Correram para o Gin�sio do Horto
A obsess�o por destruir o Cruzeiro n�o come�ou com Alexandre Kalil e o seu 6 a 1. Ela vem de longa data. Talvez dos tempos em que o velho estadinho do Barro Preto quase foi incendiado, em 1942. Ou da frustra��o por assistirem ao Mineir�o se tornar o palco azul de Tost�o, Dirceu Lopes e Alex. Desconfio tamb�m ter surgido da inveja provocada pelas academias montadas pelos geniais Fel�cio Brandi e Carmine Furletti. Qui��, o conjunto da obra, que, em t�o pouco tempo, fez do Cruzeiro/Palestra o �nico gigante de Minas frente aos clubes da elite historicamente beneficiados por pol�ticos, �rbitros e federa��es.
A irrespons�vel e pat�tica tentativa de transforma o jogo-treino do pr�ximo s�bado numa guerra faz lembrar um cap�tulo importante dessa hist�ria, escrito em 1981. Naquele ano, por decis�o democr�tica da maioria dos clubes mineiros, as rendas dos jogos da Country Cup seriam dos mandantes. Mas no dia 28 de junho, no primeiro embate do certame entre os l�deres, o Atl�tico de Lourdes tentou prejudicar o “dono da casa” Cruzeiro. Lan�ou a campo o time reserva s� para a arrecada��o ser menor nas bilheterias.
A velha pirra�a n�o ficou sem troco. Tr�s meses depois, Fel�cio determinou a escala��o dos reservas do elenco estrelado no segundo cl�ssico (at� a d�cada de 1980, Cruzeiro x Atl�tico de Lourdes era considerado um “cl�ssico”. Acredite, n�o � goza��o de cruzeirense, houve uma �poca long�nqua em que eles eram nossos rivais). Mesmo assim, vencemos com o memor�vel gol de Jacinto.
Para tentar colocar fim ao capricho iniciado pela Turma do Sapat�nis, o ent�o presidente da Ademg Afonso Celso Raso lan�ou o “Desafio das Torcidas”. O Cruzeiro x Atl�tico de Lourdes seguinte diria quem era a maior torcida do Mineir�o. Mandou confeccionar os nossos ingressos com faixas azuis e os deles, com listras negras.
O alvoro�o se instaurou nas bilheterias. Os de sapat�nis se fartavam de ingressos listrados em zebra. No lado do Time do Povo, os trabalhadores da capital e do interior se aglomeravam aos milhares para adquirir os de cor azul. As catracas do Mineir�o rodavam freneticamente na tarde de 8 de novembro de 1981. Era imposs�vel descobrir uma vantagem antecipadamente.
Em campo, o combalido time celeste do in�cio daquela d�cada arrancava um empate em gol originado numa jogada sensacional de Nelinho, que mesmo com a canela rasgada pelas travas de �der, cruzou na cabe�a de Edmar.
Quando o bilheteiro anunciou os 112.919 pagantes, veio o suspense: qual lado havia ganho o Desafio das Torcidas?. Mesmo sendo o “ano de ouro” dos De Lourdes, a obviedade veio � tona: a torcida cruzeirense era mesmo a maior e dona do Gigante da Pampulha.
Fato mais formid�vel se revelou horas depois. A diferen�a a favor dos celestes estava exatamente onde os trabalhadores e os menos abastados escolhiam para frequentar o est�dio. O Cruzeiro venceu o desafio por ter 3.254 torcedores a mais na geral, enquanto, o advers�rio elitista escolheu as cativas e a tribuna.
Se no pr�ximo s�bado n�o teremos a Toca da Raposa 3, mesmo que fosse alugada para o eterno visitante, a culpa n�o � do Cruzeiro. A fuga para o Gin�sio do Horto e seu conhecido combo (torcida de alto-falante + camarotes superfaturados pagos com dinheiro p�blico + luz apagada + clima de apoio velado da “aldeia” ao choror� estrategicamente arquitetado na v�spera) � um reflexo daquele 1981.
Para a hist�ria multicampe� e de grandes conquistas do Cruzeiro, perder ou ganhar essa Country Cup nada significar� frente � sequ�ncia dura e longa que est� porvir nas competi��es nacionais e internacionais.
Vamos terminar logo essa sequ�ncia de jogos-treinos, pois o ano come�a de verdade para o clube da geral, do Mineir�o e do povo de Minas Gerais depois da semana santa. Que n�o caiamos na pirra�a do menino mimado que, no choro, acabou correndo para o gin�sio do seu coelhinho da P�scoa.