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Estado de Minas

Partes do corpo que s�o vest�gios da evolu��o n�o sao t�o in�teis assim

Certas estruturas do corpo, deixadas por ancestrais do homem, parecem n�o ter fun��o, como o ap�ndice e o c�ccix. Novos estudos indicam, por�m, que algumas n�o s�o t�o in�teis assim


postado em 21/03/2012 09:24

Siso e ap�ndice parecem ter uma s� fun��o: inflamar e serem extra�dos. Considerados vest�gios da evolu��o por Charles Darwin, alguns �rg�os no homem s�o como marcas de um passado muito remoto e hoje n�o t�m mais utilidade alguma. Ou algu�m sabe explicar para que serve o c�ccix, aquele ossinho em formato de minicauda localizado na ponta da coluna vertebral? Se agora n�o faz sentido, ele j� teve uma import�ncia muito grande aos ancestrais do Homo sapiens, que, como bons primatas, precisavam de um rabo para se equilibrar em cima das �rvores.


Durante muito tempo, foram chamados de �rg�os vestigiais esses rastros da evolu��o que, at� hoje, acompanham n�o s� o homem, mas diversas outras esp�cies de animais e mesmo vegetais. O termo est� em desuso e come�am a aparecer evid�ncias de que alguns deles, na verdade, ainda s�o funcionais, como o ap�ndice, que, al�m de inflamar, serve como dep�sito de bact�rias boas para o organismo. A descoberta de que alguns �rg�os que pareciam obsoletos possuem utilidade tem sido usada por criacionistas para renegar o darwinismo e refutar a teoria de que o homem � da mesma fam�lia dos macacos. “As coisas n�o s�o t�o simples assim”, alerta Gerd B. M�ller, bi�logo te�rico respons�vel pelo verbete “�rg�os vestigiais” na Enciclop�dia da evolu��o, organizada por Mark Pagel e publicada pela Universidade de Oxford.


“Em primeiro lugar, voc� n�o depende da exist�ncia de �rg�os vestigiais para dar sustenta��o � teoria da evolu��o das esp�cies. Em segundo, embora algumas pessoas pensem que os mecanismos evolutivos desses �rg�os j� foram completamente elucidados, isso est� errado, pois ainda h� muito o que estudar a respeito”, alega. Segundo M�ller, que � professor da Universidade de Viena, uma poss�vel explica��o para o fato de estruturas ancestrais persistirem no homem moderno com alguma utilidade � que os �rg�os foram aproveitados pelo organismo e ganharam outras fun��es ao longo do tempo. “A evolu��o n�o pode ser vista de maneira simplista. Quando uma estrutura � parte muito importante de um organismo, ela est� interligada a outros �rg�os, tecidos etc. Simplesmente remov�-la poderia causar danos secund�rios graves”, explica.


Nenhuma parte do corpo pode ser considerada completamente in�til, alega M�ller, lembrando que, se n�o serve mais para determinada fun��o, ela pode se adaptar e ganhar novas tarefas dentro do organismo. “Uma �ltima explica��o para a manuten��o de �rg�os vestigiais est� relacionada � gen�tica. O genoma � uma estrutura intrincada e n�s possu�mos genes que est�o inativos h� milhares de anos, mas, ainda assim, est�o presentes nas cadeias de DNA. Conex�es gen�ticas podem ser respons�veis por mantermos esses vest�gios ainda hoje”, diz.

Sobreviv�ncia

Um dos �rg�os que pareciam sem utilidade, mas que, com o passar do tempo, se mostraram funcionais, � o ap�ndice, uma pequena bolsa localizada entre os intestinos grosso e delgado. Pouco se sabia sobre ele al�m do fato de que, ao inflamar, tem de ser extra�do sob risco de infec��o generalizada. At� que uma equipe da Universidade de Duke descobriu sua utilidade. Na inf�ncia, o ap�ndice produz c�lulas de defesa importantes para lutar contra micro-organismos invasores. Sua principal fun��o, por�m, � a de produzir e armazenar bact�rias que ajudam na digest�o.


William Parker, professor de cirurgia experimental e um dos autores do estudo divulgado em 2007, conta que os intestinos s�o povoados por diferentes micr�bios que ajudam o sistema digestivo a quebrar as mol�culas de alimento. Quando a flora intestinal � prejudicada por alguma infec��o — uma doen�a como o c�lera, por exemplo —, o ap�ndice fabrica os micro-organismos para repor as baixas. Milhares de anos atr�s, as condi��es de vida dos homens modernos eram extremamente adversas. N�o h� evid�ncias de que eles se preocupassem muito com h�bitos de higiene. Pelo contr�rio, estudos em f�sseis j� mostraram que prosaicas infec��es de dente, por exemplo, eram letais. Vulnerabilidade a doen�as infecciosas fazia com que a expectativa de vida no Paleol�tico fosse de 30 anos. Ao tomar o leite materno, um beb� podia correr risco de morte. Nessa �poca, o ap�ndice era, portanto, fundamental � sobreviv�ncia.


“Podemos concluir que o ap�ndice � um �rg�o que mant�m ainda hoje sua fun��o original, mas que n�o � t�o exigido, pois, a n�o ser em pa�ses com baix�ssimos �ndices de desenvolvimento humano, dificilmente algu�m morre hoje de uma diarreia”, constata Parker. “� por isso que, embora realmente tenha utilidade, sua remo��o n�o traz efeitos negativos. Em sociedades modernas com pr�ticas regulares de higiene e sanitarismo, n�o � indispens�vel um reservat�rio de ‘bact�rias do bem’. Caso algu�m precise dele, por�m, o ap�ndice est� l�.”

C�lulas-tronco

Se o ap�ndice continua a exercer sua fun��o original, os dentes de siso s�o um exemplo de estrutura que perdeu completamente sua voca��o. Andando sobre quatro patas, cerca de 100 milh�es de anos atr�s, o ancestral do homem moderno exibia uma mand�bula larga e forte porque, naquele momento, seus dentes tinham uma import�ncia vital. Para um quadr�pede, ca�ar e desmembrar a presa dependia unicamente da denti��o. Sem dente, sem comida. Um terceiro molar, al�m de se acomodar bem dentro da boca, ao contr�rio do que ocorre hoje, quando �s vezes nem sequer desponta na gengiva, funcionava como uma garantia extra aos primatas. Se, por acidente, o primeiro e o segundo molar se perdessem, havia o siso para proporcionar a mastiga��o.


Ao ficar b�pede, o homem passou a usar os bra�os na ca�a e no preparo da comida. O c�rebro cresceu, mas a mand�bula diminuiu, deixando pouco espa�o para o “dente do ju�zo”. Al�m disso, o dom�nio de ferramentas e, principalmente, do fogo tornou os alimentos mais f�ceis de serem processados antes de digeridos. N�o era mais preciso um terceiro molar para destro�ar a presa. O cozimento deixou a comida mais f�cil de ser mastigada. O siso, portanto, perdeu a fun��o original, embora continue a se formar, algo que come�a a mudar: cerca de 35% dos humanos j� nascem, hoje, sem vest�gios desse dente.


O terceiro molar, por�m, pode n�o ser t�o in�til. Mesmo que sua extra��o seja necess�ria para evitar dor e inflama��es — e tamb�m porque quase ningu�m tem espa�o para ele —, quem consegue acomod�-lo perfeitamente na mand�bula n�o est� perdendo nada. Pelo contr�rio, est� ganhando um dep�sito de c�lulas-tronco. Segundo um estudo publicado no Journal of Biological Chemistry, o siso cont�m um reservat�rio de tecidos que podem originar essas estruturas. A polpa do dente cont�m uma popula��o de c�lulas parecidas �s encontradas na medula �ssea. “A vantagem � que � mais f�cil extrair c�lulas-tronco do dente”, diz Hajime Ohgushi, do Instituto Nacional de Ci�ncias Industriais Avan�adas do Jap�o e um dos autores da pesquisa. “Muito precisa ser feito e estudos mais aprofundados s�o necess�rios para saber a viabilidade de uma aplica��o cl�nica das c�lulas do terceiro molar. N�o deixa de ser interessante, por�m, saber que carregamos, dentro da boca, um dep�sito de c�lulas-tronco”, observa.

 


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