
T�o �teis � humanidade, as plantas medicinais que deram origem a uma s�rie de medicamentos usados na atualidade podem causar efeitos colaterais t�o severos quanto os ocasionados pelos rem�dios sint�ticos comprados nas farm�cias. A cultura popular de usar as plantas especialmente sob a forma de ch�s, sem orienta��o de um m�dico e mesmo sem observar a proced�ncia de ra�zes e folhas, � respons�vel por graves casos de intoxica��o. Estudos sobre as folhas do yac�n, realizados na Faculdade de Ci�ncias Farmac�uticas de Ribeir�o Preto (FCFRP), ligada � Universidade de S�o Paulo (USP), mostra que o ch� do produto, comercializado popularmente em mercados de Minas e pelo pa�s afora, e tamb�m no Jap�o e na Europa, com objetivo de reduzir a glicemia em diab�ticos, pode causar les�es renais graves.
O ch� preparado a partir das folhas do yac�n foi administrado por via oral em ratos durante tr�s meses em uma dose equivalente a tr�s x�caras de ch� por dia para um humano de 70 quilos. “Nessa dose e ao final dos 90 dias de tratamento, os ratos apresentaram um quadro de doen�a renal cr�nica, com inflama��o e destrui��o dos tecidos filtrantes do rim”, aponta Rejane Barbosa de Oliveira, autora da tese de doutorado “Atividades antidiab�tica, anti-inflamat�ria e toxicologia do yac�n”.
A planta � uma origin�ria da regi�o dos Andes e pertence � mesma fam�lia bot�nica de esp�cies como o girassol e a arnica. Sua batata ou raiz, no entanto, � muito usada pelos povos andinos (veja em Palavra de especialista). O estudo realizado na FCFRP/USP demonstrou que o ch� preparado a partir das folhas da planta tem duas classes principais de subst�ncias qu�micas: as lactonas sesquiterp�nicas (respons�veis pelo dano renal), al�m de compostos denominados ACGs, respons�veis pelo efeito benigno de redu��o da glicemia. Segundo Rejane, que � tamb�m bi�loga e doutora em ci�ncias farmac�uticas pela Faculdade de Ci�ncias Farmac�uticas de Ribeir�o Preto, o estudo demonstrou que apesar de as subst�ncias terem o potencial de reduzir o percentual de a��car no sangue o ch� das folhas do yac�n n�o deve ser usado pela popula��o.
“A toxicidade desses compostos inviabiliza o uso oral. Uma alternativa seria o uso t�pico, o qual demonstrou bons resultados em animais de laborat�rio, contudo n�o foram feitos estudos toxicol�gicos sobre a utiliza��o prolongada dos extratos nesse tipo de tratamento”, diz.
O velho ditado “se � natural n�o faz mal” � combatido por especialistas que apontam riscos bem maiores que os benef�cios no uso indiscriminado de plantas, ervas e fitoter�picos. Para se ter ideia, s�o registrados anualmente nos centros de controle de intoxica��es do Brasil cerca de 2 mil casos de intoxica��es por plantas, muitos levando ao coma e at� mesmo � morte. Parte das interna��es ocorrem devido ao uso inadequado das plantas. “Especialmente erros na dosagem, na forma de preparo do extrato vegetal e tamb�m na forma errada de identifica��o da planta”, ressalta a pesquisadora.
A toxidade hep�tica dos ch�s � ressaltada pelo chefe do Servi�o de Hepatologia do Hospital Universit�rio de Juiz de Fora, A�cio Fl�vio de Souza. Especialista na toxidade hep�tica de diversas drogas, ele ressalta que muitas vezes os ch�s s�o feitos da forma errada, o que potencializa seu efeito t�xico. “Muitas vezes a parte que deve ser usada � o caule e a popula��o utiliza as folhas.” A erva conhecida popularmente como sacaca, vendida como rem�dio para emagrecer especialmente no Norte do pa�s, � respons�vel por complica��es hep�ticas t�o graves que s�o capazes de levar ao transplante de f�gado. Em Minas, bebidas usadas livremente como o ch� verde, confrei e compostos chineses, tamb�m podem causar complica��es hep�ticas graves. At� mesmo o conhecido ch� de poejo, usado para gripes, e a valleriana, tomada como calmante, podem prejudicar o f�gado. “Antes de come�ar a fazer uso de um determinado ch�, a popula��o deve consultar o m�dico. Assim pode ter uma avalia��o hep�tica, fazendo o uso da bebida com seguran�a.”
O fato � que antes de comprar uma planta medicinal, que pode sim fazer mal como qualquer outro medicamento usado de forma inadequada, � preciso levar em considera��o alguns fatores importantes. Al�m de ouvir um m�dico, � preciso ter a certeza de que a identifica��o da planta est� correta e avaliar a proced�ncia do material. “� preciso ficar atento �s doses”, diz a pesquisadora Rejane Oliveira. Ela alerta ainda que deve ser seguida rigorosamente a dose e o intervalo entre elas. “As plantas medicinais podem interagir com outros medicamentos, potencializando, exacerbando ou impedindo a a��o dos mesmos.
Mulheres gr�vidas devem ficar especialmente atentas ao uso de plantas medicinais, pois muitas podem causar abortos espont�neos. No momento de escolher o ch� o melhor mesmo � optar pelas plantas geralmente cultivadas em horta, como hortel�, capim santo e camomila. “Essas s�o muito conhecidas, estudadas e usadas h� s�culos na medicina tradicional da Europa, onde t�m origem”, sugere a professora de fitoterapia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Maria das Gra�as Brand�o.
Palavra de especialista/ Rejane Barbosa de Oliveira, Bi�loga
Raiz � boa e consumida
“Na regi�o dos Andes, as ra�zes tuberosas do yac�n s�o utilizadas pela popula��o como alimento in natura, na prepara��o de sucos e geleias. As ra�zes n�o t�m as subst�ncias lactonas sesquiterp�nicas presentes na folha e, por isso, n�o s�o t�xicas e podem ser consumidas sem risco. Essas ra�zes s�o um excelente alimento para pessoas diab�ticas, visto que s�o ricas em oligofrutanos, que s�o a��cares que n�o aumentam os n�veis glic�micos do sangue e ainda contribuem para o bom funcionamento e manuten��o da
microbiota intestinal.”