O uso de ecstasy, droga ainda pouco estudada no Brasil, est� intimamente relacionado ao contexto em que a subst�ncia � ingerida, e muitas vezes ligado � rotina da vida universit�ria. A metilenodioximetanfetamina, conhecida como MDMA, ou simplesmente "bala", � uma droga cara, usada principalmente por jovens de classe m�dia e alta e, diferentemente do que se pensava, n�o est� presente somente em festas de m�sica eletr�nica, mas tamb�m em churrascos e festas diversas. � o que afirma a pesquisadora Maria Ang�lica de Castro Comis, da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp), que fez uma investiga��o qualitativa para sua tese de mestrado no Departamento de Psicobiologia, entrevistando 53 pessoas que fizeram uso da subst�ncia e sobre os motivos que as levaram a parar de us�-la.
"A novidade � que esse trabalho agora pode ser utilizado para auxiliar a��es de conscientiza��o, projetos de preven��o do uso e de redu��o de danos em festas. Existe pouca coisa escrita sobre ecstasy no Brasil. A droga chegou ao pa�s em 1995. Ainda n�o havia sido descrito na literatura que seu uso n�o era somente em raves", afirma Maria Ang�lica.
Na pesquisa, os entrevistados foram divididos em tr�s grupos: 23 n�o usu�rios que tiveram oportunidades de ingerir a droga, 12 ex-usu�rios leves e 18 ex-usu�rios moderados. Eles foram escolhidos pela t�cnica chamada bola de neve, em que os pr�prios entrevistados indicam outras pessoas para participarem da pesquisa. O estudo revelou que os principais motivos para n�o usu�rios recusarem ofertas para provar o MDMA eram o medo de passar mal, motivos familiares e influ�ncias religiosas e morais.
Entre os que experimentaram at� cinco vezes e estavam h� pelo menos um ano sem consumir ecstasy, os principais motivos eram influ�ncias religiosas e morais, o fato de terem passado mal com o uso, ou n�o terem gostado dos efeitos causados. J� entre as pessoas que usaram mais de cinco vezes, mas estavam h� pelo menos um ano sem contato com a subst�ncia, os principais motivos para parar de usar a droga foram ressacas fortes, depress�o, dores ap�s o uso e o afastamento do contexto em que a droga era usada. "Muitos deles assumiram novas responsabilidades, come�aram a trabalhar, se casaram ou se formaram", afirma Maria Ang�lica.
Outro fato que inibe o uso da p�lula colorida no Brasil, segundo a pesquisadora, � a qualidade da droga, que geralmente � muito ruim. "As pessoas n�o sabem o que tem no comprimido, ent�o esperam um efeito, mas podem sentir outro. Voc� pode encontrar aspirina, verm�fugos e outras coisas no produto, e isso causa inseguran�a. Muitos comprimidos nem cont�m o MDMA mesmo." A ressaca do dia seguinte � citada tamb�m como motivo para interromper o uso. Entre os sintomas, Maria Ang�lica cita amn�sia, dores no corpo e depress�o. "Quando uma pessoa toma ecstasy em uma festa, ela acaba sentindo um bem-estar muito intenso, e depois que passa o efeito ela fica esgotada", afirma.
Maria Ang�lica acredita que a divulga��o dos riscos e das consequ�ncias do uso continuado tamb�m pode ajudar na inibi��o da ingest�o de MDMA. "H� um risco grande, a pessoa pode ter uma crise de hipertens�o, arritmia card�aca – que pode evoluir para um ataque card�aco –, al�m de crises de ansiedade intensas. Tem gente que quebra dente, porque for�a o maxilar. E pode causar sobrecarga renal, porque a pessoa n�o toma �gua suficiente, ou ent�o ela pode acabar tomando �gua demais", diz.
Mistura
Para dar dimens�o ao problema, ela cita um relat�rio recente da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), que apontou o crescimento do consumo de subst�ncias sint�ticas na Am�rica Latina. A pesquisadora alerta para uma outra quest�o grave: a mistura do ecstasy com �lcool. "Tem gente que mistura o ecstasy com �lcool achando que vai hidratar, e a� est� um grande perigo, porque isso sobrecarrega o f�gado e a pessoa pode ter um colapso em v�rios �rg�os", avisa.
Segundo Maria Ang�lica, o contexto vivido pelos usu�rios tamb�m � relevante para o consumo da droga quando se leva em conta que, na maioria das vezes, ela � ingerida em festas que s�o afastadas da cidade e t�m grande dura��o. Ent�o, quem usa precisa ter tempo para ir e para se recuperar depois. Por isso, diz a pesquisadora, quando os usu�rios come�am a se preocupar com o emprego e com outras responsabilidades muitos param de usar o ecstasy.
"Como as pessoas ficam muito euf�ricas e ficam em p� e dan�am por muito tempo, � comum elas ficarem com dores no dia seguinte, com o racioc�nio mais lento. Muitos ficam com medo de n�o conseguir ter um bom desempenho no trabalho no dia seguinte", explica. "Um outro dado relevante que descobrimos � que, apesar de apenas um dos entrevistados ter relatado maior dificuldade de parar com o ecstasy, muitas pessoas que entrevistei usavam outras drogas. O ecstasy n�o � uma droga usada no dia a dia. Ela significa, para muitos deles, uma maneira de fugir dos problemas. E muitos relatam que ficam mais amorosos quando o tomam e que conseguem sentir m�sica, o toque e a decora��o das festas de uma maneira diferente", acrescenta Maria Ang�lica.