O estudo, publicado recentemente no Jornal de Medicina Respirat�ria e Cr�tica da Sociedade Tor�cica Americana, avaliou as crian�as por meio da aplica��o de question�rios, da avalia��o da quantidade de anticorpos no sangue, al�m do exame de espirometria. O �ltimo foi capaz de registrar uma redu��o de at� 85% do volume de ar esperado para crian�as com a mesma idade, o mesmo peso e a mesma estatura, mas sem a exposi��o aos poluentes. “Nosso estudo mostra que a exposi��o precoce � polui��o do ar relacionada ao tr�fego a longo prazo tem efeitos adversos sobre a sa�de respirat�ria em crian�as, particularmente entre aquelas com alergias”, detalha o pesquisador G�ran Pershagen, professor do Instituto de Medicina Ambiental em Estocolmo, Su�cia.
Segundo o pneumologista Ciro Kirchenchtejn, da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp), quanto maior o pulm�o, maior ser� o volume de ar que a crian�a consegue expelir durante o exame. No entanto, os poluentes a que elas foram expostas agridem as c�lulas respirat�rias, provocando inflama��es, infec��es, crises de bronquite e at� a morte de c�lulas do �rg�o. Tudo isso na fase da vida em que os alv�olos pulmonares ainda est�o em desenvolvimento.
Kirchenchtejn considera que a redu��o de volume de ar tem um significado estat�stico, mas ainda n�o leva a sintomas cl�nicos. A crian�a n�o ter� falta de ar, por exemplo, aos 8 anos, mas � preciso considerar que ela provavelmente estar� exposta ao perigo at� os 20, 60 anos e, nesse est�gio, talvez fa�a muita diferen�a. “No futuro, voc� aumenta as chances de ter um desenvolvimento pior do pulm�o. � uma reserva funcional que est� diminuindo. A pessoa fica mais suscet�vel a doen�as respirat�rias e, se adquirir alguma, tende a ser mais grave que algu�m que tem a plenitude da reserva”, aponta Kirchenchtejn.
Em forma��o No artigo, os pesquisadores alertam que os alv�olos pulmonares s�o formados n�o s� durante o per�odo p�s-natal precoce, mas durante toda a inf�ncia e a adolesc�ncia. A maturidade do �rg�o s� � atingida aos 18 anos pelas mulheres e por volta dos 20 anos nos homens. At� essa faixa et�ria, o �rg�o precisa se desenvolver de maneira sadia para um funcionamento regular. Ainda assim, o grupo de pesquisadores suecos ressalta que, ao comparar os resultados encontrados no primeiro ano de vida dos participantes, os anos seguintes de exposi��o causaram menor impacto na fun��o respirat�ria deles.
O pneumologista Ubiratan de Paula Santos, da Divis�o de Pneumologia do Instituto do Cora��o do Hospital das Cl�nicas da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo, conta que um outro estudo conduzido por pesquisadores americanos h� alguns anos fez o acompanhamento do per�odo seguinte ao divulgado pelo grupo sueco. Indiv�duos dos 8 aos 18 anos foram observados por um longo per�odo, com conclus�es muito similares �s anunciadas na semana passada. “O que eles n�o sabem � se a redu��o no crescimento do pulm�o ter� alguma implica��o na vida do indiv�duo adulto. N�o sabemos ainda, na verdade. Uma crian�a exposta na inf�ncia � polui��o veicular ter� problemas se decidir ser um atleta de alto rendimento? Estar� em desvantagem se comparada a quem n�o foi exposto? E se forem fumantes?”, questiona Santos.
Ricardo Martins, da Comiss�o Cient�fica de Infec��es Respirat�rias da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, afirma que os pesquisadores suecos conseguiram traduzir em n�meros o que j� � observado nos consult�rios. Ele destaca que o maior poluente ambiental de uma cidade � o carro, especialmente naquelas onde n�o h� incentivo ao transporte coletivo. “Temos pessoas desenvolvendo doen�as pulmonares obstrutivas cr�nicas e agudas sem nunca ter fumado, sendo que 80% dessas doen�as est�o ligadas diretamente ao tabagismo”, analisa.
O especialista considera que, em Bras�lia, esses n�meros ainda n�o s�o t�o expressivos, mas, em S�o Paulo e no Rio de Janeiro, o preju�zo da polui��o ambiental � estrutura pulmonar est� bem documentado. Um estudo da Universidade de S�o Paulo, por exemplo, mostrou que um morador do centro urbano absorve o equivalente a seis cigarros por dia. A agress�o aos pulm�es � a mesma que a sofrida por um tabagista. “Essas doen�as pulmonares j� existiam, mas se agravaram com a comercializa��o do cigarro. Podemos ver pessoas diagnosticadas cada vez mais cedo. A tend�ncia � que essas crian�as submetidas a esse impacto de polui��o tamb�m desenvolvam doen�as mais cedo.”
Fluxo de ar avaliado
Tamb�m conhecido como prova de fun��o pulmonar ou prova ventilat�ria, o exame consiste no registro dos v�rios volumes e fluxos de ar por meio de um aparelho que mede a velocidade e a quantidade de ar que um indiv�duo � capaz de colocar para dentro e para fora dos pulm�es. As crian�as avaliadas na pesquisa respiraram pela boca por meio de um tubo conectado ao aparelho (espir�metro) e assopraram com o m�ximo de for�a e rapidez poss�vel. O processo pode ser repetido v�rias vezes.