
Diga-me o quanto dormes e direi quem �s. Essa frase ilustra bem a influ�ncia do sono na vida das pessoas. Uma noite bem dormida � sinal de equil�brio em todos os sentidos. J� o contr�rio pode trazer todo tipo de malef�cio � sa�de, desde irritabilidade, mau humor e cansa�o f�sico e mental at� o comprometimento da qualidade do sexo. Que o diga Cl�udia*, que h� mais de dois anos n�o tem uma noite de sono tranquila e isso quase lhe custou o casamento.
Ela conta que tudo come�ou por causa do marido, Gustavo*, que tem apneia do sono, mas n�o sabia. Por causa dos roncos de v�rios decib�is (podem chegar a 75), ela n�o conseguia dormir. Isso refletia no seu humor durante o dia e no seu descanso � noite. “Como dormia pouco, quando meu marido me procurava � noite, n�o conseguia ter rela��o ou queria que terminasse r�pido para dormir. �s vezes, quase dormia antes de terminar”, diz, lembrando que, muitas vezes, isso ocorria com o marido tamb�m. “O fato � que, quando �amos para a cama, est�vamos sempre cansados e com sono.”
Para tentar dormir melhor, Cl�udia trocou a cama do casal por um colch�o no ch�o da sala. Ela se viu livre dos roncos, mas o desconforto da mudan�a continuava incomodando. Mesmo assim, ela preferiu ficar na sala a ter que conviver com o barulho provocado pela apneia do marido. Assim, as rela��es sexuais foram ficando escassas e a sua vida conjugal quase foi para o espa�o.
Por sua vez, Gustavo sentia cada vez menos pique, apesar da vontade de transar. “Estava numa situa��o muito inc�moda e cheguei mesmo a pensar em me separar. A Cl�udia e eu perdemos aquele contato na cama, que � muito importante para o casal. Meu sono era picado, mas n�o percebia, a n�o ser pelo cansa�o no dia seguinte”, conta Gustavo, que achava que tinha algum problema no nariz, que dificultava sua respira��o.
At� que este ano ele decidiu se tratar. Procurou um pneumologista, que constatou a apneia e lhe recomendou o uso de uma m�scara indicada para esse tipo de dist�rbio. Assim, ele deu in�cio ao tratamento h� cerca de 10 dias. Ele n�o ronca mais, mas diz que ainda est� em fase de adapta��o e que a m�scara ainda o incomoda.
Gustavo tem esperan�a de voltar a ter uma vida sexual com qualidade. At� comprou cama nova para agradar � mulher e convenc�-la a voltar para o quarto. Cl�udia, que passou a dormir junto com o marido h� oito dias, diz que ainda n�o se acostumou com a cama, mas que j� est� dormindo bem melhor, apesar de ainda acordar � noite. “Mas s� de saber que n�o vou mais acordar com os roncos do Gustavo, sinto-me mais segura. Agora posso realizar meu sonho, que � dormir o sono dos anjos, e ficar acordada na hora que for preciso”, brinca.
DISFUN��O ER�TIL
A hist�ria acima pode ser a de milhares de casais que passam por priva��o do sono, o que � mais comum do que se imagina, segundo a neurocientista M�nica Levy Andersen. Ela � pesquisadora do Instituto do Sono de S�o Paulo e professora do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp). Estudo apresentado pela especialista durante o 7º Congresso de C�rebro, Comportamento e Emo��es, ocorrido em Gramado (RS), mostrou que 32% da popula��o de S�o Paulo sofre de apneia do sono. “Sono � tudo.” Segundo ela, quem sofre restri��o do sono � mais suscet�vel aos dist�rbios do organismo, como estresse, obesidade, diabetes e disfun��o er�til, entre outros.
“Os resultados para quem dorme bem s�o comprovados: melhora a pele, a press�o sangu�nea, o metabolismo e a atividade sexual”, cita M�nica, que, desde 1995, coordena um trabalho de investiga��o dos efeitos da priva��o e da restri��o de sono na fun��o reprodutiva de ratos machos. “O que observamos at� agora em ratos � que uma priva��o de sono pontual provoca uma excita��o sexual nos machos. Isso ocorre na priva��o de sono REM (sigla em ingl�s para movimentos oculares r�pidos), quando ocorrem os sonhos. No entanto, apesar de apresentarem desejo, pois os ratos chegam a montar a f�mea, eles n�o conseguem fazer a penetra��o. Em outras palavras, eles t�m desejo, mas n�o t�m a fun��o er�til adequada.”