Ave

Ave

Chaideer Mahyuddin/AFP

Depois da detec��o da contamina��o de duas aves silvestres pelo v�rus causador da gripe avi�ria, em Marata�zes e Vit�ria, no Esp�rito Santo, anunciada em tom de alerta pelo Minist�rio da Agricultura e Pecu�ria (Mapa), na �ltima segunda-feira (15/5), o Minist�rio da Sa�de notifica suspeita da doen�a em um ser humano na capital capixaba. O caso foi observado nessa quarta-feira (17/5) e a pasta divulgou a informa��o por meio de comunicado.

O paciente, que est� isolado e acompanhado por equipes de sa�de da cidade, � um homem de 61 anos que trabalha em um parque onde est� uma ave que testou positivo para a doen�a. Ele manifesta sintomas gripais leves. Ainda assim, trata-se de uma suspeita - n�o h� casos confirmados em humanos no Brasil.

Conforme o comunicado oficial do Minist�rio, "a amostra do paciente suspeito e de outras 32 pessoas que tamb�m trabalham no parque est�o em an�lise pelo Laborat�rio Central de Sa�de P�blica (Lacen) do Esp�rito Santo. Ap�s a an�lise, as amostras tamb�m ser�o enviadas para a Fiocruz, que � o laborat�rio de refer�ncia para o Estado".

A influenza avi�ria � transmitida pelo contato com aves doentes, vivas ou mortas. Diante das ocorr�ncias em alguns pa�ses, j� � de conhecimento que o v�rus n�o infecta os seres humanos de maneira f�cil e, mesmo quando isso acontece, normalmente a transmiss�o entre pessoas n�o � sustentada.

O assunto est� na pauta do dia depois da informa��o do Mapa sobre a contamina��o de duas aves da esp�cie Thalasseus acuflavidus, de nome popular trinta-r�is-de-bando, no Esp�rito Santo, as primeiras ocorr�ncias no Brasil. Mesmo com o alerta, s�o aves silvestres e n�o animais criados para produ��o industrial de carne e ovos.

A gripe avi�ria � uma doen�a viral altamente contagiosa que afeta, principalmente, aves silvestres e dom�sticas. Atualmente, o mundo tem passado por uma pandemia da doen�a. A maioria dos casos est� relacionada ao contato de aves silvestres migrat�rias com aves de subsist�ncia, de produ��o ou aves silvestres locais.

Leia tamb�m: Abortos espont�neos: estuda indica exames de sangue para esclarecer perdas

A gripe avi�ria tem v�rios subtipos de v�rus - H5N1, H5N8, H7N9 ou H9N2. O H3N8 � o mais recente e foi o causador da morte de uma mulher de 56 anos na China. O pediatra, epidemiologista e mestre em medicina tropical, professor em�rito da Faculdade de Ci�ncias M�dicas de Minas Gerais e assessor cient�fico do Hermes Pardini, Jos� Geraldo Leite Ribeiro explica que "esse � o �ltimo tipo de preocupa��o, mas eventualmente outros influenza A de origem avi�ria chegaram a atingir humanos, mas nunca com transmiss�o interhumana. E essa � a grande preocupa��o e motivo de vigil�ncia epidemiol�gica da Organiza��o Mundial da S�ude (OMS). Claro, falando de sa�de humana, porque tamb�m h� um potencial de impacto econ�mico destes bichos, principalmente nos criadores de aves, muito importante".

Segundo o especialista, os v�rus influenza infectam todos os animais de interesse de produ��o, como aves, bovinos, caprinos, porcos, mas o maior risco de uma ponte direta de um v�rus desses animais para o homem � realmente em rela��o � influenza avi�ria. Jos� Geraldo esclarece que, eventualmente, ocorrem �bitos causados por v�rus da influenza avi�ria em humanos, esporadicamente. "Mas nenhum destes v�rus adquiriu ainda a capacidade de se transmitir entre os humanos. Geralmente, os que t�m adoecido s�o pessoas que cuidam diretamente de aves, s�o infectados e t�m doen�a grave", informa. O epidemiologista destaca que, embora com sintomas semelhantes � influenza, os quadros causados por esses v�rus de origem avi�ria costumam ser mais graves, "com percentual de �bito maior do que os relacionados aos v�rus influenza do homem".

O v�rus, que tamb�m j� foi detectado em popula��es de cavalos e focas, circula desde de 2022 e o motivo da aten��o � sobre a possibilidade de se espalhar pelo mundo. Os sintomas s�o basicamente os mesmos de uma gripe comum, como tosse, dor de garganta, secre��o nasal, dor abdominal, mal-estar e febre. "A diferen�a nos casos de H3N8 � que a progress�o da doen�a � muito r�pida e com complica��es mais graves, como pneumonia grave e insufici�ncia respirat�ria. Ent�o, o in�cio dos sintomas � semelhante, o que diferencia � a intensidade e a progress�o da doen�a que � extremamente r�pida porque o v�rus n�o est� acostumado a infectar seres humanos", aponta o infectologista e coordenador da Comiss�o de Controle de Infec��o Hospitalar do Hospital Vila da Serra, Cristiano Galv�o de Melo.

Cristiano destaca ainda que � um v�rus que ainda n�o preocupa e n�o coloca a popula��o em alerta, justamente porque n�o tem a capacidade de infec��o em humanos e a transmiss�o � muito dif�cil. "O v�rus n�o tem capacidade de infectar um ser humano em contato com outro ser humano. Da� n�o haver motivo de preocupa��o de infec��o entre as pessoas. E, mesmo que ocorra essa transmiss�o, o v�rus ter� dificuldade em provocar doen�a em seres humanos. Ent�o, no momento, n�o tem nenhum alarme, risco, nada que possamos nos preocupar com dissemina��o como ocorreu com a COVID-19", pondera.

J� existe um plano de conting�ncia com estrat�gias para situa��es em que n�o h� casos e tamb�m para poss�veis registros de surtos de gripe avi�ria, pontua o especialista em doen�as infecciosas e parasit�rias e professor de medicina veterin�ria do Centro Universit�rio de Bras�lia (CEUB), Lucas Edel. A��es de vigil�ncia ativa em aves, vacina��o de aves, abate preventivo de aves infectadas e medidas de biosseguran�a nas granjas s�o algumas das medidas utilizadas para controlar e prevenir a doen�a em humanos. "A Influenza, de uma forma geral, costuma se manifestar de forma mais grave em pessoas com algum tipo de imunossupress�o. Idosos e crian�as, que t�m sistemas imunol�gicos em decl�nio e em forma��o, respectivamente, podem ser considerados grupos de maior risco", acrescenta.

Sobre as precau��es a serem tomadas em rela��o � doen�a, Lucas refor�a que, no momento, n�o h� recomenda��es diretas para a popula��o, mas sim para criadores ou pessoas que trabalham diretamente com aves. "� importante seguir medidas de biosseguran�a, como lavar bem as m�os ap�s o contato com aves, evitar o contato com aves doentes, utilizar equipamentos de prote��o adequados e garantir a limpeza e desinfec��o de ambientes e equipamentos relacionados � cria��o de aves."

E, sobre como a gripe avi�ria pode afetar a ind�stria av�cola e a economia em geral, o especialista refor�a que o impacto negativo da detec��o de influenza avi�ria � que pode gerar uma condi��o no mundo de falta de vigil�ncia e controle dessa doen�a, o que pode ter repercuss�es significativas na economia regional, nacional e internacional. "Por exemplo, se for detectada influenza avi�ria em uma granja com duas mil ou cinco mil aves, todas as aves precisam ser abatidas, o que pode causar um peso econ�mico consider�vel. Al�m disso, a detec��o de influenza avi�ria no Brasil, sendo um dos principais exportadores de carne de aves do mundo, pode levar � suspens�o das exporta��es dessa carne", diz Lucas.

O v�rus H3N8 foi detectato pela primeira vez na Am�rica do Norte e era considerado, at� agora, como suscet�vel de ser transmitido para cavalos, c�es e le�es marinhos e, principalmente, em p�ssaros. Em abril e maio de 2022, foi confirmada sua presen�a em humanos na China, at� ent�o sem causar mortes. Em mar�o de 2023, uma chinesa foi hospitalizada com pneumonia grave e faleceu v�tima da gripe avi�ria, segundo confirmou a OMS. "A paciente tinha m�ltiplas condi��es subjacentes" e "antecedentes de exposi��o a aves de cria��o vivas antes do aparecimento da doen�a e antecedentes de presen�a de aves selvagens ao redor de sua casa", disse a entidade em comunicado. Recentemente, tamb�m foram confirmados focos em aves silvestres e dom�sticas em pa�ses como Argentina, Bol�via, Uruguai, Col�mbia, Venezuela, Chile e Equador.