Entre 30% e 50% da popula��o mundial sofre dessa patologia invis�vel. A condi��o � considerada cada vez mais um problema de sa�de p�blica
A pandemia da COVID-19 foi uma das respons�veis pelo aumento da incid�ncia de dores cr�nicas
Marcos Vieira/EM/D.A Press
Etimologicamente, o termo pandemia significa “algo que aflige a todos”. Deste ponto de vista, a m�dica intervencionista em dor, Amelie Falconi, afirma, sem medo de errar, que a dor cr�nica � a pandemia do s�culo. “Pense em quantas pessoas voc� conhece com dores cr�nicas ou como produtos diversos, que prometem al�vio das dores, s�o ofertados em todos os lugares”, diz. De acordo com ela, fora a morte, n�o existe nada mais democr�tico que a dor. "Ela n�o diferencia g�nero, classe social, religi�o ou faixa et�ria”, afirma.
Corroborando com a vis�o de Amelie Falconi sobre o alcance da doen�a, um estudo de 2021, feito por pesquisadores ligados � Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (Sbed) e diversas universidades e faculdades brasileiras, constatou que a preval�ncia da dor cr�nica no Brasil � de 45,59%. Outro estudo da mesma sociedade em 2017 mostrou uma preval�ncia de 39%.
Sem d�vida, a pandemia da COVID-19 foi uma das respons�veis pelo aumento da incid�ncia de dores cr�nicas. Para chegar a esse resultado, os cientistas respons�veis pelo estudo partiram de uma premissa de que a dor cr�nica afeta entre 30% e 50% da popula��o mundial. Ou seja, quase metade das pessoas em todo mundo sofrem com a doen�a, que, obviamente, n�o pode ser ignorada.
IMPACTOS
De acordo com a m�dica intervencionista em dor, devido � sua ampla preval�ncia, �nus econ�mico e social, associa��o com quest�es de acesso e justi�a social, a dor cr�nica � considerada cada vez mais um problema de sa�de p�blica. Do ponto de vista financeiro, ressalta Amelie Falconi, os impactos na sa�de p�blica s�o gigantescos. “Para se ter uma ideia, os Estados Unidos despendem US$ 600 milh�es em custos diretos e indiretos com a dor cr�nica anualmente."
Os indiv�duos que sofrem de dor cr�nica percebem claramente como a doen�a � custosa financeiramente. “Al�m de aumentar o gasto mensal, com planos de sa�de, consultas, reabilita��o, rem�dios e psic�logo, a dor cr�nica atrapalha que seu portador ganhe dinheiro, porque muitas vezes o impede de trabalhar”, explica a m�dica.
Outro aspecto importante da vida humana que a dor cr�nica gasta e que n�o pode ser recuperado como o dinheiro � o tempo. “O paciente perde v�rios momentos de lazer por estar em tratamento e quando est� de ‘folga’ de m�dicos e outros profissionais de sa�de, est� com dor ou cansado demais”, comenta Amelie Falconi.
Cansa�o, sofrimento f�sico e descren�a
N�o bastasse o cansa�o e o sofrimento f�sico, portadores de dor cr�nica tamb�m precisam lidar com a descren�a de familiares, amigos, colegas de trabalho e at� de profissionais.
Conforme Amelie Falconi, como a dor � algo um subjetivo e n�o aparece em exames, � comum que muitos n�o saibam lidar com pacientes nesta condi��o: “Al�m de n�o saber o que � dor, n�s profissionais tamb�m sa�mos da faculdade com defici�ncias severas como falta de empatia e compaix�o com os portadores dessa doen�a".
A falta de conhecimento m�dico sobre o assunto faz com que milhares de pacientes com dor cr�nica saiam dos consult�rios sem um controle adequado da dor.
J� a falta de compreens�o, acolhimento e empatia por parte das pessoas pr�ximas faz com que o fardo da dor se torne ainda mais dif�cil de suportar. De fato, segundo a m�dica, o contexto de ignor�ncia e descren�a compromete toda a abordagem da dor e faz com que pacientes n�o se tratem de maneira adequada.
“Diferente de um paciente com doen�a card�aca, que tem medo de passar por uma cirurgia, um portador de dor cr�nica deseja a interven��o cir�rgica como primeira op��o de tratamento”, comenta a m�dica intervencionista em dor.
Isso ocorre, segundo ela, porque n�o se leva t�o a s�rio uma doen�a invis�vel quanto uma doen�a que se v�. “Em um mundo ideal, por�m, cuidar�amos da dor da mesma maneira que cuidamos de um cora��o: seguindo etapas e corrigindo fatores de riscos, que s�o respons�veis por desencadear e alimentar a dor cr�nica”, diz a m�dica.
MULTIFATORIAL
Amelie Falconi explica que a dor � multifatorial, com intera��es complexas entre muitos fatores biol�gicos, psicol�gicos e sociais. Em outras palavras, a dor influencia em tudo e tudo influencia na dor.
Conforme a m�dica, quando o paciente usa e abusa de rem�dios ele trata apenas os sintomas dessa dor, que, por terem causas variadas, n�o s�o resolvidas com a utiliza��o de rem�dios: “Chamo isso de 'enxugar gelo' na dor cr�nica. O paciente n�o modificou o que est� causando a dor, ent�o, a consequ�ncia � ela intensificar e torn�-la permanente".
Se tudo influencia na dor cr�nica, Amelie Falconi volta a ressaltar a import�ncia de empregar medidas al�m das farmacol�gicas para ajudar no controle da dor, mas tamb�m para melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade e reduzir os sintomas associados.
Conforme a m�dica intervencionista em dor, para obter bons resultados no tratamento da dor cr�nica, n�o basta olhar apenas para a doen�a. “Cada dor se manifesta de uma maneira totalmente diferente e individual. O mesmo tratamento apresenta resultados diferentes em pessoas diferentes. Isso mostra porque precisamos olhar para a pessoa, al�m da dor.”
Amelie Falconi, m�dica especialista em dor
D�bora Silva Ferreira/Divulga��o
"Os Estados Unidos despendem US$ 600 milh�es em custos diretos e indiretos com a dor cr�nica anualmente"
Amelie Falconi, m�dica especialista em dor
Passos do tratamento
Saiba os passos que precisam ser respeitados no tratamento da dor cr�nica de acordo com a m�dica intervencionista em dor:
• O paciente deve ser submetido a um tratamento conservador ativo, ou seja, uma fisioterapia bem-feita, de prefer�ncia uma fisioterapia particular (n�o gen�rica)
• Se este caminho n�o funcionar, deve-se ir para o plano B: cirurgia.
• � importante corrigir fatores de risco do paciente, o que significa interferir no estilo de vida da pessoa, estimulando-a a praticar atividade f�sica, dormir bem, comer adequadamente e cuidar da sa�de mental.
• No tratamento da dor cr�nica n�o se pode esquecer do uso de medicamentos. Estes s�o importantes para devolver uma certa autonomia ao portador da doen�a, para que ele d� prosseguimento � fisioterapia, por exemplo. Contudo, alerta Amelie Falconi, controlar a dor com farmacol�gicos n�o significa us�-los de forma indiscriminada, mas sim com orienta��o m�dica. “O uso de rem�dios sem orienta��o pode atrapalhar o funcionamento dos outros rem�dios que voc� utiliza e, consequentemente, o tratamento de outra doen�a. Pior: automedicar-se pode causar a cronifica��o da dor.”
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