
� poss�vel envelhecer de forma saud�vel, com produtividade e alegria. Mas nem todos est�o preparados para o passar dos anos. “S� quando a velhice chega voc� descobre”, afirma Madalena Cristina de Souza, de 64, que h� tr�s anos come�ou a dan�ar. “As pessoas se impressionam com nossa capacidade de fazer certos movimentos. Muita gente n�o acredita.”
Como Madalena, muitos outros sexagen�rios est�o matando de inveja jovens sedent�rios, que se cansam s� de pensar em exerc�cio. Mas quem est� na flor da mocidade j� deve come�ar a se preocupar com a velhice, como chama aten��o a presidente do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, Karla Cristina Giacomin.“Quem est� com 30 anos, daqui a 30 ser� idoso. Ser� que essas pessoas est�o pensando na velhice? Muita gente acha que n�o vai ocorrer com elas”, pontua.
Nas v�speras do Dia Nacional do Idoso e Dia Mundial do Idoso, unificadas em 1º de outubro, delegados de todo o Brasil discutem pol�ticas p�blicas para envelhecimento saud�vel em Bras�lia. Em Nova York, a��es para garantir o envelhecimento ativo da popula��o brasileira foram apresentadas pelo ministro da Sa�de, Alexandre Padilha, em reuni�o da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU).
A��o integrada
De acordo com o Censo 2010, s�o cerca de 20,6 milh�es de homens e mulheres com mais de 60 anos no Brasil, sendo que 2,3 milh�es est�o em Minas. O plano apresentado � ONU prev� pol�ticas p�blicas para garantir o envelhecimento ativo nos pr�ximos 10 anos. Esse termo foi definido pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) para designar a participa��o do idoso em todos os �mbitos da vida. Juntamente com a��es que garantam que estejam fisicamente ativos, s�o necess�rias pol�ticas que insiram essa faixa da popula��o nas quest�es sociais, econ�micas, culturais, espirituais e civis.
Em Belo Horizonte, o Cemei, projeto de extens�o da Face/Fumec, busca integrar todas as dimens�es do envelhecimento. Semestralmente, cerca de 60 idosos (foto) participam de oficinas e cursos nas �reas de direito, sa�de, hist�ria da arte, inform�tica, literatura e racioc�nio l�gico, al�m de oficinas, visitas t�cnicas e realiza��o de trabalhos art�sticos. Criado em 1987, o programa Cabe�a de Prata, do Minas T�nis Clube, permite a cerca de 9 mil s�cios com mais de 60 anos participar de saraus, aulas de dan�a, viagens, festas tem�ticas e excurs�es pelos pontos tur�sticos da capital.
Eles se mant�m ativos
A sede por conhecimento e a busca por aprendizado fazem com dezenas de idosos voltem aos bancos escolares. Foi o que ocorreu com Lenice Mares Campos Fraga, de 67 anos. Com tanta tecnologia, m�dias sociais, e-mails, aparelhos celulares e todas as suas funcionalidades, Lenice sentia-se analfabeta digital. Para n�o ficar t�o alheia �s facilidades ofertadas pela tecnologia, resolveu fazer curso de inform�tica e procurou a Coordenadoria de Direitos da Pessoa Idosa (CDPI), que lhe encaminhou para o Centro de Educa��o para a Melhor Idade, projeto de extens�o da Face/Fumec. A busca por conhecimento, certamente, � um dos indicativos do processo de envelhecimento ativo.
De bicho de sete cabe�as, a internet passou a ser aliada. Como participa da oficina de artes, faz na rede a busca de imagens que lhe possam servir de inspira��o. Mas n�o s� isso. Como para todos os jovens, a internet tamb�m � um canal para estreitar relacionamentos na terceira idade. “Fico ansiosa para olhar meus e-mails”, afirma Lenice. Tr�s vezes na semana, ela n�o se importa de cruzar a cidade (do Cai�ara, na Regi�o Noroeste, ao Bairro Cruzeiro, Regi�o Centro-Sul) para participar das aulas. “� importante para n�s, idosos, termos contato com outras pessoas mais jovens e tamb�m da nossa idade.”
O desejo de aprender tamb�m foi o que levou Geraldo da Silva Xavier, de 75, a procurar o Cemei. Queria adquirir conhecimentos na �rea de inform�tica, mas foi surpreendido quando descobriu que participaria de oficinas de musicalidade. “Nunca pensei que pudesse cantar”, disse. Policial na reserva, h� 10 anos, tentou, em outro grupo de terceira idade, aprender a tocar viol�o. Desistiu antes de dominar o instrumento, mas desta vez n�o pretende parar o lado art�stico.
J� gozando da aposentadoria, muitos aproveitam para investir em dons que, ao longo da carreira profissional, nem sempre tiveram tempo para se dedicar. Aos 75 anos, Rosa Manoela dos Santos n�o s� participa do Cemei como frequenta aulas de teatro e coral. “Muita gente acha que porque ficou idosa n�o tem que aprender mais nada, mas sempre temos algo a aprender”, diz. Feliz, al�m de investir na m�sica e na interpreta��o, ela tamb�m comemora os conhecimentos que adquiriu na �rea de inform�tica. “Antes, n�o sabia ligar o computador. O curso est� sendo muito proveitoso.”
A autonomia � importante em um processo saud�vel de envelhecimento. Poder fazer o que quer, sem a necessidade de ser tutelado, traz mais confian�a e autoestima para pessoas com mais de 60 anos. “� como se estivesse voltando a ser adolescente”, afirma Maria das Gra�as Silva Paix�o, de 61. Moradora do Planalto, n�o se importa de pegar dois �nibus para participar, tr�s vezes por semana, das oficinas. Os encontros visam o bem-estar dos idosos, a motiva��o do aprender a aprender na busca de descobertas de novas habilidades, em que eles aperfei�oam seus conhecimentos. As oficinas s�o ministradas por alunos dos cursos de administra��o, computa��o, terapia ocupacional, enfermagem e psicologia e tamb�m por instrutores e professores externos.
A disposi��o de Maria das Gra�as n�o para nas aulas. Ela resolveu fazer curso de teologia. Voltar a estudar lhe fez t�o bem que convenceu o marido a participar. Um pouco resistente, Ot�vio Nunes Paix�o, de 67, resolveu conferir as atividades e gostou. “Estou fazendo coisas que nunca fiz”, diz. As duas irm�s de Ot�vio, Maria das Dores, de 75, e Guiomar Paix�o Salgueiro, de 64, tamb�m participam.
Confer�ncia
At� domingo, delegados de todo o pa�s participam, em Bras�lia, da Confer�ncia Nacional do Idoso, cujo tema � “O compromisso de todos por um envelhecimento digno no Brasil”. O encontro � importante para assegurar os direitos dessa popula��o que vem aumentando ano a ano no pa�s. “Antes, as pessoas paravam de trabalhar e cinco anos depois morriam. Atualmente, depois da aposentadoria as pessoas ainda vivem cerca de 30 anos. � preciso garantir que tenham dignidade nesse per�odo”, pontua a presidente do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, Karla Cristina Giacomin.
A confer�ncia vai estabelecer prioridades em cinco eixos: pol�ticas intersetoriais, protagonismo da pessoa idosa, fortalecimento dos conselhos de direito do idoso, garantias de recursos nos or�amentos p�blicos e avalia��o da pol�tica nacional do idoso. Ser� elaborada carta de inten��es para ser entregue � presidente Dilma Rousseff.
A abordagem do envelhecimento ativo baseia-se no reconhecimento dos direitos humanos das pessoas mais velhas e nos princ�pios de independ�ncia, participa��o, dignidade, assist�ncia e autorrealiza��o estabelecidos pela Organiza��o das Na��es Unidas (ONU).