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Estado de Minas

Arque�logo encontra rel�quias que comprovariam a exist�ncia do Rei Davi

Especialistas, por�m, alertam para o risco de pesquisas como essa terem vi�s pol�tico


postado em 09/05/2012 19:27 / atualizado em 09/05/2012 19:34

"As pessoas t�m de aprender a ler a B�blia. H� quest�es que podem ser interpretadas do ponto de vista hist�rico e outras, n�o" Yosef Garfinkel, arque�logo, na foto com um dos objetos descobertos na escava��o
Bras�lia – A exist�ncia do rei Davi, o jovem que derrotou o gigante Golias e se transformou em um dos principais personagens do juda�smo, do cristianismo e do islamismo, jamais foi confirmada. Um historiador da Universidade Hebraica, em Jerusal�m, contudo, acredita ter encontrado a prova de que o monarca n�o s� existiu, como governou uma regi�o de cultura sofisticada, com tra�os arquitet�nicos elaborados e centrada na adora��o de um �nico Deus: Jav�.

Um dos mais renomados arque�logos b�blicos, o israelense Yosef Garfinkel anunciou ontem que, depois de cinco anos de escava��es no Vale de El�, a cerca de 30 quil�metros de Jerusal�m, sua equipe encontrou ferramentas e artefatos de ferro e cer�mica em tr�s santu�rios de pedra que, de acordo com ele, eram do tempo de Davi e, mais tarde, foram anexados ao Primeiro Templo de Salom�o. As pe�as s�o as mais antigas j� descobertas referentes aos primeiros monarcas judaicos, descritos pela B�blia no Livro dos Reis. Al�m das escrituras sagradas, n�o h� outras fontes que citem esses reis.

Segundo a tradi��o religiosa, Davi, que teria vivido entre 1040 a.C. e 970 a.C., queria construir um local de adora��o para guardar as t�buas com os 10 mandamentos, ditados por Jav� ao profeta Mois�s, mas Deus n�o permitiu, porque ele havia se envolvido em muitas guerras. Foi permitido, contudo, que seu filho, mais tarde o rei Salom�o, edificasse o santu�rio.

Enquanto isso n�o ocorria, a arca da alian�a, que guardava as t�buas, ficava no tabern�culo, um santu�rio m�vel que acompanhava os judeus durante as migra��es, desde o �xodo do Egito. O livro b�blico das Cr�nicas diz que Davi passou a Salom�o, ainda muito jovem, todos os detalhes da constru��o do templo definitivo. J� no livro de Reis 1 h� descri��es do local e, segundo Garfinkel, elas se encaixam com os objetos encontrados. O templo foi pilhado e destru�do no cerco a Jerusal�m pelos babil�nios, em 587 a.C.

Santu�rio Datados com carbono 14 na Universidade de Oxford, no Reino Unido, os objetos foram produzidos entre 1020 a.C. e 980 a.C., quando Davi teria governado a Fortaleza de Kuttamuwa, onde hoje � o s�tio arqueol�gico. Os artefatos, segundo Garfinkel, eram usados em cultos religiosos.
Relicário de barro escavado próximo a Jerusalém: produzido há cerca de mil anos
Relic�rio de barro escavado pr�ximo a Jerusal�m: produzido h� cerca de mil anos

Trata-se de cinco blocos de pedra, dois altares de basalto, dois vasos de cer�mica e dois orat�rios port�teis, um de cer�mica, com 20cm de altura, e outro de pedra, com 35cm. O relic�rio de argila tem uma fachada elaborada, na qual se veem dois le�es, uma porta principal, um pano dobrado, dois le�es (s�mbolo da tribo de Jud�, � qual Davi pertencia) e tr�s p�ssaros pousando no telhado.

O santu�rio de pedra � feito de calc�rio fino, pintado de vermelho, com o estilo de arquitetura semelhante ao dos templos gregos, como o Parthenon. No alto, h� um elemento de entalhe chamado triglifo, caracterizado por sulcos que se intercalam. “Nossa descoberta tem import�ncia mundial, pois � o mais antigo exemplo desse tipo de arquitetura”, conta Garfinkel.

Segundo ele, durante muito tempo, o livro dos Reis foi entendido de maneira errada. A express�o slaot, traduzida como “pilar”, seria, na verdade, o triglifo. O tipo de porta, embutida, tamb�m � descrito na B�blia, tanto tem Reis quanto em Ezequiel. “Escavar esses objetos foi como entrar em uma c�psula do tempo”, empolga-se o especialista.

O arque�logo garante que o estilo dos artefatos mostra que os frequentadores do tabern�culo respeitavam orienta��es judaicas, de proibir a reprodu��o de imagens humanas em objetos decorativos e esculturas. Dessa forma, n�o se poderiam atribuir os objetos a religi�es polite�stas, como a dos cananeus e dos filisteus.

Na Fortaleza de Kuttamuwa, h� outros ind�cios de obedi�ncia �s leis judaicas, como a de n�o comer porco nem oferecer esse animal em sacrif�cio. “J� descobrimos milhares de ossadas de outros animais, como ovelhas, cabras e bois, mas jamais encontramos ossos de porcos”, diz Garfinkel, cujas descobertas foram publicadas no livro Footsteps of king David in the Valley of Elah (Pegadas do rei Davi no Vale de El�, em tradu��o livre), lan�ado ontem em Jerusal�m.

Para o arque�logo, as descobertas fornecem evid�ncias fortes que contradizem os acad�micos para quem Davi n�o existiu ou foi apenas liderou uma tribo pouco significativa.

“Esta � a primeira vez que arque�logos descobrem uma cidade fortificada de Jud�, datando do tempo do rei Davi. Mesmo em Jerusal�m n�o temos uma cidade fortificada desse per�odo. E a riqueza decorativa e arquitet�nica mostra que era um local culturalmente avan�ado, ent�o, o argumento de que ele era uma figura mitol�gica ou l�der de uma pequena tribo pode estar errado”, acrescenta.

Achados n�o podem ser dissociados de contextos
Historiador e arque�logo com �nfase em juda�smo helen�stico e paleocristianismo, o professor do Instituto de Hist�ria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Andr� Chevitarese faz ressalvas �s descobertas de Yosef Garfinkel. Ele conta que o ramo da arqueologia b�blica teve in�cio no s�culo 19, tendo como proposta “materializar aquilo que n�o pode ser explicado”. “Em um mundo cada vez mais laico, em que o ‘deus ci�ncia’ se instaura no Ocidente, as experi�ncias religiosas foram objeto de intensas cr�ticas. A arqueologia b�blica surge como o lugar da materialidade, da prova da experi�ncia de f�, tanto no juda�smo quanto no cristianismo”, afirma.

De acordo com Chevitarese, autor de diversas publica��es na �rea, no caso do juda�smo, h� um outro componente que precisa ser considerado: a luta dos judeus pela cria��o do Estado de Israel. "A ideia � mostrar que toda aquela terra onde hoje est� Israel �, e sempre foi, judaica. As escava��es, ent�o, ganham uma dimens�o pol�tica", afirma. O especialista, por�m, faz quest�o de destacar que � favor�vel ao Estado de Israel exatamente onde ele est� situado. Ele acredita, por�m, que os achados arqueol�gicos n�o podem ser dissociados desse contexto pol�tico e social.

“As pessoas t�m de aprender a ler a B�blia. H� quest�es que podem ser interpretadas do ponto de vista hist�rico e outras, n�o. Alguns acad�micos falam sobre quest�es pol�ticas associadas � arqueologia b�blica, mas n�s estamos descrevendo objetos que foram escavados em um s�tio arqueol�gico e datados pela Universidade de Oxford”, rebate Garfinkel. Ainda assim, Chevitarese alerta que, ao se alegar a exist�ncia real de monarcas como Saul, Davi e Salom�o, por exemplo, vinculando esses importantes personagens b�blicos a uma experi�ncia monote�sta, o risco � interpretar que determinada religi�o � a “eleita”, em detrimento das outras. Ele lembra que a pr�pria B�blia cita muito mais o deus Baal no Antigo Testamento que Jav�, um indicativo que a entidade adorada pelos cananeus era bem mais popular que o Deus judaico e crist�o.

Para o professor da UFRJ, � prov�vel que, ao mesmo tempo em que adorassem Jav�, os moradores da Fortaleza de Kuttamuwa prestassem homenagem a outros deuses, j� que o monote�smo como entendido hoje s� foi estabelecido depois das guerras dos macabeus, dois s�culos antes de Cristo. Ele faz uma compara��o com os tempos atuais, quando um cat�lico, por exemplo, pode se sentir � vontade em um templo budista sem, contudo, deixar de ser cat�lico por causa disso. “N�o existe um s� juda�smo, um s� cristianismo nem um s� islamismo”, afirma.

 


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