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Estado de Minas

Descoberta doen�a semelhante � Aids

Diagnosticada em asi�ticos, a s�ndrome danifica o sistema imunol�gico de adultos


postado em 24/08/2012 08:54 / atualizado em 24/08/2012 09:06

Conheça melhor a nova doença
Conhe�a melhor a nova doen�a
Infec��es oportunistas recorrentes, complica��es pulmonares, erup��es cut�neas espalhadas por todo o corpo. O quadro � t�pico da s�ndrome da imunodefici�ncia humana (Aids), mas h� um detalhe intrigante: os pacientes n�o t�m HIV. Para completar a confus�o, apenas asi�ticos e seus descendentes s�o afetados por um mal que, desde 2004, vem desafiando os cientistas. Ontem, a revista The New England Journal of Medicine fez a primeira descri��o da doen�a misteriosa, que tem um quadro cl�nico muito semelhante ao da Aids mas n�o � transmiss�vel nem contagiosa.
Ainda sem nome, a s�ndrome foi investigada por cientistas do Instituto Nacional de Alergia e Doen�as Infecciosas dos Estados Unidos, que conduziu uma pesquisa em hospitais da Tail�ndia e de Taiwan, envolvendo 203 pessoas doentes e saud�veis. Dessas, 97 estavam infectadas por diversos agentes externos, incluindo micobact�rias n�o tuberculosas (MNTs), uma classe de micro-organismos que se torna extremamente agressiva quando o sistema imunol�gico est� debilitado. Cinquenta e oito participantes tinham tuberculose, doen�a comum no Sudeste asi�tico, e 45 n�o tinham problema de sa�de — eles entraram nos testes apenas como grupo de controle.

Os pesquisadores, conduzidos por Sarah Browne, fizeram diversos exames para descobrir o que estaria por tr�s das infec��es frequentes, muitas vezes acompanhadas por outros males, como problemas �sseos e musculares. Os resultados mostraram que, dos 97 pacientes com infec��es diversas, 88% tinham a a��o bloqueada de uma prote�na muito importante para o sistema de defesa: o interferon gama.

Essa subst�ncia age ao perceber a presen�a de intrusos para os linf�citos, que, ent�o, come�am a agir. Sem saber que a corrente sangu�nea sofreu uma invas�o, as c�lulas de defesa n�o destroem os agentes externos nocivos, e a pessoa adoece. “O interferon � fundamental para combater e matar as c�lulas que alojam esses micr�bios. Sem ele, � como se os micro-organismos ficassem escondidos, protegidos da resposta imune”, explica Edecio Cunha-Neto, professor e pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo. Os cientistas americanos constataram que o pr�prio organismo dos pacientes produzia anticorpos que anulavam a a��o natural do interferon gama. “A raz�o da produ��o desses anticorpos � desconhecida at� agora, mas nos parece que � um processo complexo”, conta Browne (leia entrevista).

Diferentemente da Aids, a nova s�ndrome n�o � transmitida e, de acordo com os pesquisadores, provavelmente n�o h� possibilidade de cont�gio. A preval�ncia observada at� agora acrescenta toques de mist�rio: ela acomete apenas adultos, principalmente com mais de 50 anos. Al�m disso, h� poucos casos identificados em popula��es n�o asi�ticas. “O estudo levanta a hip�tese de que pode haver um defeito gen�tico associado a fatores ambientais”, assinala Beatriz Tavares Costa Carvalho, presidente do Departamento de Imunologia da Associa��o Brasileira de Alergia e Imunopatologia. “Se fosse s� gen�tico, a s�ndrome se manifestaria mais precocemente. Como isso ocorre na idade adulta, � preciso levar em conta o meio ambiente”, completa.

Influ�ncia ambiental

A infectologista Romanee Chairwarith, do Departamento de Medicina da Universidade de Chiang Mai, na Tail�ndia, tamb�m acredita que fatores ambientais, como exposi��o a agentes t�xicos e poluentes, podem ter uma rela��o forte com a nova s�ndrome. Nesses dois pa�ses asi�ticos, ela havia identificado, em 2007, uma dissemina��o de infec��es por micobact�rias n�o tuberculosas. “Os pacientes apresentavam quadros realmente graves, com diversas comorbidades. Isso nos leva a crer que a preval�ncia dessas infec��es esteja aumentando em nossos pa�ses”, afirma Chairwarith. Apesar de na �poca da pesquisa a infectologista n�o ter investigado a rela��o das doen�as com a falta de atividade do interferon gama, ela acredita que boa parte dos pacientes poderia estar gerando os anticorpos que impedem a a��o da subst�ncia.

Para o professor da Universidade Federal de Minas Gerais Una� Tupinamb�s, o grande desafio � saber o que causa essa autorresposta imune. Ele tamb�m destaca a import�ncia de acompanhar a evolu��o das detec��es da s�ndrome. “Ainda n�o sabemos a dimens�o. Ela pode estar localizada na �sia, mas tamb�m pode haver um impacto maior na popula��o em geral. A s�ndrome deve ser monitorada para verificar qual seu impacto na sa�de p�blica”, acredita. Mas, para Tupinamb�s, a descri��o da doen�a misteriosa j� � um passo importante na busca de um tratamento. “O interessante � que o artigo abre a porta para o desenvolvimento de terapias que combatam o problema.” O infectologista Edecio Cunha-Neto observa que quando o sistema imunol�gico est� fr�gil a for�a dos antibi�ticos diminui. Ele acredita que uma interven��o eficaz seria aquela que diminu�sse ou acabasse com o anticorpo que impede a a��o do interferon gama. “Sabemos que, em outras situa��es, � poss�vel diminuir os n�veis desses anticorpos”, diz.

Tr�s perguntas para... Sarah Browne - pesquisadora do Instituto Nacional de Sa�de dos Estados Unidos

Qual o n�mero de casos registrados? Eles est�o restritos apenas a pacientes asi�ticos?
Alguns casos foram relatados em pacientes que podem n�o ser etnicamente asi�ticos, mas, at� agora, a maioria dos casos que identificamos foi na etnia asi�tica. Fomos capazes de registrar cerca de 100 pacientes com a doen�a em seis meses. Nesse est�gio, n�o sabemos se outros podem ser afetados. Apenas n�o encontramos casos.

O que � poss�vel entender sobre a a doen�a ao levar em conta que os pacientes t�m em m�dia 50 anos?
Isso mostra que � improv�vel que a doen�a seja puramente gen�tica. Trata-se de uma s�ndrome que tende a ocorrer na idade adulta em indiv�duos que eram saud�veis. Acreditamos que esses anticorpos se desenvolvam com o tempo, sendo resultado de uma combina��o de fatores gen�ticos e ambientais, at� que o sistema imunol�gico n�o seja capaz de montar uma resposta adequada a certas infec��es.

Precisamos monitorar a incid�ncia da s�ndrome em outros pa�ses? A descoberta tamb�m abre portas para o tratamento?
Se um paciente sente que pode ter essa doen�a, deve consultar o m�dico. Esperamos que esse trabalho aumente a conscientiza��o sobre ela para que possamos saber se existem outras regi�es do mundo onde ela pode ocorrer. Ainda n�o sabemos o suficiente sobre a epidemiologia da doen�a para definir qual tipo de vigil�ncia deve ser adotada. Como ocorre em muitas — se n�o todas — doen�as, a descoberta abre sim portas para o tratamento. Ao compreender as for�as que impulsionam a doen�a, podemos tratar os fatores que contribuem para ela, como os autoanticorpos, em vez de apenas os sintomas, no caso as infec��es. Estamos, atualmente, investigando tratamentos com alvo na produ��o de anticorpos em pacientes que permanecem muito doentes apesar dos antibi�ticos adequados. Queremos que o diagn�stico impacte diretamente no tratamento.


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