaliar se, em pessoas no est�gio 1A, quando o tumor � ainda muito pequeno, � poss�vel recorrer ao osimertinibe sem quimioterapia pr�via. Em nota, o laborat�rio AstraZeneca, que financia o estudo, informou que tamb�m pesquisa se a subst�ncia, combinada � quimioterapia, � eficaz em tumores avan�ados e metast�ticos. "Pela primeira vez no campo do c�ncer de pulm�o, o osimertinibe adjuvante melhora inequivocamente a sobrevida em pessoas com muta��o EGFR. O osimertinibe deve ser o novo padr�o de tratamento para esses pacientes", disse, na plen�ria da Asco, Nathan Pennell, pesquisador da Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, que n�o participou do estudo.
No Brasil, o Tagrisso tem aprova��o da Anvisa desde 2018 como tratamento de primeira linha para o c�ncer de pulm�o de c�lulas n�o pequenas. No ano passado, o �rg�o ampliou o uso do medicamento para pessoas que n�o responderam � terapia inicial. De alto custo — uma caixa com 30 p�lulas � vendida, em m�dia, por R$ 40 mil —, o rem�dio n�o � coberto pelo Sistema �nico de Sa�de (SUS).
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