Gordura nos músculos

A gen�tica n�o pode ser descartada, mas a falta de exerc�cios f�sicos e uma dieta rica em gorduras s�o as principais causas da complica��o

AFP PHOTO/RONALDO SCHEMIDT
 
O �ndice de massa corporal (IMC) n�o mostra com precis�o a composi��o corp�rea de um indiv�duo, e h� o risco de essa lacuna esconder algumas patologias. Para jogar luz sobre essas amea�as invis�veis, cientistas da B�lgica sugerem o monitoramento do ac�mulo de gordura nos m�sculos. A proposta � detalhada em um artigo publicado recentemente na revista Radiology.
 
Segundo o trabalho, liderado pelo Instituto de Pesquisa Experimental e Cl�nica da Universidade Cat�lica de Lovania em Bruxelas, pessoas com IMCs semelhantes podem ter problemas de sa�de completamente distintos. Adultos com grande quantidade de gordura na musculatura, condi��o conhecida como mioesteatose, apresentam um risco ampliado de terem problemas graves de sa�de e morte. Apesar de o conhecido �ndice indicar sobrepeso, apenas exames de imagem revelam a variedade de locais onde existe excesso de c�lulas adiposas e, consequentemente, a ocorr�ncia de maior vulnerabilidade.
 
Gordura nos músculos

A gen�tica n�o pode ser descartada, mas a falta de exerc�cios f�sicos e uma dieta rica em gorduras s�o as principais causas da complica��o

AFP PHOTO/RONALDO SCHEMIDT
 
 
Segundo o autor principal do artigo, Maxime Nachit, a tomografia computadorizada e a resson�ncia magn�tica s�o consideradas padr�o ouro para avaliar a mioesteatose, mas seu diagn�stico enfrenta dificuldades. Enquanto os m�dicos focam no excesso de gordura visceral e no f�gado, chamado esteatose hep�tica, a mioesteatose silenciosamente coloca em xeque a vida de muitas pessoas. Geralmente, a complica��o � descoberta em pacientes que se submetem a exames para averiguar outras patologias.
 
Para avaliar a import�ncia desse monitoramento espec�fico, os cientistas analisaram tomografias computadorizadas abdominais feitas em adultos submetidos a exame de rotina para c�ncer colorretal entre 2004 e 2016. Ocorr�ncias de ataque card�aco, derrame, aneurisma e �bitos foram registradas durante os quase nove anos de acompanhamento.
 
Dos 8.982 pacientes, 507 morreram. O ac�mulo de gordura nos m�sculos foi notado em 55% dos falecidos e ligado a maior vulnerabilidade para problemas de sa�de graves. No per�odo do estudo, o risco absoluto de mortalidade em indiv�duos com mioesteatose foi de 15,5% — taxa maior que a ligada � obesidade (7,6%) e � esteatose hep�tica (8,5%). O risco de morte dos pacientes com ac�mulo de gordura nos m�sculos tamb�m foi equiparado ao associado ao tabagismo e ao diabetes tipo 2.
 
Anderson Belezia, radiologista do Hospital Anchieta de Bras�lia, explica que a mioesteatose pode ocorrer por diversos fatores, como patologias cr�nicas, quest�es gen�ticas e desuso da musculatura, que acomete pessoas acamadas ou sedent�rias. A principal causa da complica��o, por�m, � uma vida com alimenta��o desregrada e sem exerc�cios f�sicos.
 
Na avalia��o do especialista, n�o � poss�vel afirmar se, por si s�, a complica��o determina o risco de outras doen�as. "Mas existe essa rela��o entre ela e outras patologias, em especial as cardiovasculares. N�o sabemos se, de fato, � a gordura acumulada que causa um progn�stico pior ou se � um reflexo de outra fun��o", afirma.
 
Belezia acredita que a pesquisa belga permite que haja uma diferencia��o dos quadros cl�nicos, orientando os cuidados. "Para esse paciente que tem maior lipossubstitui��o (o ac�mulo de gordura nos m�sculos), a gente precisa ser mais agressivo no tratamento", ilustra. "Esse conhecimento tamb�m permite maior controle do que � feito, como prescrever uma dieta, uma rotina adequada, para diminuir a gordura e aumentar a massa muscular. Essa � a import�ncia do trabalho, validar esse tipo de informa��o como indicador e preditor de risco."
 
Os pesquisadores tamb�m observaram que a rela��o entre a mioesteatose e o aumento da mortalidade se deu independentemente do IMC ou do diagn�stico de obesidade. "Em outras palavras, isso significa que o ac�mulo de gordura nos m�sculos n�o � explicado apenas por ser mais velho ou ter excesso de gordura em outros locais do corpo. Aqui, mostramos que a mioesteatose � um indicador robusto do risco de mortalidade de um indiv�duo em um prazo relativamente curto", diz, em nota, Nachit.

Preven��o A expectativa do grupo � de que esse tipo de pesquisa contribua para grandes avan�os na sa�de. "Estamos testemunhando o surgimento da medicina personalizada, cujo objetivo � adequar o gerenciamento m�dico no n�vel individual com base em uma gama de informa��es, como gen�tica, hist�rico m�dico, caracter�sticas f�sicas, avalia��o molecular complexa e em grande escala", afirma Nachit.
 
Luciana Gusm�o, educadora f�sica e personal da Premiere Training Gym, em Bras�lia, lembra da import�ncia de incluir a alimenta��o saud�vel e as atividades f�sicas na gest�o dos cuidados com a sa�de. "Muitos problemas poderiam ser facilmente evitados se esse bin�mio fosse observado e colocado em pr�tica. A pesquisa e a sociedade m�dica buscam incentivar a popula��o a ter boas pr�ticas de vida saud�vel em uma tentativa incans�vel de evitar doen�as como infarto, diabetes, hipertens�o arterial, estresse, problemas articulares advindos da obesidade e cardiopatias. O que nos resta � refletir sobre a import�ncia desses costumes e coloc�-los em a��o", diz.
 
palavra de 
especialista
 
Paulo Gentil, professor de educa��o f�sica e doutor em ci�ncias da sa�de
 
Sinal de alerta
 
"Muitas vezes, a gente considera s� a gordura subcut�nea, mas o m�sculo tamb�m tem uma reserva, e v�rios estudos j� associaram que essa quantidade aumentada se relaciona ao risco de diabetes e de doen�as card�acas. O interessante desse estudo � que ele faz uma avalia��o dessa an�lise em rela��o ao risco de mortalidade e verifica que a quantidade de gordura dentro do m�sculo � um fator importante de eventos adversos. Seria interessante pensar nesse tipo de avalia��o e em interven��es para melhorar a qualidade do m�sculo. Ele ser grande ou pequeno n�o significa que seja funcional, porque as c�lulas musculares e de gordura liberam subst�ncias diferentes, com efeitos positivos e negativos. � importante entender se isso que foi encontrado � uma rela��o de causa ou de consequ�ncia. Se voc� � uma pessoa sedent�ria, que tem maus h�bitos em geral, isso vai acumular gordura no m�sculo e gerar consequ�ncias negativas para a sa�de ou pode ser que o ac�mulo gere esses problemas."
 
A prática de exercícios aeróbicos

A pr�tica de exerc�cios aer�bicos com fortalecimento muscular amplia os benef�cios

Angela Weiss/AFP
 
 
Prote��o contra gripe e pneumonia
 
aA lista de benef�cios das atividades f�sicas ganha, frequentemente, contribui��es de cientistas. Uma pesquisa publicada recentemente na revista “British Journal of Sports Medicine” e liderada por Bryant Webber, do Centro de Controle e Preven��o de Doen�as de Atlanta, nos EUA, mostra que os exerc�cios aer�bicos combinados com o fortalecimento muscular podem reduzir o risco de morte por gripe e pneumonia em at� 50%.
 
O estudo aponta que s� os treinos de c�rdio, como s�o popularmente conhecidos os aer�bicos, diminuem em at� 36% a mortalidade por doen�as que atingem o sistema respirat�rio. Para o trabalho, os cientistas analisaram dados de 577.909 adultos, participantes da pesquisa em sa�de National Health Interview Survey (NHIS), nos EUA, entre 1998 e 2018.
 
Segundo os autores, a an�lise dos dados indica que, para o efeito protetivo, os adultos devem realizar, no m�nimo, 150 minutos por semana de pr�ticas f�sicas aer�bicas moderadas ou 75 minutos de exerc�cios de intensidade forte. Tamb�m devem ser inclu�das atividades de fortalecimento muscular pelo menos duas vezes por semana.
 
"Os esfor�os para reduzir a mortalidade por influenza e pneumonia entre adultos podem se concentrar em diminuir a preval�ncia de inatividade aer�bica e em aumentar a preval�ncia de alcan�ar dois epis�dios por semana de atividade de fortalecimento muscular", indicam, em nota, os cientistas.

Metas semanais Os entrevistados responderam a perguntas sobre a frequ�ncia com que se dedicavam a atividades aer�bicas vigorosas, leves ou moderadas. Cada um foi categorizado conforme atingia metas semanais de treinos de c�rdio e fortalecimento muscular da seguinte forma: n�o chegou a nenhum dos dois objetivos, atingiu o n�vel de atividade aer�bica, alcan�ou o de fortalecimento muscular, e conquistou as duas metas. O grupo foi acompanhado por nove anos, per�odo em que 81.431 morreram, sendo 1.516 em decorr�ncia de gripe ou pneumonia.
 
Cerca de metade dos volunt�rios, 50,5%, n�o alcan�ou nenhum dos prop�sitos. Entre aqueles que conclu�ram os treinos de c�rdio, a taxa de mortalidade pelas doen�as foi reduzida em 36%. Quem conseguiu atingir as duas metas semanais de atividade f�sica apresentou uma redu��o de quase 50% do risco, quando comparados �queles que n�o atingiram nenhuma delas.
 
A atividade f�sica surtiu benef�cios at� mesmo quando realizada em per�odos abaixo do recomendado. No caso da pr�tica durante 10 a 149 minutos por semana, observou-se queda no risco de morte por gripe e pneumonia em 21%. De 150 a 300 minutos de pr�tica, em 41%.
 
"Embora o tempo de 10 a 150 minutos semanais seja muitas vezes rotulado como insuficiente porque fica abaixo da dura��o recomendada, ele pode conferir benef�cios � sa�de em rela��o ao sedentarismo", enfatizam os pesquisadores. A equipe tamb�m ressalta que se trata de um estudo observacional. Com seus dados, n�o se pode estabelecer uma rela��o de causa e efeito entre a pr�tica de exerc�cios e queda da mortalidade.