
Quando aceitou o desafio de trabalhar como treinador fora da Espanha pela primeira vez, Pep Guardiola sabia que precisaria se adaptar a uma escola de futebol bastante diferente daquela � qual estava acostumado.
Na Alemanha, deparou-se com os times que, nas palavras do pr�prio catal�o, “s�o os melhores no uso do contra-ataque” no mundo. E, apesar dos t�tulos conquistados, viu seu dominante Bayern de Munique sofrer com equipes que cumpriam com maestria a proposta de ter r�pidas e eficientes transi��es ofensivas.
No Brasil, o argentino Jorge Sampaoli vive dilema parecido - embora sempre seja necess�rio frisar as evidentes diferen�as de qualidade e investimento entre o futebol daqui e das grandes ligas europeias.
'Disc�pulo' de Marcelo Bielsa assim como Guardiola, o treinador do Atl�tico conseguiu, em pouco tempo de trabalho, montar um time ofensivo, dominante e agressivo, mas que tem como “calcanhar de Aquiles” justamente a dificuldade de parar os contragolpes advers�rios.
Afinal, como os t�cnicos dessa vertente de jogo pensam em formas de combater as investidas em velocidade?
Costumeiramente, a imprensa n�o pode acompanhar os treinamentos desses profissionais e, por isso, a forma de responder a essa pergunta fica restrita � observa��o de partidas oficiais. Mas h� quem p�de presenciar o trabalho di�rio de Guardiola e relatar essas estrat�gias, que s�o similares ao que Sampaoli deseja aperfei�oar no Atl�tico.
As quatro estrat�gias de Guardiola
No livro Guardiola Confidencial (2014), o jornalista Mart� Perarnau se prop�s a “decifrar” a mente do treinador e, a partir de entrevistas e do conv�vio quase di�rio nos bastidores do Bayern de Munique, revelou algumas das propostas para evitar os temidos contra-ataques.
Ao falar do tema com o bi�grafo, o t�cnico fez um paralelo com o basquete: “Se voc� quer ganhar os jogos mantendo a bola em seu dom�nio, deve proteger suas costas e cuidar dos rivais que atuam livres, que no basquete costumam ser os piv�s, jogadores que ficam posicionados no garraf�o rival para marcar pontos com facilidade”.
Em seguida, Perarnau relata que a preocupa��o do treinador se concentra principalmente em dois jogadores advers�rios: o atacante de velocidade, que geralmente fica aberto nas pontas � espera de um passe longo nas costas dos laterais rivais para conduzir a bola; e o finalizador, que ataca o espa�o e, mais centralizado, aguarda a bola vinda do extremo.
Por isso, o catal�o estabeleceu quatro pontos para impedir os contragolpes, como escreveu o jornalista no cap�tulo “Tr�s dos conceitos fundamentais de Guardiola”:
“Como se defender de uma a��o dessas? Basicamente, adotando quatro medidas
Evitar perder a bola nas zonas centrais do campo, que permitem ao rival iniciar essa manobra;
Conseguir, atrav�s dos 15 passes de prepara��o, que seus jogadores estejam muito pr�ximos do ponto de perda da bola e possam recuper�-la imediatamente;
Fazer press�o sobre o primeiro atleta a receber a bola roubada, ou seja, o jogador que est� livre na lateral;
Antecipar-se ao �ltimo dos advers�rios que recebe a bola. Nesse caso, ser� crucial o papel do zagueiro que o acompanha: ‘Em um time que pretende ser protagonista com a bola, o cuidado com os rivais que jogam livres � o principal objetivo defensivo’, pontua Guardiola”.
Como isso pode ajudar o Atl�tico?
Embora sejam aplicadas em contexto bastante diferente, as ideias de Guardiola s�o, em parte, compartilhadas por Jorge Sampaoli. Para o argentino - que orienta os dez jogadores de linha a ocuparem o campo rival no momento ofensivo -, o momento seguinte � perda da posse deve ser marcado por uma press�o autom�tica e intensa para recuperar a bola. Se executada com sucesso, a estrat�gia n�o apenas evita o contragolpe rival, mas tamb�m possibilita que o Atl�tico esteja bem perto do gol.

O chamado “perde-pressiona” tamb�m � importante mesmo se n�o houver a retomada da bola, j� que pode retardar a sa�da de bola advers�ria e, com isso, fazer com que o time ganhe tempo para que a recompor as linhas defensivas.
Outra possibilidade recorrente nas equipes de Sampaoli �, em determinadas situa��es, parar os contra-ataques com falta. N�o � toa, o Santos, comandado pelo argentino, terminou o Campeonato Brasileiro de 2019 como uma das equipes mais faltosas.
Mesmo com tantas estrat�gias e possibilidades, o Atl�tico de Sampaoli tem sofrido de forma recorrente contra times que se fecham e aproveitam a vulnerabilidade defensiva alvinegra para sair em velocidade. Foi o caso, por exemplo, da derrota de virada por 3 a 1 para o Bahia, no �ltimo domingo, em Pitua�u, pela 17ª rodada da S�rie A.
Isso tamb�m ficou evidente nas derrotas para Botafogo (2 a 1), Santos (3 a 1) e Fortaleza (2 a 1) e mesmo em partidas que o time n�o perdeu, como contra Fluminense (1 a 1) e Corinthians (3 a 2).
H� uma semana, ap�s o empate com os cariocas no Mineir�o, Sampaoli foi questionado sobre os motivos de o Atl�tico sofrer tanto com contra-ataques.
"(Sofre) Porque � a �nica equipe que se planta totalmente no campo rival. Ent�o, tem que parar transi��es o tempo todo. Em meio a esse desejo de atacar, quando estamos em inferioridade posicional, os rivais aproveitam no que v�m fazer: jogar por uma bola s�, contragolpear rapidamente se aproveitando de um erro ou um ataque mal-sucedido", pontuou.
Ao longo desta semana, o treinador intensificou o trabalho para diminuir o n�mero de gols sofridos pelo Atl�tico, que tem a defesa mais vazada entre os dez melhores colocados do Campeonato. "A gente tem que manter o equil�brio. E estamos trabalhando em cima disso para n�o tomarmos tantos gols”, destacou o lateral-esquerdo Guilherme Arana.
E o pr�ximo desafio ser� no s�bado, �s 21h, contra o Sport, no Mineir�o. Ser� a chance de colocar em pr�tica tantos conceitos e, quem sabe, retomar a lideran�a do Campeonato Brasileiro.