O estudante universit�rio Luis Ot�vio Bastos n�o tem problemas com a sexta-feira 13. "N�o acredito nessas besteiras, n�o", diz. Passar embaixo de escada, no entanto, ele n�o se arrisca. "Uma vez inventei de passar, quando ia na casa de uma namorada e, no mesmo dia, ela terminou comigo. Desde ent�o, nunca mais!", garante. Desafiado a repetir o ritual nesta sexta-feira (13), a resposta � r�pida. "Nada. J� estou com tanto azar. Passar embaixo de escada em dia 13 deve ser pior", desconfia. A jornalista Rafaela Aguiar faz anivers�rio neste dia 13 e, pelo que recorda o n�mero sempre trouxe mais sorte que azar, mas justo no ano que a comemora��o � numa sexta-feira, um dia antes, acabou v�tima de catapora. "Nunca tive problema antes, mas s� pode ser uma ′uruca` da data", brinca.
Parascavedecatriafobia. O nome assusta tanto ou mais do que a pr�pria sexta-feira 13. Na verdade esse “palavr�o” a� significa p�nico de sextas-feiras 13. A data, que sempre gera pol�micas e brincadeiras, traz tamb�m medo, de verdade, para algumas pessoas. Mas depois de maio, podem ficar despreocupados que 2011 estar� livre de outras datas do tipo, pelo menos at� janeiro do ano que vem.
Apesar de n�o ser considerada uma fobia t�o comum, ela existe sim. Algumas pessoas deixam de fazer seus afazeres s� porque o dia 13 caiu numa sexta-feira. Em 2007, um levantamento indicou que nos Estados Unidos cerca de 20 milh�es de pessoas sofriam de parascavedecatriafobia. A mesma pesquisa indicou que, nestes dias, os americanos costumam perder alguns milh�es de d�lares em neg�cios s� porque as pessoas se recusam em andar fazer coisas rotineiras e at� mesmo viajar, com medo de que alguma trag�dia aconte�a.
O medo da sexta-feira 13, na opini�o da piscol�ga e professora Fafire e da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Reginete Cavalcanti, � algo que est� mais voltado para o imagin�rio coletivo. E de acordo com ela, vai depender muito da cultura em que a pessoa est� inserida. “Isso vem muito das cren�as, algo muito de supersti��o. No imagin�rio coletivo, � uma fobia comum. De alguma forma, na sexta-feira 13, as pessoas ficam atentas a esse dia, mas n�o � algo que eu vejo como um preju�zo para a popula��o”, comentou a Reginete Cavalcanti.
Esse medo passa a ser um problema quando interfere na rotina. Somente nesse caso, passa a ser considerada uma fobia. “A ansiedade e o medo s�o itens de sobreviv�ncia. � manifestada atrav�s da cautela ao atravessar uma avenida, por exemplo. O problema surge quando esse medo come�a a ficar exagerado, quando come�a a limitar a pessoa. A�, sim, passa a ser uma fobia”, explicou Reginete Cavalcanti. No entanto, ela afirma que a parascavedecatriafobia n�o � comum.
Doen�a ou pura supersti��o, o fato � que esta data passou a ser considerada como uma concentra��o de azar sobrenatural. Uma das origens est� no pr�prio cristianismo, que condena todo tipo de supersti��o. Isso porque Jesus, com seus 12 disc�pulos, teria participado da �ltima Ceia justamente numa sexta-feira, morrendo na semana seguinte. Um mito escandinavo, por outro lado, diz que a deusa da beleza e do amor, Friga, foi considerada bruxa ap�s a convers�o dos n�rdicos ao cristianismo e, por isso, acabou exilada. Como vingan�a, �s sextas-feiras, se unia a 1 dem�nio e outras 11 bruxas para aterrorizar a popula��o local.
Para a psiquiatra especializada em transtornos obsessivos compulsivos (TOC), K�tia Petrib�, que j� tratou pacientes que tinham medo da sexta-feira 13, afirma que, na maioria dos casos, a quest�o � pura supersti��o. Mudar sua rotina em torno da data, como reagendar viagens pode ser um quadro exarcerbado dessas cren�as que fazem parte do imagin�rio popular, mas n�o necessariamente se caracterizam como doen�a. "Para ser uma fobia, um caso cl�nico, � preciso que o medo se apresente de forma a interferir na vida do paciente, que ele deixe de lado coisas important�ssimas, mesmo contra a raz�o. Mas quanto � sexta-feira 13, esse pode ser um sintoma de um campo maior, normalmente relacionado ao TOC, e n�o essa �nica fobia espec�fica isolada", garante.
Certeza hist�rica
Nada melhor para incendiar o imagin�rio popular e alimentar o medo irracional que fatos hist�ricos marcados por trag�dias ou eventos traum�ticos.
1307 – No dia 13 de outubro, o rei da Fran�a, “Filipe, o belo”, ap�s disputa com a Ordem dos Templ�rios, na qual desejava inutilmente entrar, ordenou a pris�o de morte de in�meros templ�rios. O dia sangrento, claro, era uma sexta-feira.
1939 – No dia 13 de agosto, a Austr�lia sofreu o pior inc�ndio de suas florestas. Ao todo, 20 mil quil�metros foram devastados pelo fogo e 71 pessoas acabaram mortas. Precisa dizer qual fio o dia?
1972 – Em uma fat�dica sexta-feira de setembro, o avi�o que levava a equipe uruguaia de r�gbi pela Cordilheira dos Andes caiu, tirando a vida de in�meras pessoas, incluindo o rapper Tupac Shakur. Benny Goodman e o piloto da Nascar Tony Roper. O fato virou at� filme, “Vivos”, de 1993. Precisa dizer que o dia, era 13?
1968 – O dia 13 de dezembro vai ficar marcado para todos os que conviveram com a ditadura militar. Foi numa sexta-feira, que o governo militar do Brasil decretou o AI-5, suspendendo direitos e garantias pol�ticas da popula��o.
Nem tudo s�o trag�dias – Na �ndia, o n�mero 13 � encarado como canalizador de sorte, independentemente do dia da semana. Na China e o no M�xico, h� rela��es com o sagrado. Os chineses, inclusive, acham problemas com azar com o n�mero 4, n�o com o 13.
Aqui no Recife, a sensa��o � mesmo de descontra��o. Tanto que a Festa Sem Lo��o tem como tema justamente a sexta-feira, 13. Com o slogan “Venha tocar o terror”, � meia-noite (da sexta para o s�bado), quem n�o tem medo ou supersti��o vai ter um motivo a mais para se divertir no bar Francis Drinks, no bairro do Recife. Aproveitar � opcional, claro, assim como preferir ficar em casa, com medo.