F� da Apple guarda em casa o que h� de mais moderno e tamb�m o obsoleto
CVCarolina Vicentin
postado em 23/03/2011 08:47 / atualizado em 23/03/2011 08:58
Um Apple II, a segunda gera��o de m�quinas da empresa da ma�� (foto: reproducao/Revolucao Digital )
Muitas das coisas hoje essenciais � vida moderna n�o passavam de fic��o cient�fica quando o psicanalista Luiz Pellanda, 74 anos, decidiu comprar seu primeiro computador. Em uma viagem aos Estados Unidos, em 1979, ele trouxe na bagagem um Apple II, a segunda gera��o de m�quinas da empresa da ma��. Pellanda se apaixonou pelo equipamento — e pelos outros tantos que a companhia lan�ou desde ent�o — e fundou o primeiro clube de appleman�acos do Brasil, com sede em Porto Alegre. O clube, na verdade, nunca se formalizou, mas chegou a reunir algumas centenas de fan�ticos pelos aparelhos da Apple, em todo o pa�s. Gente que, assim como o psicanalista, se virava para aprender mais com a tecnologia.
“N�s entr�vamos nas lojas de eletr�nicos, mesmo nos Estados Unidos, e ningu�m sabia o que era um computador, ningu�m nunca tinha tido not�cia dessa coisa”, lembra Pellanda. Isso sem falar nas pessoas que classificavam esses primeiros appleman�acos como os mais malucos do mundo. “Tinha gente que tinha at� medo. A coisa era t�o empolgante que n�s pass�vamos a noite inteira mexendo nas m�quinas. Meus amigos diziam que minha esposa tinha ficado vi�va por causa do computador”, conta o psicanalista.
A companheira de Pellanda, contudo, nunca achou o interesse do marido esquisito. Pelo contr�rio. Nize Pellanda, 72 anos, acabou sendo influenciada pelo gosto dele e at� mesmo mudou seu campo de atua��o. “Eu era professora de hist�ria, mas a� decidi fazer o concurso para docente na �rea de inform�tica educativa e acabei me especializando no estudo da intera��o entre as pessoas e as m�quinas”, relata Nize. A paix�o pela tecnologia tamb�m conquistou um dos tr�s filhos do casal. Eduardo Pellanda virou professor universit�rio e trabalha com comunica��o multimeios.
B�-�-b�
As “crian�as”, como diz Luiz Pellanda, foram a principal motiva��o para a entrada da fam�lia no mundo da tecnologia. O psicanalista afirma que, na �poca, imaginou que o computador se tornaria um poderoso aliado da educa��o infantil. “Nossos filhos praticamente se alfabetizaram em frente �s m�quinas, e olha que a coisa ainda era bem tosca”, lembra Nize. Os recursos eram t�o limitados que o usu�rio de um Apple precisava aprender alguma linguagem de programa��o, geralmente, o Basic, para conseguir fazer coisas hoje consideradas simples, como criar um documento de texto.
Tudo ficou mais f�cil quando surgiram as planilhas eletr�nicas, que, mais tarde, deram origem a programas como o Excel. “Depois disso, l� pelos idos da d�cada de 1980, apareceu o primeiro processador de texto, de uma tal de Microsoft, uma companhia bem pequena”, lembra Pellanda. Sim, no come�o de seu imp�rio, Bill Gates queria vender seu produto para a Apple, que ainda n�o fabricava softwares exclusivos para seus aparelhos.
Para se ter uma ideia de como esse mundo ainda engatinhava, Pellanda recebeu uma carta da Apple em 1981, pois a empresa estava impressionada com a funda��o do clube. O psicanalista foi convidado, ent�o, a fazer uma visita � sede da empresa em Cupertino, na Calif�rnia, antes de a cidade virar uma das mais importantes do Vale do Sil�cio. “Mas eu n�o conheci o (Steve) Jobs. Na �poca, ele nem sequer era uma unanimidade. O grande cabe�a da empresa era o (Steve) Wozniak (parceiro de Jobs), que havia constru�do um computador sozinho.”
Vacas magras
Tempos depois, o appleman�aco ga�cho ficou um tempo sem conseguir comprar produtos da Apple no Brasil. Segundo Pellanda, o governo estava criando muitas
"Qualquer decep��o em rela��o ao iPad 2 � infundada. A Apple sempre foi uma empresa evolutiva", revela o f� da Apple (foto: EMMANUEL DUNAND)
dificuldades � importa��o e, al�m disso, surgiram alternativas nacionais. “A ind�stria local come�ou a ocupar um espa�o mais importante e surgiram verdadeiros clones dos computadores da Apple”, lembra o nada imparcial f� da ma��.
“Houve uma �poca em que eu n�o consegui mais comprar nada da companhia. S� dava para ter Windows, que era uma porcaria”, opina. Em 1994, os filhos de Pellanda juntaram um dinheiro e deram ao pai de presente um MaCintosh Performa — que n�o era l� um grande sucesso da Apple, mas que deixou o psicanalista muito feliz.
De l� para c�, Pellanda se mant�m atualizado com as novidades da companhia de Steve Jobs. Tem um iPod de cada gera��o (exceto da primeira), um iPhone 4, um iMac, um iBook Pro e, claro, um iPad. O primeiro, porque “a urg�ncia n�o � ter o �ltimo equipamento, mas aquele que satisfa�a �s minhas necessidades”. E, aos cr�ticos do novo tablet da Apple, o psicanalista deixa seu recado: “Qualquer decep��o em rela��o ao iPad 2 � infundada. A Apple sempre foi uma empresa evolutiva. Al�m disso, nenhuma concorrente conseguiu criar um produto � altura do iPad, n�o � mesmo?”, questiona.
Pesquisador vision�rio
As ideias que Luiz Pellanda tinha sobre o uso pedag�gico dos computadores ainda n�o eram t�o comuns na d�cada de 1970, mas j� havia pessoas que enxergavam novas fun��es para as m�quinas. Uma delas era o matem�tico e educador Seymour Papert, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Papert � o criador da linguagem Logo, voltada para crian�as, na qual uma tartaruga animada executava as opera��es na tela.
Para iniciantes
O Basic, sigla para Beginner's All-purpose Symbolic Instruction Code, foi uma linguagem de programa��o criada por professores na d�cada de 1960. A ideia era que estudantes usassem a ferramenta para aprender os princ�pios b�sicos da programa��o. O Basic caiu na boca do mundo anos mais tarde, quando Bill Gates colocou a linguagem em seus sistemas operacionais.
Ou�a trecho da entrevista com Luiz Pellanda