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Estado de Minas

Inflama��o cr�nica pode causar doen�as graves

Esse mecanismo de defesa humano ataca tecidos e pode causar c�ncer e o diabetes. S�rie de artigos publicado na Science mostra que entender essa rea��o danosa ainda � um desafio para os cientistas


postado em 11/01/2013 06:00 / atualizado em 11/01/2013 11:53

D�i, incomoda e pode deixar cicatriz. Mesmo assim, a inflama��o � um processo ben�fico; sinal de que o corpo est� lutando para restabelecer a ordem que, por algum motivo, foi alterada. Pode ser a resposta a um corte infeccionado ou a uma forte pancada. Normalmente, os sintomas conhecidos, como incha�o e febre, passam depois de horas ou de poucos dias. Mas h� um outro lado desse mecanismo de defesa e prote��o. Por motivos ainda n�o completamente desvendados, a inflama��o torna-se cr�nica e destr�i os tecidos, contribuindo para uma s�rie de doen�as graves, como artrite reumatoide, c�ncer, diabetes e males neurol�gicos.

Na edi��o de hoje, a revista Science traz um especial sobre a inflama��o cr�nica, indicando que ainda � preciso muita pesquisa para se alcan�ar estrat�gias de tratamento realmente eficazes. O arsenal dispon�vel ainda n�o � capaz de combat�-la, muitas vezes porque n�o se sabe exatamente o que estimula o processo nos casos de doen�as graves. “J� se descobriu que, por tr�s de um grande n�mero de males devastadores, como Alzheimer e diabetes, h� um importante componente inflamat�rio. Mas a identidade do fator que o deflagra costuma ser desconhecida”, admite Ira Tabas, vice-diretor do Departamento de Medicina da Universidade de Columbia e autor de um dos artigos publicados na Science.

O mecanismo b�sico da inflama��o aguda n�o � um mist�rio. Quando h� um ferimento ou um trauma, o corpo precisa reagir. Ao sinal de uma les�o, o organismo se mobiliza tanto para expulsar os agentes pat�genos, no caso de infec��es, como para recuperar e proteger os tecidos atingidos. Em quest�o de segundos, as veias se dilatam e o fluxo sangu�neo aumenta, irrigando a regi�o machucada. Os capilares tornam-se mais perme�veis para permitir que o plasma e as c�lulas de defesa e coagula��o cheguem at� o local. Elementos como plaquetas, neutr�filos e macr�fagos come�am a trabalhar para restaurar os tecidos lesionados e expulsar os corpos estranhos. Assim que o objetivo � atingido, a tend�ncia � que tudo volte ao normal.

Quando a inflama��o � cr�nica, por�m, a situa��o � bastante diferente: a mobiliza��o das c�lulas n�o cessa jamais e, em vez de recuperar a les�o, as estruturas de prote��o acabam destruindo os tecidos. Alguns fatores externos est�o relacionados ao processo, como ingest�o frequente de alimentos gordurosos e inala��o das subst�ncias t�xicas do cigarro, que s�o subst�ncias irritantes. Muitas, vezes, por�m, n�o se sabe o porqu� de a mobiliza��o das c�lulas perdurar, e n�o se conhece sequer o motivo pelo qual elas foram acionadas. Para complicar ainda mais, dentro do pr�prio quadro cr�nico, o processo inflamat�rio pode ser completamente diverso, dificultando as tentativas de ter um rem�dio que n�o s� alivie os sintomas, mas, de fato, signifique a cura.

Nas doen�as autoimunes, por exemplo, sabe-se que o organismo trava uma luta interna por identificar como viram agentes estranhos subst�ncias que o corpo produz. Em outras situa��es, a inflama��o pode ser causada por um defeito na regula��o desse mecanismo, geralmente devido a um erro gen�tico. H�, ainda, uma terceira classe de doen�as cr�nicas que n�o se devem nem ao processo autoimune nem a um problema regulat�rio. E existem outras que est�o associadas ao envelhecimento, como o Alzheimer, e ainda constituem um mist�rio para a medicina. “Se n�o sabemos o que estimula a inflama��o, n�o temos como elimin�-la. Precisamos conhecer com profundidade os padr�es da inflama��o cr�nica. � o que fornecer� a esperan�a de encontrar novas op��es terap�uticas que superem os desafios associados a esse problema”, acredita Christopher K. Glass, pesquisador da Universidade da Calif�rnia em San Diego e coautor de um dos artigos da Science.

De acordo com Ira Tabas, h� avan�os promissores em alguns casos, como o das s�ndromes peri�dicas associadas � cioprina, grupo de doen�as inflamat�rias causadas por uma muta��o gen�tica j� identificada. Para alguns males autoimunes, incluindo a artrite reumatoide, existem rem�dios que podem aliviar os sintomas dos pacientes, especialmente a dor. “Ainda assim, os tratamentos dispon�veis atualmente n�o s�o ideais. A resposta ben�fica � vari�vel, particularmente quando a terapia anti-inflamat�ria come�a depois de a doen�a se estabilizar. Longos per�odos de remiss�o n�o s�o comuns e os efeitos adversos podem ser substanciais”, diz Tabas. Ele explica que esses problemas s�o ainda mais pronunciados quando a inflama��o n�o est� associada � autoimunidade.

Ao se descobrir uma droga potencialmente promissora, as d�vidas dos cientistas s�o muitas. “Ser� que esses avan�os poder�o ser aplicados para todos os tipos de doen�as cr�nicas nas quais a inflama��o � uma importante for�a impulsora?”, questiona Christopher K. Glass. Al�m disso, ele lembra que esse mecanismo � orquestrado por muitas mol�culas, e focar apenas uma pode n�o ser o suficiente.

Efeitos tamb�m no cora��o

O pesquisador do Centro de Sistemas Biol�gicos do Hospital Geral de Massachusetts e professor da Universidade de Harvard Filip K. Swirski concorda que as terapias-alvo que visam os diversos tipos de inflama��o cr�nica demandam muito tempo de pesquisa pela frente. Mas ele acredita que a ci�ncia est� no caminho certo, com descobertas importantes nas �ltimas d�cadas que, para ele, poder�o se traduzir em ganhos cl�nicos no futuro. Autor de um dos artigos do especial da Science, o m�dico destaca uma pesquisa da qual participou recentemente em que foi feita a associa��o entre inflama��o cr�nica e o risco de ataque card�aco.

Swirski explica que um dos principais componentes dos problemas card�acos � a arterosclerose, um processo inflamat�rio cr�nico que provoca les�es na parede das art�rias e pode culminar em infarto do mioc�rdio. Como em um efeito cascata, a ocorr�ncia de um primeiro ataque card�aco aumenta o risco de um segundo epis�dio que, muitas vezes, � letal. “A resposta imunol�gica ao infarto pode acelerar a trajet�ria da doen�a card�aca, aumentando o tamanho e o grau de inflama��o das placas arteroscler�ticas”, diz.

Para o cientista, primeiro � preciso entender completamente como o sistema de defesa do organismo est� envolvido no processo de inflama��o card�aca. Uma pesquisa conduzida por ele no ano passado mostrou que os leuc�citos — c�lulas brancas do sangue — agem com os lip�dios (gordura) na forma��o de les�es coronarianas. “Ainda n�o existem drogas que tratem as doen�as cardiovasculares tendo os leuc�citos como alvo porque a biologia dessa c�lula ainda � um tanto enigm�tica, mas essa � uma abordagem poss�vel no futuro”, afirma. (PO)

A��o da insulina

Doen�a autoimune com um forte componente inflamat�rio, o diabetes est� relacionado com a fabrica��o ou o funcionamento da insulina, um horm�nio sintetizado no p�ncreas. Ainda n�o h� cura para o mal, que � apenas controlado. Um estudo publicado na revista Nature, contudo, traz a esperan�a de que os tratamentos se tornem mais eficazes. Com um acelerador de part�culas, os pesquisadores conseguiram obter um modelo do horm�nio no momento em que se fixa ao seu receptor. De acordo com eles, o trabalho vai ajudar a conhecer melhor o funcionamento da insulina, subst�ncia que ret�m o a��car do sangue para metaboliz�-lo e transform�-lo em energia.

“Mostramos que a insulina e seu receptor se modificam gra�as a uma intera��o. Um fragmento da insulina se desloca e as partes fundamentais do receptor v�o ao encontro do horm�nio. Isso pode ser chamado de ‘um aperto de m�os molecular’”, afirmou Mike Lawrence, professor do Instituto Walter and Eliza Hall de Melbourne, na Austr�lia.

Somente o tipo 2 da doen�a afeta 300 milh�es de pessoas em todo o mundo, o que faz com que seja considerada uma epidemia. “N�s ainda n�o temos um tratamento para o diabetes, mas descobertas como a da fixa��o da insulina nos d�o esperan�a de estarmos mais pr�ximos disso”, comemorou Nicola Stokes, integrante do Conselho Australiano de Diabetes.


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