A man undergoes a rapid VIH test during the Gay Pride Parade in Santiago on June 23, 2018. The initiative aims to encourage prevention, as there is concern about the alarming increase of new HIV infections (Acquired Immunodeficiency Virus) in the country. / AFP / CLAUDIO REYES
Mais uma pessoa teve remiss�o do HIV ap�s ser submetida a um transplante de medula. O chamado paciente de Genebra mostra sinais de remiss�o do v�rus a longo prazo e � o sexto relato do tipo. Desta vez, por�m, a cura funcional se deu por um outro m�todo. A medula �ssea que ele recebeu n�o tinha uma muta��o conhecida por bloquear a entrada do v�rus nas c�lulas humanas. Esse resultado, avaliam especialistas, abre novas possibilidades de pesquisa e futuras interven��es m�dicas.
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Com o paciente de Genebra, a situa��o � diferente. Ele vive com HIV desde o in�cio da d�cada de 1990 e sempre fez tratamento antirretroviral. Em 2018, para tratar uma forma de leucemia especialmente agressiva, foi submetido a um transplante de c�lulas-tronco. Por�m, o procedimento veio de um doador que n�o portava a famosa muta��o CCR5. Um m�s ap�s o transplante, suas c�lulas sangu�neas haviam sido completamente substitu�das por c�lulas do doador, e houve uma grande diminui��o de c�lulas portadoras do HIV.
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Vinte meses depois de ter interrompido o tratamento antirretroviral, o HIV continua indetect�vel em seu corpo. O paciente � acompanhado pelos Hospitais Universit�rios de Genebra, em colabora��o com o Instituto Pasteur, o Instituto Cochin e o cons�rcio internacional IciStem. O paciente de Genebra, que n�o teve a identidade revelada, declarou que o que est� acontecendo em sua vida "� magn�fico, m�gico". "Estamos olhando para o futuro", completou.
Promissor
As equipes cient�ficas n�o descartam que o v�rus persista nele, mas consideram que se trata de uma nova remiss�o da infec��o pelo HIV. Dois casos anteriores, conhecidos como os pacientes de Boston, tamb�m receberam c�lulas-tronco sem a muta��o CCR5 nos transplantes de medula. Por�m, em ambos os casos, o HIV retornou alguns meses depois que o tratamento com antirretrovirais foi interrompido.
Asier Saez-Cirion, do Instituto Pasteur, da Fran�a, explica que, quando n�o h� sinais do v�rus depois de 12 meses, "a probabilidade de que ele seja indetect�vel no futuro aumenta significativamente". Segundo o cientista, que apresentou o caso do paciente de Genebra em Brisbane, h� algumas poss�veis explica��es para a nova cura funcional. "Nesse caso espec�fico, talvez, o transplante eliminou todas as c�lulas infectadas sem necessidade da famosa muta��o. Ou, talvez, o tratamento imunossupressor, solicitado depois do transplante, teve um papel", afirma.
Para Sharon Lewin, presidente da Sociedade Internacional de Aids, o novo caso � "promissor". "Por�m, aprendemos com os pacientes de Boston que apenas uma part�cula do v�rus pode provocar um rebote do HIV", pondera. Segundo ela, esse homem, em particular, dever� ser monitorado rigorosamente durante os pr�ximos meses e at� anos.
Obst�culos
Werciley J�nior, infectologista e chefe da Comiss�o de Controle de Infec��o do Hospital Santa L�cia, em Bras�lia, explica que, em um transplante de medula, o sistema imunol�gico do paciente � destru�do, assim como os chamados santu�rios do v�rus. "Destruir essas reservas de v�rus � o que permite que n�o haja mais o HIV. Ou seja, voc� elimina totalmente os v�rus e a sua possibilidade de t�-los escondido em algum lugar no corpo."
Apesar de os casos de remiss�o a longo prazo gerarem esperan�as para uma poss�vel cura para infec��o pelo HIV, o transplante de medula �ssea n�o � uma op��o para as milh�es de pessoas que vivem com o v�rus. O procedimento � considerado agressivo e arriscado pela comunidade de sa�de.
"Para receber um transplante de medula �ssea, o paciente precisa ser submetido a medica��es que acabam com a medula dele. � um tratamento arriscado. Isso n�o pode ficar sendo repetido nos nossos pacientes soropositivos. Acabar com a medula �ssea significa que ele pode adquirir outras infec��es", explica Eliana Bicudo, infectologista da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal.
Saez-Cirion afirma que, embora o protocolo n�o seja transpon�vel em larga escala devido a sua agressividade, "esse novo caso traz elementos inesperados sobre mecanismos de elimina��o e controle dos reservat�rios virais que ser�o importantes para o desenvolvimento de tratamentos curativos para o HIV." Ainda segundo o cientista, os resultados obtidos tamb�m motivam os cientistas a continuarem estudando as c�lulas imunes inatas, que atuam na linha de frente da defesa contra v�rios pat�genos.
Palavra de especialista: Um caminho de tratamento
"Infelizmente, n�o temos medula nem mesmo para quem precisa de transplante por conta de outras doen�as. Ent�o, essa n�o poder� ser uma terap�utica para qualquer paciente, considerando a quantidade de pessoas hoje que s�o portadoras do v�rus HIV. No entanto, as medica��es que ele usou, ou que ele usa, para diminuir a rejei��o da nova medula podem ser um caminho para o desenvolvimento de tratamentos e fazer com que chegue a um per�odo de remiss�o, j� que a gente n�o considera que esse paciente esteja totalmente curado. Ele precisa de observa��o."
Eliana Bicudo, infectologista da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal
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