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Estado de Minas

Ningu�m escapa da velhice, mas a longevidade pode ser atingida de forma digna


postado em 27/03/2011 11:37 / atualizado em 27/03/2011 11:40

A artista plástica Maria Helena Andrés, de 88 anos, diz que seu deus interior é a pintura, momento em que ela medita e aprecia a natureza da sua janela, no Retiro das Pedras(foto: Euler Junior/EM/D.A Press. Brasil)
A artista pl�stica Maria Helena Andr�s, de 88 anos, diz que seu deus interior � a pintura, momento em que ela medita e aprecia a natureza da sua janela, no Retiro das Pedras (foto: Euler Junior/EM/D.A Press. Brasil)

Guardem bem estes nomes: Carolina Maranh�o, de 98 anos, e a um m�s de completar 99; Laura Andr�s Ribeiro Caram, de 91, e Maria Helena Andr�s, de 88. Elas v�o ensinar como chegar � longevidade suavemente, sem ficar pensando na morte o tempo inteiro, sem reclamar das dores, sem se assustar com as mudan�as no corpo e no esp�rito. Elas v�o mostrar que, na �ltima etapa do crescimento humano, t�m a oportunidade �nica de mergulhar nas profundezas do ser.

Como anunciou o te�logo Leonardo Boff, quando completou 70 anos, em seu artigo Oficialmente velho: “A velhice � a �ltima chance que a vida nos oferece para acabar de crescer, madurar e finalmente terminar de nascer. Nesse contexto, � iluminadora a palavra de S�o Paulo. Na medida em que definha o homem exterior, nesta mesma medida rejuvenesce o homem interior. A velhice � uma exig�ncia do homem interior. O que � o homem interior? � o nosso eu profundo, o nosso modo singular de ser e de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical. Esta identidade devemos encar�-la face a face”.

Para conhecer Carolina, Laura e Maria Helena Andr�s, s� marque a hora, porque quem conta o tempo s�o elas. O rel�gio das horas n�o interessa mais. Na casa de Carolina, � preciso ficar algum tempo na varanda do 7º andar do pr�dio onde mora, no alto da Avenida Afonso Pena. Junto com ela, a convidada vai chegar � janela enorme e admirar o que ela chama de “meu quintal particular”, �rvores enormes que formam uma pequena floresta diante do olhos. “Veja a dan�a das �rvores, elas dan�am e conversam”, proclama a senhora que est� quase chegando aos 100 anos, quando v� o vento balan�ando os galhos e as folhas das �rvores.

N�o se apressem, porque Carolina tem muito a conversar e a mostrar, desde a biblioteca com livros em portugu�s, franc�s e ingl�s at� o computador estrategicamente colocado no seu quarto, ao lado das linhas de croch� e da manta que est� tecendo para o batizado do bisneto. A convidada precisa ter tempo para a geleia de jabuticabas que ela acabou de preparar com torradas e caf�. Precisa percorrer as fotos de sua galeria particular com a fam�lia j� criada e ouvi-la declarar: “Posso ficar sem comer, mas n�o fico sem ler”.Pessoas como Carolina, Laura e Maria Helena poderiam muito bem estar na disserta��o de mestrado da professora de psicologia da PUC Minas Anna Cristina Pegoraro de Freitas sobre Espiritualidade e sentido de vida na velhice tardia. As tr�s provam que a espiritualidade d� sentido � vida, principalmente na idade avan�ada. Uma espiritualidade exercida a cada amanhecer, quando os olhos se abrem e elas percebem que est�o vivas e que tudo vale a pena. Desde o horizonte escancarado na janela da casa da artista pl�stica Maria Helena Andr�s, no Retiro das Pedras, at� o momento em que ela espalha as cores pelas telas para pintar mais um quadro. “Este � o meu jeito de meditar. � o meu deus interior”, garante ela, que � vegetariana, morou na �ndia, tem um blog, uma esp�cie de di�rio de suas viagens externas e internas.

Em sua disserta��o de mestrado, Cristina fala tamb�m da feminiza��o da velhice. “S�o mais mulheres do que homens que chegam � idade avan�ada.” Na contagem feita em 2007 pelo IBGE em 5.435 munic�pios brasileiros, o n�mero de idosos com mais de 100 anos era de 11.422, dos quais 7.950 eram mulheres e 3.473 homens. Prova disso � que Carolina, Laura e Maria Helena Andr�s s�o vi�vas.

Anna Cristina mostra que “estamos envelhecendo e atingindo a longevidade, mesmo que muitos n�o acreditem nessa realidade. � s� prestar aten��o nos dados: O Brasil est� em franco envelhecimento populacional. Segundo o IBGE, em 2008 eram 30 velhos para cada 100 crian�as. A proje��o para 2050 � de 172 velhos para 100 crian�as”. Quem sabe depois de ler essa reportagem, a gente aprenda que envelhecer n�o � um desastre, mas um processo natural da vida. E s� n�o envelhece quem morre antes. Com Carolina, Laura e Maria Helena � preciso aprender que, quanto mais o corpo envelhece, mais o esp�rito se fortalece.


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