PARIS - A descoberta do que seria o b�son de Higgs n�o ter� tanto impacto quanto a revolu��o de Galileu sobre o pensamento humano, mas ajudar� a explicar a quest�o das origens, de acordo com dois fil�sofos entrevistado pela AFP.
"� um momento emocionante para a f�sica, mas eu acho que esta descoberta n�o � compar�vel � de Galileu", acredita o fil�sofo e astrof�sico Hubert Reeves. "Ela n�o ter� um impacto sobre todo o pensamento humano, como a de Galileu", um forte defensor da teoria helioc�ntrica, que foi condenado pela Igreja Cat�lica por causa de suas descobertas cient�ficas.
"Galileu ficou conhecido por mudar a ideia ocidental que se tinha do mundo, houve uma revolu��o", concorda Jacques Arnould, te�logo respons�vel pela miss�o �tica do CNES (Centre National de Estudos Espaciais).
No entanto, a nova descoberta � um elemento adicional para a compreens�o do que seria a origem da nossa realidade contempor�nea, o universo em sua composi��o atual e sua hist�ria. "E isso � enorme!", ressalta.
"Foi assim que se construiu a pesquisa de Galileu, com investiga��o e questionamento".
A descoberta do famoso b�son, se confirmada, acrescenta Reeves, "n�o modificar� realmente a nossa compreens�o do mundo. Ela confirma o que j� temos de conhecimento, e isso j� � muito".
Do ponto de vista filos�fico, ela "traz um acr�scimo para dois sentimentos que s�o constantemente refor�ados e renovados no p�blico em geral: o espanto e a vertigem", afirma Jacques Arnould.
Ele explica: "Surpreendentemente, a cada vez que nos s�o dados alguns elementos da realidade observada e os meios utilizados, tomamos consci�ncia da complexidade da realidade e do compromisso humano para saber o que somos e de onde viemos, e ficamos maravilhados".
"O cimento original"
"Vertigem tamb�m. Pensamos nos Infinitos de Pascal, que s�o assustadores: eles falam sobre a constitui��o da mat�ria que conseguimos observar, a mesma que foi formada nos primeiros instantes do universo, o cimento original ".
"Muitos de n�s sabemos muito bem que o que acontece no n�vel do infinitamente pequeno ou do infinitamente grande. Mesmo distantes da nossa medida, fazem parte de n�s", acrescenta.
Diante dessa "vertigem" metaf�sica, v�rias atitudes s�o poss�veis, acredita o te�logo: "pode-se dizer que as nossas a��es n�o t�m import�ncia nenhuma quando se fala em bilh�es de anos, que estamos perdidos e sem ch�o. Ou podemos, em vez disso, questionar com orgulho e responsabilidade o porqu� de nossa singularidade como ser humano pensante, que tem uma consci�ncia de si mesmo e quer conhecer".
Ainda assim, ele conclui, "toda a dimens�o da escolha humana � constru�da coletivamente e individualmente. Isso levanta a quest�o da origem dos seres humanos e de Deu. Algumas pessoas se recusam, enquanto outras n�o. Estamos em uma abordagem pessoal".
"N�s n�o estamos nem mais perto nem mais longe de Deus do que ontem. Estamos em tempos extraordin�rios em termos de constru��o de um conhecimento coletivo sobre o que nos constitui, em que pela primeira vez n�o fazemos guerra", declara.
"O conhecimento n�o pode impor nada a qualquer cren�a pessoal e vice-versa, sen�o chegamos � mistura da qual Galileu � um triste exemplo".