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Estado de Minas ADEUS A MARADONA

Maradona � drama, luta, resist�ncia: � um tango argentino


26/11/2020 04:00



Morreu Diego Armando Maradona. Os campeonatos deviam parar. 90 minutos de sil�ncio n�o bastam. O Maradona morreu, embora Maradona n�o morra. Devia parar a Argentina, e ela vai parar, devia parar o Brasil e a Am�rica Latina, Napoli e a It�lia, Havana, Cuba, o mundo devia parar. Morreu o Maradona, morreu um tempo, morreu uma ideia. Deviam cessar todas as injusti�as sociais, deviam parar todas as favelas e guetos, todos os desvalidos, todos os que sofrem a dor dos outros como se fosse a sua. Maradona morreu.

Como vamos agora viver sem Maradona? Sim, porque Maradona nos autorizava a sermos completamente errados e imperfeitos, e ainda assim sermos justos, coerentes e corretos, e que apesar de todos os pesares, de todos os equ�vocos, estamos a salvo quando do lado certo da hist�ria. Um mundo sem Maradona, sem exagero, � um mundo sem Mandela, sem Gandhi, sem Che, seu �dolo tatuado no bra�o, assim como Fidel morava em sua panturrilha.

A partir de hoje, desconfio, n�o restar� mais a d�vida besta sobre quem foi maior, se Maradona ou Pel� – a passagem do primeiro, tido como segundo, dir� sobre sua grandeza para al�m do futebol. E tudo o que havia (e para sempre haver�) de simb�lico na sua identidade de latino-americano pleno de uma necess�ria revolta e altivez da qual prescindimos, orgulhoso de sua origem pobre, indignado com o que verdadeiramente deveria nos indignar a todos. Maradona �, de certa forma, o que dever�amos e poder�amos ser, ainda que b�bados e drogados.

Pel� foi o genial jogador de futebol. Ofereceu a Bolsonaro, no Dia da Consci�ncia Negra, uma camisa autografada. Calado, um poeta, observou Rom�rio. Maradona foi o genial jogador de futebol acrescido da personifica��o da luta de seu povo contra as injusti�as, algo que foi se tornando maior do que ele pr�prio – e que hoje, morto, o coloca � altura de Guevara, Peron e Evita (e Gardel) para qualquer argentino. Esperem para ver o que ser� seu funeral.

O roteirista de seu destino n�o poupou o p�blico da mistura das duas coisas, o futebol e a transcend�ncia. Contra a Inglaterra, em 1986, fez o gol que � considerado o mais bonito da hist�ria das Copas. N�o bastasse, desclassificou os ingleses com o gol de m�o mais famoso de todos os tempos, nomeado por ele La Mano de Di�s, porque justa, sem d�vida. Aquilo n�o foi uma partida de futebol em que um jogador acabou o jogo – aquilo foi Maradona vingando a morte de 649 argentinos na Guerra das Malvinas quatro anos antes. N�o h� ingl�s que n�o trocasse a maldita ilha por sorte melhor naquele rev�s que lavou a alma de todo o mundo. Gracias, Diego.

Com o perd�o pelo clubismo nessa hora grave, Maradona tem uma certa cara de Atl�tico – injusti�ado, roubado, perseguido, eliminado, fodido, quantas vezes acabado. Tudo em sua hist�ria � drama, � tango argentino, e, no entanto, � resist�ncia e luta – e por isso eu gostava de dizer que a Argentina era o Galo do futebol mundial. Maradona �, de certa forma, Reinaldo, com a for�a de seu punho cerrado e a fragilidade que conduziu ambos �s drogas. Um admirava o outro. Maradona � maior do que Pel� – � do tamanho do Rei.

Agora Maradona est� morto. E quando morre Maradona, parece morrer tanta coisa na gente. Vejo Maradona correndo enlouquecido para a c�mera de tev� depois daquele gol na Copa de 1994. Depois o vejo, no final do jogo, sendo conduzido pela enfermeira para o exame antidoping. Penso comigo como pensam todos os argentinos: mataram o Maradona. E ent�o me ocorre o Che: “Os poderosos podem matar uma, duas, tr�s rosas, mas jamais conseguir�o deter a primavera”. Gracias, amigo, sua morte me d�i profundamente.

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