Um artigo publicado na edi��o de hoje da revista Nature refor�a descobertas de estudos epidemiol�gicos anteriores, aprofundando a investiga��o da gen�tica por tr�s dessa rela��o. A equipe de Augustine Kong, pesquisador do instituto deCODE Genetics, sequenciou completamente o genoma de 78 fam�lias compostas por pai, m�e e um filho e constatou que as crian�as, normalmente, nascem com 60 novas muta��es de pequena escala, ou seja, que afetam apenas um gene ou um cromossomo. Ainda assim, elas podem ser suficientes para provocar danos funcionais no indiv�duo, embora, na maioria das vezes, as variantes gen�ticas n�o sejam mal�ficas. A descoberta de Kong est� de acordo com outros estudos, mas revelou um dado ainda desconhecido: enquanto um pai de 20 anos transmite em m�dia 25 muta��es, no caso de um homem de 40 anos, esse n�mero passa para 65.
Isso significa que cada ano adicional na idade do pai resulta em m�dia em duas muta��es extras na descend�ncia. Em contraste, os autores descobriram que o n�mero de muta��es de novo (veja arte) transmitidas pelas m�es fica em 15, independentemente do avan�o da idade. “Naturalmente, as mulheres mais velhas come�am a transmitir mais muta��es. Mas essa taxa n�o vai aumentando proporcionalmente, com o passar dos anos, ao contr�rio do que acontece entre os homens”, diz Kong.
De acordo com Alexey Kondrashov, professor do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Unidade de Michigan, o estudo � o “mais preciso e definitivo at� agora” no que se refere � estimativa da diferen�a entre a contribui��o materna e a paterna na transmiss�o de muta��es gen�ticas. “Com base nesses resultados e no conhecimento de outros estudos, acredito que nosso artigo d� suporte � no��o de que o aumento nas muta��es manifesta-se principalmente, se n�o totalmente, no cromossomo herdado pelo pai”, afirma Augustine Kong.
Divis�o celular
Segundo Alexey Kondrashov, a heran�a paterna nas anomalias gen�ticas pode estar relacionada � taxa de divis�o celular do espermatozoide. “As mulheres nascem com todos os �vulos que v�o carregar ao longo da vida. Com os homens, � diferente. Na puberdade, o espermatozoide divide-se a cada duas semanas”, diz. Assim, aos 40 e 50 anos, ter�o ocorrido, respectivamente, 660 e 800 divis�es celulares. “Nesse processo, pode haver erros na c�pia do DNA, o que aumenta os riscos de surgirem muta��es”, afirma.
Para Emma M. Fransliten, pesquisadora do Instituto Karolinska, na Su�cia, o trabalho island�s vai ampliar os estudos sobre a rela��o entre a idade do pai e o risco de dist�rbios psiqui�tricos associados a muta��es gen�ticas. Ela conta que, na pr�tica, isso j� � observado pelos m�dicos. “Mas havia uma cultura de se dizer que a personalidade dos pais mais velhos, talvez mais r�gidos e austeros, poderia explicar altera��es comportamentais nos filhos. Isso justificaria os dist�rbios mentais. Para n�s, � muito l�gico que exista um componente gen�tico.”
H� quatro anos, Fransliten liderou uma equipe de m�dicos que analisou os dados de 13.428 pacientes com transtorno bipolar. Os cientistas constataram que, quanto mais velho o pai, maior o risco de o filho ter o comportamento bipolar, algo que j� se manifesta quando o homem gera a crian�a aos 29 anos.
Foram feitos ajustes para equiparar os grupos, o de pacientes e o de controle, levando em conta fatores como idade materna, status socioecon�mico e antecedentes familiares de dist�rbios psic�ticos. Depois disso, verificou-se que os descendentes de homens com mais de 55 anos tinham 37,1% mais riscos de serem diagnosticados com transtorno bipolar do que filhos de pais entre 20 e 24 anos. Assim como no estudo de Kong, os pesquisadores suecos constataram que a idade avan�ada das m�es tamb�m interfere no aumento desse risco, mas em grau bem menor. “N�o h�, portanto, como descartar um forte componente gen�tico”, diz Fransliten.
O pesquisador Abraham Reichenberg, da Escola de Medicina Monte Sinai de Nova York e do Instituto de Psiquiatria do King’s College de Londres, investigou a rela��o entre a idade paterna e transtornos do espectro do autismo e chegou a uma conclus�o semelhante � de Fransliten. Em um artigo publicado no jornal especializado Archives of General Psychiatry, ele relatou que filhos de homens com mais de 40 anos est�o mais sujeitos a nascerem com alguma das condi��es classificadas no grupo do dist�rbio. Dentro do grupo de 110 pessoas estudadas, os casos de autismo variaram de um na faixa et�ria paterna de 15 a 29 anos a 62 ocorr�ncias, quando os pais tinham mais de 50 anos.
Tamb�m na base de pesquisas epidemiol�gicas, um artigo da Universidade de Queensland constatou que filhos de pais mais velhos apresentam maior d�ficit cognitivo. O estudo analisou informa��es de 33 mil australianos que passaram por testes de neurocogni��o e habilidades diversas em per�odos que variaram de oito meses a sete anos. O desempenho dessas crian�as geradas por homens com mais de 40 anos foi pior do que o dos filhos de indiv�duos de faixas et�rias inferiores.
No artigo publicado hoje na revista Nature, os cientistas detectaram altera��es gen�ticas associadas ao autismo e � esquizofrenia, algo que Augustine Kong descarta como mera coincid�ncia. Ainda n�o h� certeza sobre o motivo de as muta��es herdadas pelos pais estarem t�o associadas a problemas psiqui�tricos ou cognitivos. Para Alexey Kondrashov, provavelmente a explica��o est� no fato de a maior parte dos genes se expressarem no c�rebro. “Isso significa que novas muta��es v�o afetar mais as fun��es cerebrais”, acredita.
Mais gera��es podem ser afetadas
“Estamos come�ando a ter mais evid�ncias sobre o link entre a idade do pai e a esquizofrenia, o autismo e problemas de cogni��o. At� h� pouco tempo, acreditava-se que a idade da m�e era mais importante, mas isso est� mudando. O que nos preocupa � que, como homens mais velhos acumulam mais muta��es no desenvolvimento dos espermatozoides, esses erros podem aumentar o risco de problemas nos filhos, que podem herdar as muta��es para as pr�ximas gera��es. Mais pesquisas precisam ser feitas para aprofundarmos o conhecimento sobre esse assunto.”
John McGrath - esquisador