No experimento, 90% dos animais geneticamente modificados n�o se infectaram quando expostos ao causador da influenza A
Pesquisadores das universidades de Edimburgo, na Esc�cia, e de Cambridge, na Inglaterra, criaram, de maneira in�dita, galinhas geneticamente modificadas imunes � gripe avi�ria. As aves com pequenas altera��es em um gene se mostraram altamente resistentes � doen�a, com nove em cada 10 n�o apresentando sinais de infec��o quando expostas ao v�rus. Segundo a pesquisa, divulgada nesta ter�a-feira (10/10), na revista Nature, o estudo � um passo importante na gera��o de galinhas resistentes � influenza avi�ria. No entanto, ainda h� muito trabalho a ser feito para que esses animais fiquem completamente resistentes ao pat�geno da influenza A, enfatizam os autores.
No entanto, quando submetidas a uma dose muito maior, de um milh�o de unidades infecciosas, cinco das 10 aves foram infectadas, embora com uma carga viral muito inferior � observada nos animais do grupo de controle. As aves editadas no experimento n�o apresentaram efeitos adversos � sa�de ou � produtividade da postura de ovos durante os mais de dois anos em que foram monitoradas. "A produ��o de galinhas transg�nicas que inibem o v�rus da influenza avi�ria (IAV) impediu a transmiss�o viral para aves vizinhas foi a primeira demonstra��o de que a engenharia gen�tica poderia ser usada para introduzir resist�ncia a doen�as infecciosas em galinhas", enfatizam, no estudo, os autores.
Igor Marinho, infectologista do Hospital das Cl�nicas da Universidade de S�o Paulo (USP), explica que o v�rus � transmitido das aves para humanos, causando sintomas semelhantes a uma gripe, mas com risco de agravamento. "Pode causar uma s�ndrome gripal que leve a coriza, cefaleia e febre. Mas, em alguns casos, pode evoluir, causando sintomas mais graves, como falta de ar e at� uma insufici�ncia respirat�ria grave que pode estar relacionada ao �bito", detalha.
Conforme o especialista, a taxa de letalidade � relativamente baixa. Por�m, � preciso ficar de olho no agente infeccioso, alerta Marinho. "J� tivemos algumas crises, algumas epidemias relacionadas � gripe avi�ria com uma taxa de letalidade que chegou a ser pr�xima de 10%, 20% dos pacientes contaminados. � uma doen�a muito contagiosa uma vez que tem muta��o do v�rus."
De acordo com o artigo, qualquer infec��o representa um risco devido ao potencial de replica��o do micro-organismo. Quando testado nas galinhas geneticamente editadas, o pat�geno adquiriu muta��es que o ajudaram a utilizar duas prote�nas para se replicar. Dessa forma, os autores sugerem que a edi��o e a elimina��o adicionais de outros genes associados, o ANP32B e o ANP32E, tamb�m impediriam a replica��o do v�rus.
Em uma segunda etapa do experimento, eles editaram os tr�s genes em c�lulas de galinha cultivadas em laborat�rio, e a replica��o do v�rus foi completamente bloqueada. Para os cientistas, isso sugere que a edi��o gen�mica de m�ltiplos genes pode ser necess�ria para criar animais completamente resistentes ao v�rus da influenza A. A equipe planeja testar essa abordagem em galinhas vivas.
Conforme os autores, essa poder� ser uma alternativa vi�vel para o combate � doen�a. A gripe avi�ria est� amplamente dispersa na �sia, na Europa, na �frica e nas Am�ricas, representando uma amea�a para as esp�cies de aves selvagens, custos econ�micos para os agricultores e um risco para a sa�de humana. A vacina��o das aves contra a doen�a n�o � vi�vel, segundo especialistas.
Monitoramento
Thiago Borba, veterin�rio em Bras�lia, explica que o controle da doen�a � feito por meio do monitoramento do contato com aves silvestres, da higieniza��o do ambiente e do controle do tr�nsito de equipamentos e pessoas no ambiente em que h� esses animais, como granjas e avi�rios. Para o profissional, a tecnologia apresentada na Nature dever� ajudar tamb�m no cuidado de outros bichos. "Com o avan�o gen�tico, poderemos produzir animais mais resistentes de qualquer esp�cie, com o intuito de garantir a produ��o de qualidade e resistente a muitas cepas j� conhecidas", cogita.
Segundo o infectologista Andr� Cortez, os v�rus da gripe avi�ria s�o compar�veis aos que causaram a gripe espanhola no in�cio do s�culo 20, pois a doen�a provoca inflama��o aguda nas vias a�reas superiores, podendo, em alguns casos, levar a problemas graves no pulm�o e estar ligada a eventos cardiovasculares, como infarto. "Essa � uma raz�o importante para a vacina��o em idosos", enfatiza.
Entre outras preocupa��es do especialista, est� o potencial de causar pandemias devido a poss�veis muta��es. "Novas varia��es do v�rus podem ter maior potencial patog�nico ou causar pandemias. O desenvolvimento de aves geneticamente modificadas pode ser uma inova��o tecnol�gica, pois reduz o risco de transmiss�o de v�rus respirat�rios dos animais para humanos e as perdas na produ��o aliment�cia. Por�m, devido � alta capacidade de muta��o dos v�rus, � vital o monitoramento epidemiol�gico molecular, visando a preven��o de novos surtos."
Andr� Bon, infectologista do Hospital Bras�lia, da Rede Dasa, pontua que conseguir evitar a doen�a nos animais � uma boa forma de evitar crises de sa�de humana. "Desenvolver maneiras de ter animais criados em cativeiros e que n�o sejam suscet�veis a esses v�rus torna menor a probabilidade desse v�rus circular e, eventualmente, passar das aves para os seres humanos, levando a uma nova grande pandemia. � por isso que essa nova abordagem � interessante, para reduzir o risco de surgimento de uma nova pandemia de H1N1."
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