
Principal autor do estudo, publicado recentemente na revista especializada Psychology and Behavior, Yoav Litvin explica que as conclus�es podem lan�ar luz sobre os efeitos do bullying e de outras formas de estresse social nas pessoas. Isso porque as regi�es cerebrais, nas quais os cientistas focaram est�o presentes em todos os mam�feros, dos pequenos roedores aos homens.
Para realizar o experimento, a equipe de Litvin criou em laborat�rio uma esp�cie de jardim de inf�ncia, para o qual nenhum camundongo gostaria de ser mandado. Presa em uma gaiola de vidro, a cobaia era obrigada a conviver por 10 dias com animais mais velhos e maiores que ela – um rato diferente por dia. Como s�o territorialistas, assim que se viam dividindo o mesmo espa�o os camundongos tendiam a se enfrentar, e a cobaia, em desvantagem, perdia a disputa invariavelmente.
Os pesquisadores permitiam que as brigas di�rias durassem apenas 10 minutos. Depois desse tempo eles isolavam o camundongo maior em um cub�culo de vidro, ainda dentro da gaiola. Dessa forma, o animal menor ainda podia ver, ouvir e sentir o cheiro do agressor, situa��o estressante para ele. Depois de viver sob esse tipo de press�o por 10 dias, a cobaia ganhava um dia de descanso e era levada ent�o a uma outra jaula, onde passava a conviver com animais do mesmo tamanho ao seu.
Todos os animais que haviam passado pelo trauma do bullying apresentavam mudan�as de comportamento nessa fase do experimento. “Descobrimos que, depois de passar dias sentindo-se derrotados e subjugados por outros animais, os camundongos ficaram relutantes em se aproximar de outros animais de sua esp�cie”, descreve Litvin em entrevista ao Estado de Minas, por e-mail.
Horm�nio
Identificada a mudan�a comportamental, os pesquisadores partiram para uma an�lise do c�rebro dos camundongos traumatizados. Primeiro, eles notaram que uma droga que inibia a a��o de um horm�nio chamado vasopressina era capaz de reduzir a ansiedade das cobaias. Depois, a equipe examinou os c�rebros dos animais e notou que eles estavam mais sens�veis � a��o do horm�nio, que no ser humano est� associado � agress�o, ao estresse e a dist�rbios de ansiedade. O aumento dos receptores de vasopressina foi notado especialmente na am�gdala, �rea que pode ser descrita como o centro emocional do c�rebro.
Para Litvin, essas mudan�as no sistema cerebral podem ser a base da altera��o comportamental surgida a partir de situa��es de estresse social cr�nico. “Os roedores estressados apresentaram mudan�as na ativa��o de neur�nios que est�o relacionados com o controle da ansiedade e com a socializa��o. Essas mudan�as podem ser a base de alguns dos efeitos comportamentais que surgem em situa��es como o bullying”, afirma.
O especialista acredita que o estudo pode ajudar a compreender melhor os efeitos de traumas surgidos pelo conv�vio social e levar ao desenvolvimento de tratamentos ou maneiras de prevenir as consequ�ncias do estresse cr�nico em humanos. Ele ressalta, no entanto, que outros estudos precisam ser feitos antes de se afirmar que os danos observados nos c�rebros dos camundongos se repetem nas pessoas. Tamb�m n�o se sabe se essas altera��es – mesmo nos ratos – s�o permanentes ou se o c�rebro volta ao normal depois de um per�odo longo distante da fonte de estresse. “� importante lembrar que os c�rebros de camundongos e humanos s�o muito diferentes”, frisa.
Mas os ind�cios apontados pela pesquisa americana n�o surpreendem a m�dica psiquiatra e especialista em bullying Ana Beatriz Barbosa Silva. “Qualquer estresse leva a mudan�as de comportamento e promovem a libera��o de uma s�rie de subst�ncias qu�micas”, diz a autora do livro Bullying: mentes perigosas nas escolas (Objetiva). No caso do bullying, ela ressalta que a situa��o tende a ser mais grave porque o estresse pode se prolongar, tornando-se cr�nico. “Como a crian�a normalmente n�o conta a ningu�m o que est� sofrendo, a situa��o pode seguir por um ou dois anos. A am�gdala cerebral fica mesmo hiperfuncionante e passa a sinalizar perigos que �s vezes n�o existem”, completa.