
Esse percentual cai significativamente quando analisados apenas os cargos de gest�o. No Am�rica, por exemplo, n�o h� negros em cargos diretivos.
No Cruzeiro, s�o tr�s: Deivid (Diretor Futebol), Francisco �ngelo (Gerente de Tecnologia e S�cio 5 Estrelas) e Andreia Santos(Gerente de Comunica��o Institucional).
Por sua vez, o Atl�tico tem seis pretos, entre eles o ex-jogador Leonardo Silva, coordenador da equipe de transi��o. O Galo ainda disse que mant�m 24 pardos em posi��es que exercem algum comando.
� importante destacar a diferencia��o entre os termos preto e negro. Segundo o IBGE, a etnia negra abrange pessoas pretas e pardas. Apesar de o Brasil ser um pa�s de maioria negra – 50,74% segundo o �ltimo censo – essa parcela da popula��o n�o � representada em setores sens�veis da sociedade, especialmente em fun��es de comando do futebol.
No total, o Atl�tico tem 83 funcion�rios pretos (16,5%), 232 pardos (46,1%), 175 brancos (34,7%), tr�s asi�ticos, tr�s ind�genas e cinco n�o declarados. O Galo afirma que "a cor de pele � informada pelo pr�prio funcion�rio, no ato da contrata��o, ao preencher a ficha de admiss�o - lembrando que h� funcion�rios com carteira assinada e tamb�m prestadores de servi�o, por PJ (pessoa jur�dica)".
N�o h� pol�tica interna para desenvolvimento de lideran�as negras no Alvinegro. "O clube, embora n�o tenha uma pol�tica espec�fica voltada para a quest�o da diversidade, tem adotado, dentro das novas diretrizes administrativas, um novo enfoque sobre esse assunto. N�o apenas em rela��o � cor da pele, mas tamb�m a outros aspectos. Est�o sendo implementados novos conceitos e uma nova mentalidade", explicou o Atl�tico, em nota.

O Cruzeiro possui 116 pretos (19,9%), 234 brancos (40,2%), 230 pardos (39,5%) e dois ind�genas. A Raposa implantou um comit� de diversidade. "O clube entende que o papel de construir uma organiza��o que se empenha na transforma��o social passa, de fato, pela maior representatividade dentro das lideran�as tamb�m. Mesmo j� tendo essa estrutura interna herdada das gest�es anteriores, o Cruzeiro n�o ir� se furtar de trabalhar neste direcionamento. O pr�prio Comit� de Inclus�o e Diversidade, formado recentemente no clube, tem servido para abordar este tipo de discuss�o atrav�s de debates ricos em conte�do, com defensores e representantes de diversas causas", l�-se na nota enviada pelo clube.
O Am�rica n�o enviou o n�mero de funcion�rios, mas a porcentagem aproximada: 50% brancos, 31% pardos e 19% pretos. Nessa contagem, que excluiu parte das categorias de base, o Coelho possui cerca de 300 funcion�rios. A diretoria alviverde diz que tem projeto para implantar pol�ticas de diversidade social, embora ainda em fase de discuss�o.
"O Am�rica se orgulha de ter um negro entre seus fundadores, al�m de grandes �dolos, como Juca Show e Juninho, dentre muitos outros. Atualmente, estamos desenvolvendo projetos internos voltados para pol�ticas de diversidade (incluindo a racial), com constru��o de a��es focadas nos funcion�rios, entre eles os jogadores", disse o Coelho, em nota.
Racismo estrutural

Fundador do Observat�rio da Discrimina��o Racial no Futebol, Marcelo Carvalho est� atento � participa��o do negro no futebol brasileiro h� d�cadas. Apesar disso, ficou espantado com o baixo n�mero em cargos de gest�o nos clubes mineiros. "Achava que era pouco, mas me surpreendi. � bem menos do que eu imaginava".
Carvalho acredita que a aus�ncia de minorias dificulta o debate sobre diversidade nos clubes de futebol. "Esses n�meros mostram a realidade de institui��es que n�o pensam a diversidade. Clubes de futebol na sua maioria n�o tem uma preocupa��o de como os funcion�rios entram. Muitas vezes a quest�o pol�tica � mais importante. E esse preocupa��o nunca existiu em ter um quadro diverso. Ent�o, os clubes de futebol s�o na sua estrutura completamente brancos. Isso � dif�cil porque impossibilita o debate. Com uma estrutura assim muitas vezes nem se d� conta da falta de diversidade neste debate", afirmou.
Carvalho afirma que os clubes tamb�m s�o perpetuadores do racismo estrutural brasileiro. "Os clubes precisam reconhecer que isso � uma falha. Precisam reconhecer que � uma estrutura completamente racista. E a partir desse reconhecimento, fazer processos de inclus�o de pessoas negras, de mulheres de LGBTQ+, � preciso que esse trabalho seja feito. N�o pode sentar em cima da informa��o falando que avaliou curr�culos e os que nos chegam s�o de pessoas brancas para a gest�o e por isso a gente n�o tem pessoas negras. A quest�o � quando de fato queremos promover a diversidade temos que atacar o problema. Por isso � bom ver o que fez o Magazine Lu�za para preparar estes gestores para que fa�am parte do meu clube. Vale lembrar que muitas vezes esses cargos s�o ocupados por indica��o, � o filho do fulano, do beltrano, espa�o onde a popula��o negra n�o est� para indicar algu�m para ocupar este espa�o", frisou.
No livro "O que � racismo estrutural?", o pesquisador Silvio de Almeida explica dois conceitos para entender este tipo de racismo citado por Marcelo Carvalho. O primeiro � o racismo institucional que abandona a ideia de racismo apenas como comportamento individual. O racismo institucional diz respeito a como o funcionamento das institui��es, entre elas os clubes de futebol, concede privil�gio e exclui determinados grupos de alguns ambientes de acordo com a ra�a. J� o racismo estrutural � aquele cristalizado na sociedade de forma cultural, discursiva e hist�rica, que normaliza e concebe como verdade padr�es e regras baseadas em princ�pios discriminat�rios de ra�a.
Lideran�as negras
Neste ano, grandes empresas abriram processos seletivos de recrutamento profissional no Brasil exclusivamente para minorias. Magalu, Bayer, Gerdau, P&G e Banco BV direcionaram vagas para mulheres e pessoas negras. O movimento das empresas � para ampliar a diversidade, corrigir desigualdades e tentar melhorar os resultados a partir da sele��o de pessoas com hist�ria de vida e realidades distintas.
Em entrevista � TV Cultura, a presidente da Magalu, Luiza Trajano, disse que chorou quando descobriu o que era racismo estrutural. "N�s temos que entender mais o que � racismo estrutural. No dia em que eu entendi, eu at� chorei, porque eu sempre achei que eu n�o era racista. N�s temos que educar o que � o racismo estrutural. Eu brinco at� que o nosso programa tem que ser perfeito, porque todo mundo olhou", destacou.
Lideran�as brancas

Se os principais l�deres do Am�rica em campo s�o os negros Messias, Ademir e Juninho, a diretoria executiva do clube s� tem homens brancos: Dower Alexandre de Ara�jo (superintendente geral), Erley Lemos (diretor de marketing e neg�cios), Franklin Delano Roosevelt (diretor de administra��o), Frederico Cascardo (diretor de futebol de base), Henrique Saliba (diretor jur�dico), Paulo Bracks (diretor de futebol profissional) e Renato Drummond (gerente de controladoria e Finan�as).
A realidade n�o � muito diferente nos outros dois grandes da capital. O Atl�tico possui na diretoria apenas um preto: Idalmo Constantino da Silva, diretor geral do Labareda. Dentro das quatro linhas, o negro Keno � o principal l�der t�cnico do Atl�tico neste Campeonato Brasileiro, com nove gols.
No Cruzeiro, ainda h� espa�o para duas mulheres - todas brancas - em meio a tantos homens: Luiza Guimar�es, Head de Brand Experience, e Deise Chaves, Head de Projetos Incentivados. Deivid � o �nico diretor negro do clube. Em campo, a dupla de zaga formada pelos pretos Manoel e Cac� tem sido um dos poucos destaques da Raposa.
Os presidentes e vices de todos os tr�s clubes s�o homens brancos. No Coelho, o Conselho de Administra��o � formado Marcus Salum, Anderson Racilan, Fabiano Rebello Horta Jardim e Marco Ant�nio Batista. O Atl�tico � governado pelo presidente S�rgio Sette C�mara e pelo vice L�saro C�ndido da Silva. J� o Cruzeiro tem S�rgio Santos Rodrigues como figura m�xima, seguido por Lidson Potsch Magalh�es e Biagio Peluso.
Dados mercado de trabalho
Pretos e pardos s�o maioria entre trabalhadores desocupados (64,2%) ou subutilizados (66,1%), de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) de 2019. Em cargos gerenciais, os negros s�o a minoria (29,9%). Por outro lado, est�o em 45,3% dos postos com menor remunera��o.
Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), o conceito de negro � a jun��o de pretos e pardos. Durante as pesquisas, a defini��o � sempre pessoal partindo de cinco op��es de cor: branca, preta, parda, ind�gena ou amarela.