Alzheimer
E este n�o � um cen�rio incomum. O Alzheimer � o principal tipo de dem�ncia, correspondendo a 60% a 80% dos casos diagnosticados, e mais de 10 milh�es de novos casos s�o identificados a cada ano em todo o mundo. Nesta quinta (21), � celebrado o Dia Mundial de Conscientiza��o da Doen�a de Alzheimer, para fortalecer a divulga��o de informa��es sobre a doen�a para pacientes e seus familiares.
Al�m dos problemas relacionados ao diagn�stico, a oferta de terapias hoje dispon�veis pelo SUS se concentra em medicamentos voltados para o controle dos sintomas, mas que n�o atuam para conter a progress�o da doen�a.
Recentemente, duas novas drogas aprovadas pela FDA, ag�ncia que regulamenta e fiscaliza alimentos e rem�dios nos EUA, trouxeram esperan�a para pacientes e familiares de pessoas com Alzheimer. As drogas lecanumab (comercializado pelo nome Leqembi, da Biogen) e donanemabe, da farmac�utica americana Eli Lilly, atuam reduzindo a progress�o da doen�a, com esta �ltima apresentando at� 60% de redu��o do decl�nio cognitivo em pacientes com algum sintoma em compara��o ao grupo controle.
M�dicos e especialistas alertam, por�m, que esses tratamentos n�o t�m indica��o para todos os casos de Alzheimer, s�o apenas para aqueles detectados na fase inicial com sintomas leves da doen�a.
Al�m disso, ambos ainda est�o indispon�veis no Brasil. A Eli Lilly ainda n�o pediu o registro do seu f�rmaco na Anvisa (Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria). At� o come�o deste semestre, tamb�m n�o havia prazo de quando o lecanemab poderia chegar ao pa�s.
Por enquanto, os medicamentos dispon�veis no pa�s para tratamento de Alzheimer s�o os anticolinester�sicos (donepezil, galantamina e rivastigmina) e a memantina, voltados para a redu��o dos sintomas.
"N�o s�o drogas modificadoras do curso da doen�a, nem de Alzheimer nem de outras dem�ncias, e o fato de serem as mesmas utilizadas h� 20 anos no SUS � porque por muito tempo foram as �nicas drogas dispon�veis", explica Claudia Suemoto, professora associada de geriatria da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do Banco de Enc�falos da universidade.
Comparadas �s terapias mais recentes, essas drogas t�m atua��o considerada modesta. "A gente sabe que os efeitos nos pacientes a longo prazo s�o menores do que [os efeitos das] drogas novas, e n�o s�o todos os casos que v�o ter uma resposta a esses medicamentos", afirma.
Suemoto explica tamb�m que as diferentes fases de Alzheimer t�m sintomas distintos, e isso vai definir o tipo de terap�utica envolvida. Segundo ela, os sintomas se dividem em cognitivos e comportamentais, e as fases, em leve, moderada e grave (recentemente, pesquisadores sugeriram alterar a classifica��o de fases para est�gios, como � hoje para c�ncer).
Entre os sintomas da fase leve est�o perda de mem�ria recente e mudan�as comportamentais, como apatia. Na moderada, o decl�nio cognitivo afeta a funcionalidade do paciente e j� exige supervis�o de outra pessoa.
"J� na fase grave, a perda de mem�ria � tanto recente quanto tardia, o paciente n�o consegue ter julgamento, tem a perda de funcionalidade mais acentuada, ent�o dificuldade para se alimentar e ir ao banheiro sozinho, e a� os sintomas comportamentais principais s�o agressividade, alucina��es e tamb�m n�o conseguir mais falar ou andar", diz a docente.
Justamente por considerar essa gama de diferentes sintomas, os cuidados do paciente com Alzheimer envolvem mais do que s� a terap�utica medicamentosa, explica a enfermeira Aline Grat�o, coordenadora do Ambulat�rio de Gerontologia do Hospital Universit�rio da UFScar (Universidade Federal de S�o Carlos).
"Quando falamos de melhora do paciente, falamos de uma equipe multidisciplinar, que vai envolver geriatras, neurologistas, enfermeiros, nutricionistas, psic�logos, enfim, um grupo de profissionais que em conjunto vai ajudar aquele familiar. E o que vemos � que, quando h� esse apoio, o pr�prio cuidador relata como isso ajuda no entendimento e na compreens�o daquela condi��o", afirma.
A compreens�o de que aquele comportamento agressivo ou as atitudes relacionadas � perda de mem�ria n�o s�o "teimosia" do paciente tamb�m ajuda no acolhimento. "Existe um estigma muito forte do Alzheimer por falta de conhecimento. Quando se tem a compreens�o, isso muda todo o cen�rio e, junto com a equipe multiprofissional, esse cuidador consegue enfrentar melhor a situa��o", reflete.
DIAGN�STICO TARDIO
Uma queixa dos estudiosos do tema � que a confirma��o do diagn�stico de Alzheimer muitas vezes se d� em uma fase j� tardia da doen�a.
"� n�tido como existe uma melhora nos sintomas quando o tratamento come�a ainda na fase inicial, enquanto o paciente que n�o come�ou o tratamento no in�cio tem uma perda de fun��es muito maior", explica a geriatra e presidente da regional S�o Paulo da Abraz (Associa��o Brasileira de Alzheimer), Celene Pinheiro.
Foi o caso da Marcos Vergani. O diagn�stico da m�e veio quando j� estava em uma fase moderada. "Ela teve Covid ainda em 2021. Depois que ela se recuperou, queixou-se de perda de mem�ria. Eu a levei ao psiquiatra, que fez os exames e confirmou o Alzheimer."
O apoio de Marcos para cuidar da m�e veio tanto dos especialistas da Abraz quanto de colegas de trabalho, que compartilham experi�ncias vividas no cuidado de familiares com dem�ncia.
De acordo com Pinheiro, para cada paciente com dem�ncia s�o necess�rios tr�s cuidadores. E os custos para a sociedade s�o enormes. "A gente precisa considerar que 80% desses custos s�o de retirar um cuidador, uma pessoa economicamente ativa, jovem, do mercado de trabalho para se dedicar integralmente ao paciente, porque � muito carente a oferta dessa rede no SUS."
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