Coleção de objetos diversos

Cole��o de objetos diversos

(Liar Liur/Unsplash)

O h�bito de colecionar coisas, mesmo que n�o tenham qualquer utilidade � primeira vista, � comum entre crian�as e adultos, tanto em sociedades modernas quanto em primitivas. Tal h�bito tamb�m � descrito em outras esp�cies. O costume de estocar alimento � descrito em in�meras esp�cies, mas n�o � restrito � comida. Alguns tipos de p�ssaros costumam juntar objetos met�licos e coloridos e hamsters preferem colecionar contas de vidro a juntar comida.

A estocagem de alimento faz todo o sentido do ponto de vista de adapta��o das esp�cies como forma de prepara��o para tempos de vacas magras. Entre os humanos, o comportamento de colecionador pode representar esse mesmo instinto arcaico, e � dif�cil pensar em algu�m que nunca tenha colecionado nada durante a vida. As cole��es podem ser justificadas pelo valor est�tico e emocional dos objetos, e at� mesmo pelo material, como � o caso de obras de arte.

 

O fato � que, em algumas situa��es, o comportamento de colecionador n�o traz nenhuma dessas justificativas anteriores e pode representar um sintoma patol�gico. O indiv�duo coleciona exageradamente, de forma indiscriminada, e tem muita dificuldade de se desfazer das “quinquilharias”.

Nesses casos, � mais comum a cole��o de objetos que podem ser facilmente obtidos e, ap�s a aquisi��o, eles s�o deixados de lado. O interesse pelos objetos volta a acontecer quando outra pessoa amea�a dar um fim na cole��o. O ato de colecionar � um fim em si mesmo, comportamento semelhante ao dos roedores, que acumulam por acumular , independentemente se suas reservas est�o em alta ou em baixa.

V�rias doen�as neuropsiqui�tricas podem estar associadas a um comportamento de colecionador patol�gico, como � o caso do transtorno obsessivo-compulsivo, autismo, esquizofrenia, s�ndrome de Tourette e diferentes tipos de dem�ncia. Estudos recentes t�m demonstrado que les�es ou altera��es no funcionamento de regi�es frontais do c�rebro, especialmente do lado direito, est�o associadas ao comportamento de colecionador patol�gico.

� como se essa regi�o do c�rebro funcionasse como freio para o instinto arcaico de acumular por acumular, que tem origem em outras regi�es do c�rebro, como o sistema l�mbico, um dos maestros de nosso comportamento. Talvez as crian�as ainda n�o tenham esse freio bem desenvolvido, pois se dependesse delas, elas teriam todos os modelos de brinquedos dispon�veis no mercado. Consumismo pode n�o ser o melhor nome para isso.


Em um extremo podemos imaginar o colecionador comum e “saud�vel”, que tem toda a obra de seu escritor predileto, e j� leu boa parte dos livros que comprou. No outro extremo, est� o indiv�duo que come�a a guardar em casa quilos e quilos de objetos sem utilidade que deveriam estar num ferro velho. Entre os dois extremos, estariam aquelas pessoas que leem ou consultam apenas uma m�sera parte dos livros que compra, mulheres que t�m um quarto em casa s� para guardar a cole��o de centenas de sapatos, pessoas que j� t�m uma respeit�vel “cole��o” de dinheiro, suficiente para sustentar tr�s gera��es, mas continuam a trabalhar 18 horas por dia, tamb�m pelo prazer de ver sua cole��o de milh�es aumentar.

*Ricardo Afonso Teixeira � doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do C�rebro de Bras�lia