Shirley Pacelli

“E desde quando mulher sabe programar?”. “S� desde Ada Lovelace, a mulher que foi a primeira programador a da hist�ria”. Com a tirinha retirada de um site para engenheiros de software, Camila Silveira Costa deu seu recado no primeiro dia do Rails Girls, em que uma turma de marmanjos – os chamados coachs (treinadores) – tamb�m estava presente. O evento, criado em Helsinque (Finl�ndia), promove um ponto de encontro para as mulheres que querem conhecer mais sobre tecnologia. A edi��o belo-horizontina, na semana passada, que teve a PUC Minas Cora��o Eucar�stico como sede, foi a primeira mineira e a s�tima realizada no pa�s. Porto Alegre (RS), Recife (PE) e S�o Paulo (SP) tamb�m j� receberam as meninas do Rails.
Camila atua como analista de sistemas da Prodabel, empresa de inform�tica e informa��o da capital mineira, que fornece a maior parte dos softwares utilizados pela prefeitura. Com um pedido de desculpas aos homens que estavam na sala, ela reafirmou o orgulho que a ala feminina deve ter ao trabalhar com a tecnologia da informa��o (TI). Segundo a analista, uma pesquisa da Catho Online apontou que as mulheres representam 12,56% da for�a de trabalho no setor de tecnologia brasileiro. “Temos que vencer o preconceito que vem, muitas vezes, de n�s mesmas, e, claro, dos homens”, ressaltou.
Ela diz ter influenciado a irm� mais nova, Carolina Silveira Costa, a trabalhar como desenvolvedora. A ca�ula desconversa e diz que, antes, j� fazia curso de manuten��o de computadores. Carolina conta que, al�m dela, s� h� outra mulher na equipe de 12 programadores na companhia onde atua. Situa��o diferente da engenheira de software Brena Monteiro, de 25 anos, que trabalha em um setor de desenvolvimento bem dividido entre profissionais de ambos os sexos. A �nica desvantagem foi na turma de coachs da qual que ela fez parte no Rails: dominada por 10 homens.
Brena � natural de Governador Valadares e h� dois anos mora em Belo Horizonte. Ela conta que n�o encontrou dificuldade no mercado de softwares e j� fez at� um trabalho freelancer para uma empresa de Ohio (Estados Unidos). Al�m disso, diz que nunca sentiu diferen�a de tratamento em rela��o aos colegas de trabalho. “Mesmo porque, as mulheres s�o detalhistas e cuidam mais do projeto. Elas fazem o c�digo mais limpo”, exalta.

Tamb�m de fora da �rea de TI, Bet�nia Tavares, de 49, artista pl�stica e analista de processos em um banco, aventurou-se por um dia em meio aos algoritmos e contou que a cabe�a j� estava pipocando de ideias para a cria��o de um aplicativo. Hyrla Miranda, de 23, revela que desde os 8 revirava o PC de sua casa. O pai trabalha com manuten��o de redes e ela foi pegando o gosto pela �rea desde crian�a. Hoje, cursa sistema de informa��o e j� trabalha com programa��o. O irm�o mais velho de Hyrla faz o mesmo curso e ela conta que o pai fica feliz em poder trocar informa��es sobre TI com os pr�prios filhos.
MULTIPLICADORAS S� � preciso um notebook e muita disposi��o para fazer parte parte do Rails. N�o � exigida qualquer experi�ncia anterior com programa��o e tamb�m n�o h� limite de idade. Mas o pouco ou nenhum conhecimento sobre o Ruby on Rails n�o foi impedimento para que as meninas gastassem sua criatividade na hora de inventar. Com um dia de trabalho, em meio a bal�es vermelhos em forma de cora��o, seis aplica��es foram criadas. Al�m das plataformas para ajudar na elabora��o de eventos e de compras, foram criados um gerenciador de m�sica, no estilo Groovershark, e um aplicativo para medir o consumo de combust�vel para carros. J� teve quem fizesse banco de dados para saber o que tem na geladeira e, a partir disso, criar receitas com os ingredientes dispon�veis.
� frente da organiza��o do evento estavam Natalie Volk, Nat�lia Cordova, Carolina Veiga e Anne Kelly. Natalie, que � alem� e mora no Brasil, foi respons�vel por trazer o projeto para o pa�s, depois de conferir a edi��o argentina. Ela conta que as criadoras finlandesas queriam mostrar que o setor de TI tamb�m poderia ser divertido. “Se a �rea � mais diversificada, com homens e mulheres, o resultado � mais criativo”, assegura Natalie Volk.
Ela explica que o Rails Girls tem estrutura similar ao TED, tradicional evento de tecnologia, entretenimento e design: seguindo as regras, qualquer pessoa pode promover uma edi��o na sua cidade. Normalmente, h� lista de espera quando um novo evento � realizado no Brasil. “Os brasileiros s�o muito geeks, passam horas nas redes sociais”, analisa Volk. S� em Belo Horizonte, foram 190 inscri��es. Nos dois dias de evento, cerca de 50 pessoas participaram.
A organizadora conta que, depois do encontro, os participantes querem saber como ser multiplicadores do Rails. Al�m do conhecimento adquirido, quem faz parte da proposta acaba criando sua pr�pria rede para discutir tecnologia. “Quando as meninas fazem o primeiro c�digo n�o querem mais parar”, brinca Volk.