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Estado de Minas ATL�TICO

Espera de 8 anos: a saga do filme Lutar, Lutar, Lutar at� chegar ao cinema

Equipe de produ��o do longa que retrata a hist�ria do Galo teve de driblar a falta de recursos e as incertezas da COVID-19 at� a obra chegar �s salas de cinema


14/11/2021 04:00 - atualizado 14/11/2021 12:05

Cartaz do filme Lutar, lutar, lutar
O filme, que estreou em 20 salas de cinema do Brasil na semana passada, conta com depoimentos de �dolos alvinegros, como o craque Reinaldo. Para Helv�cio Marins, um dos diretores, o sentimento � de al�vio e miss�o cumprida (foto: Eduardo Drumond/Divulga��o)

Da concep��o, em 2013, � finaliza��o, o longa “Lutar, Lutar, Lutar – O filme do Galo” teve desvios caprichosamente preparados pelo destino. Foram oito anos de pesquisas, entrevistas, filmagens, edi��o, incertezas e muita persist�ncia para que a pel�cula chegasse a 20 salas de cinemas do Brasil na semana passada. Estrat�gia mais perfeita de marketing n�o haveria para encher as sess�es: time voando em campo, dando passos firmes para a conquista do t�tulo brasileiro e na final da Copa do Brasil, al�m da torcida em �xtase, lotando o Mineir�o, mediante a regress�o da pandemia de COVID-19. Mas esse timing nem de longe foi programado. Foi um afago do acaso no cora��o e na alma dos diretores, Helv�cio Marins e S�rgio Borges, atleticanos fan�ticos, que tiveram de tirar dinheiro do pr�prio bolso para bancar a empreitada.

Se em 2013, ou mesmo depois, algu�m tivesse falado com Helv�cio Marins que o filme seria lan�ado nesse contexto, o que ele imaginaria? “Nunca ia acreditar. Talvez se tiv�ssemos planejado n�o daria t�o certo”, diz. Ao falar do filme, o experiente diretor se alterna entre o orgulho do efeito que tem provocado em quem o assiste e o al�vio, por ver o trabalho pronto. A dificuldade em fazer cinema no Brasil tem uma grande parcela nessa mescla de sentimentos.

A ideia de produzir um filme sobre o Atl�tico nasceu antes, em 2010, de um projeto de S�rgio Borges, que originalmente retrataria as crian�as que moram na Cidade do Galo em busca do sonho de vencer no futebol. Esbarrou justamente na falta de recursos. At� que veio a conquista da Copa Libertadores pelo Atl�tico, em 2013, e o desejo de Helv�cio e S�rgio de levar o Galo para a telona foi ao encontro da vontade do ent�o presidente alvinegro, Alexandre Kalil, de documentar a �pica campanha no torneio continental. Quinze dias depois da final�ssima contra o Olimpia-PAR, no Mineir�o, em uma reuni�o, a semente foi lan�ada, e extrapolou a epopeia da Libertadores.

“Come�amos o filme sem saber quando seria o ponto final. N�o sab�amos nem se ter�amos dinheiro para fazer. Resolvemos filmar na cara e na coragem. Fizemos R$ 250 mil de d�vidas, tiramos do bolso”, comenta Helv�cio Marins. “A gente queria lan�ar o mais r�pido poss�vel ap�s o t�tulo da Copa do Brasil, em 2014. Mas foi muito dif�cil. E depois veio a pandemia. Se n�o lan��ssemos neste ano, ter�amos de devolver o pouco de dinheiro que recebemos da Ancine e do Minist�rio da Cultura. Tomar�amos uma multa grav�ssima. A� a sorte come�ou a virar um pouco”.

O que ele chama de sorte talvez seja um enlace bem-sucedido dos deuses do futebol e do cinema. O cen�rio para o lan�amento n�o poderia ser mais apropriado, com a providencial libera��o de p�blico nos cinemas. E eles precisam muito que o filme caia no gosto da Massa. “Este � um filme de dois malucos, eu e o S�rgio. Qualquer diretor/produtor teria abandonado o projeto, porque a gente nunca teve mais do que 55%, no m�ximo 60% do or�amento”, comenta Helv�cio, revelando que a �nica fonte para retorno financeiro dele e de S�rgio vir� dos cinemas. At� dezembro (pelo menos em BH), o filme estar� em cartaz. Depois que sair, os direitos de exibi��o ficar�o com a Disney, que o levar� para o servi�o de streaming e veicular� em rede nacional (duas vezes), no canal ESPN.

Foi no peito e na ra�a, como a torcida atleticana costuma descrever jornadas do time. E s�o eles, os torcedores, os grandes protagonistas do filme, do in�cio ao fim, com uma narrativa amparada pela emo��o e guiada pela conex�o inviol�vel com a equipe, mesmo nos momentos de maior decep��o – que tamb�m s�o relatados.

� a vis�o de torcedores do Galo sobre (e para) torcedores do Galo. Inclusive a narra��o � de uma torcedora, Carol Leandro, respons�vel pelo grand finale da obra. 

Mas � tamb�m um registro hist�rico, com os costumes de cada �poca, uma cronologia do ser atleticano que inclui a forte presen�a feminina quebrando padr�es desde os primeiros cap�tulos, com Alice Neves, feminista na acep��o da palavra d�cadas antes de o termo ser cunhado. “H� apenas 10 anos de diferen�a entre a funda��o de Belo Horizonte e a funda��o do Atl�tico. As coisas se fundem. Muito da forma��o antropol�gica da cidade tem a ver com o Atl�tico, o clube contribuiu imensamente para tecer esse contexto social. O Galo abra�ava todo mundo” destaca o diretor.

Ele diz se sentir tamb�m representado por cada torcedor que surge na tela: “Estudei em col�gio particular a vida inteira, fui criado a seis quarteir�es do Mineir�o e foi o Atl�tico que me tirou da minha redoma social. Aos domingos, eu ia com o meu pai ao campo. Mas �s quartas-feiras eu ia com o Rog�rio, um menino que morava na minha rua, num puxadinho do CB Merci (um supermercado), lavava os carros das madames e era um louco atleticano como eu. Era a maior alegria do mundo estar com o Rog�rio e os amigos dele no Mineir�o. Eu podia comer sandu�che de pernil com alface, meu pai sempre mandava tirar a alface; aprendi a beber cerveja, tomei meu primeiro porre de cacha�a. N�o havia nada mais gostoso do que o abra�o de um gol, eles me jogavam para cima. Eu me lembro no ar, gritando Galo”, recorda-se, saudosista – Rog�rio morreu no in�cio dos anos 1990 e � uma das pessoas a quem Helv�cio gostaria de dedicar o filme.

FLAMENGO

Construir esse mosaico deu trabalho, pela necessidade de condensar mais de 100 anos de hist�ria e pontuar �dolos e momentos em quase duas horas de filme. Aproximadamente 80 pessoas foram entrevistadas, entre jogadores e ex-jogadores, dirigentes, torcedores famosos e an�nimos, jornalistas, treinadores... Desses, apenas 30 est�o no longa, que garante depoimentos emocionantes como o de Toninho Cerezo (e aqui vai um spoiler: ele foi �s l�grimas) e Dario, al�m de relatos hist�ricos, como o de Vav�, que integrou o time campe�o do Gelo, e o narrador s�mbolo do Galo, Willy Gonser, que morreu em agosto de 2017.

“Fomos muito cuidadosos para que tudo que fosse primordial para a hist�ria do Atl�tico estivesse no filme, que � muito fiel a ela. Para dar conta de tudo, teria de ser 20 s�ries, com 1.553 cap�tulos cada uma... (risos). A gente enumera os principais momentos, e a escolha veio um pouco com o que a gente queria mostrar, mas muito tamb�m dos depoimentos. �s vezes, sem saber eles fizeram essa costura”, afirma Helv�cio.

Escolher o qu� mostrar foi outro desafio. E coube aos duelos com o Flamengo parte importante, com uma das contribui��es do destino, aponta o diretor. “Em 1987 (Copa Uni�o), foi duro, eu estava no Mineir�o, chorei demais. Mas foi na bola. J� em 1980 e 1981 (as pol�micas partidas por Brasileiro e Libertadores) n�o foi na bola. E tem um peso grande. Coisas do acaso, a gente foi encontrar esse time na semifinal da Copa do Brasil e deu aquela lavada de 4 a 1, na semifinal. Acho que fiquei mais feliz naquele dia do que na final da Libertadores. Foi como se tirasse um encosto”, relembra, sem citar o nome do Flamengo.

Uma das poucas filmagens de jogos feitas pela pr�pria equipe foi justamente a da goleada por 4 a 1, pela Copa do Brasil de 2014. “Marcamos a filmagem com muita anteced�ncia. um ano, seis meses antes. Nem sab�amos o qu� �amos filmar. S� que seria em novembro. E calhou de cair na semifinal e na final da Copa do Brasil. Sorte, n�?” disse, acrescentando: “� porque era pra ser. E foi esse b�lsamo, esse presente”.

Quem sair da sess�o de cinema emocionado e quiser ver uma parte II, com o desfecho de 2021, ter� de contar mais uma vez com o acaso. Helv�cio afirma n�o estar nos planos uma continuidade de “Lutar, Lutar, Lutar”. “Eu posso estar falando besteira... Mas esse filme foi t�o dif�cil, t�o trabalhoso, que j� estou satisfeito”, sentencia. Que ningu�m duvide, no entanto, de uma nova dobradinha entre os deuses do futebol e do cinema para trabalhar nisso a�.

Personagens da not�cia

Equipe experiente e premiada

Os filmes de Helv�cio Marins, produtor e diretor do filme, receberam mais de 60 pr�mios nos mais importantes festivais internacionais e brasileiros, como Veneza, Berlim, Toronto, Roterd�, T�quio e MoMa NY. “Girimunho”, seu primeiro longa-metragem, recebeu o Interfilm no 68º Festival de Veneza, em 2011. “Quer�ncia”, seu segundo longa, conta com produ��o de Walter Salles e foi lan�ado mundialmente no 69º Festival de Berlim, em 2019. J� o diretor e produtor S�rgio Borges teve filmes exibidos e premiados em festivais nacionais e internacionais como Roterd�, Marselha, Leipzig, Lisboa, S�o Paulo e Tiradentes. O “C�u sobre os ombros”, seu primeiro longa, venceu o 43º Festival de Bras�lia, de 2010, contemplado nas categorias melhor filme, dire��o, roteiro, montagem e pr�mio especial. J� Fred Melo Paiva, produtor e roteirista do filme, � colunista do Estado de Minas e foi indicado ao Emmy, em 2014, pela s�rie “O Infiltrado”, do History Channel, da qual era apresentador e roteirista.

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