A psicopedagoga Helen Irlen

A psicopedagoga Helen Irlen foi quem descobriu a s�ndrome que leva seu sobrenome

Arquivo pessoal


A maioria dos pais e milhares de professores n�o sabe, mas uma a cada sete crian�as no mundo tem dificuldade para ler ou aprender. O grande problema nesse caso � que essa crian�a n�o sabe que � anormal as letras tremerem ou emba�arem, ter fotofobia, coceira nos olhos e ter dificuldades em esportes com bola. Como a condi��o � comum a essa crian�a, ela n�o comenta e nem reclama com os pais ou professores. Ela acaba se tornando um estudante com dificuldade para manter a aten��o (foco), tem frequentes dores de cabe�a ou enxaqueca, e cansa�o. Os sintomas s�o comuns entre pessoas com problemas de processamento visual. 
 
A verdade � que a s�ndrome de Irlen, tamb�m chamada de s�ndrome da sensibilidade escot�pica, ainda � desconhecida para grande parte das pessoas. A estimativa � que aproximadamente 14% da popula��o mundial apresenta essa condi��o, sendo que muitas pessoas nem t�m conhecimento do problema. A oftalmologista M�rcia Reis Guimar�es, diretora da Funda��o de Olhos, mantida pelo Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimar�es, explica que a origem � heredit�ria, surgindo a partir dos genes de um ou ambos os pais, em variados graus de intensidade, podendo evoluir ao longo dos anos. 
 
Ana Carolina do Espírito Santo foi diagnosticada com a doença em 2020. Tatiana, mãe dela, não compreendia como a filha, então com 12 anos, não conseguia ler

Ana Carolina do Esp�rito Santo foi diagnosticada com a doen�a em 2020. Tatiana, m�e dela, n�o compreendia como a filha, ent�o com 12 anos, n�o conseguia ler

Arquivo pessoal
 
 
A especialista conta que � por esse motivo que centenas de indiv�duos n�o sabem que s�o portadores, at� come�arem a sentir os efeitos, j� na fase adulta. Outros apresentam sintomas ainda muito novos, mas n�o conhecem outra realidade, ou seja, acreditam que seja algo corriqueiro.
 
 
M�rcia Guimar�es trabalha com o diagn�stico da doen�a e tamb�m capacita pais e professores em cursos, envolvendo a chamada neurovis�o. A descoberta ocorreu nos anos 1980, quando a psicopedagoga Helen Irlen identificou a rela��o do c�rebro e sua capacidade de processamento, causando uma altera��o na vis�o que provoca sensibilidade extrema a alguns tipos de ondas de luz e distor��es, � medida que se tenta, mas sequer consegue focar as palavras.
 
Milhares de crianças têm dificuldade com a leitura devido à síndrome

Milhares de crian�as t�m dificuldade com a leitura devido � s�ndrome

Freepik
 
 
Segundo a oftalmologista, as reclama��es mais comuns incluem a fotofobia (inc�modo devido � claridade, como a emitida pela luz branca, sendo considerada prejudicial, al�m do cansa�o visual); enjoos; ard�ncia ocular e altera��es na orienta��o visuoespacial. “Os sintomas provocam dores nos olhos e na cabe�a, al�m de ansiedade e irrita��o, principalmente no fim do dia, em decorr�ncia do esfor�o acumulado para conseguir finalizar as atividades e obriga��es cotidianas”, alerta.

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Os pais e professores devem ter aten��o, pois os principais efeitos podem ser percebidos ainda na fase infantil, especialmente quando a crian�a est� em processo de alfabetiza��o e demonstra dificuldade para ler ou compreender o que est� escrito, comprometendo o aprendizado a m�dio e longo prazo. 
 

"Os sintomas provocam dores nos olhos e na cabe�a, al�m de ansiedade e irrita��o, principalmente no fim do dia"

M�rcia Guimar�es, oftalmologista

 
 
Os sintomas pioram � medida que os anos passam e a quantidade de conte�do escolar fica maior. M�rcia esclarece que as atividades estudantis, a cada ano, requerem mais tempo para execu��o e, assim, as dores se tornam mais frequentes. Visivelmente, o jovem n�o consegue acompanhar o restante da turma, diminuindo o interesse pelos estudos e interferindo tamb�m no emocional e na autoestima.

V�RIOS TRATAMENTOS � o caso da estudante Ana Carolina do Esp�rito Santo, de 15 anos. A m�e dela, a enfermeira Tatiana da Silva Monteiro, conta que desde 2015 a filha passou por v�rios tratamentos, at� que, finalmente, teve sucesso em 2020. 
 
A estudante tinha muitas dificuldades na escola  e Tatiana n�o entendia como era poss�vel uma adolescente, na �poca com 12 anos, n�o saber ler. A m�e lembra que a condi��o, ainda desconhecida, afetava o desempenho escolar, comprometia a pr�tica de esportes e as oportunidades para fazer amigos, deixando a adolescente solit�ria e insegura.
 
Muitos casos, inclusive, s�o descobertos no conv�vio e comportamento em sala de aula, quando os professores percebem as dificuldades do aluno e comunicam aos pais para procurarem ajuda especializada, visando identificar o problema. No entanto, Tatiana disse que ela mesmo identificou o problema, quando trabalhou em um hospital e tomou conhecimento da s�ndrome.
 
Geralmente, o diagn�stico � multiprofissional. Muitas vezes, come�a em sala de aula, com os professores e, segue com outros profissionais, como psic�logos e oftalmologistas, capacitados para identificar a causa com testes, como o screening ou rastreamento, ou pelo protocolo padr�o, chamado de m�todo de Irlen.
 
Ana Carolina usa �culos especiais desde o diagn�stico. Apesar da ansiedade por r�pidos efeitos no in�cio, a t�cnica, com o tempo, propicia a melhora no desenvolvimento escolar, permite maior facilidade para estudar, assim como a pr�tica esportiva  e melhor conv�vio social para fazer amizades. Tatiana  afirma que o diagn�stico e tratamento garantiram  � sua filha uma vida saud�vel mental e fisicamente. “Meus sentimentos s� poderiam ser de felicidade e gratid�o”, avalia.