
Para Rena, o mapa colaborativo (ficaficus.crowdmap.com) funciona como den�ncia e coleta de informa��es na cidade. “N�o h� um limite f�sico. Qualquer um pode contribuir, com arquivos, fotos e v�deos. De alguma forma, a cidade fica mais transparente”, ressalta.
O mapa � uma ferramenta digital desenvolvida como experimento do trabalho final de gradua��o da estudante de arquitetura e urbanismo, Carolina Sobrinho Lopes Martins, de 24 anos. A universit�ria conta que usou uma plataforma aberta de cartografia da Ushahadi: o Crowdmap, que permite a cria��o de mapas colaborativos por qualquer pessoa. “O Google Maps tem uma fun��o semelhante, mas o caminho n�o � intuitivo e pr�tico”, explica.
Um dos exemplos mais conhecidos de uso do Crowdmap foi durante o terremoto no Haiti (OpenStreetMap.org), em 2010. Por meio da p�gina, volunt�rios utilizavam GPS, inclu�am e atualizavam constantemente informa��es sobre hospitais, estradas acess�veis, campos de refugiados entre outros, facilitando o trabalho das equipes de resgate.

Carolina entrou no projeto a convite do seu professor orientador – o arquiteto e urbanista Marcelo Maia. Segundo ela, o mapa do Fica F�cus d� dimens�o total do que est� acontecendo com a flora da cidade e cria um banco de dados. H� relatos de pessoas que viram podas na porta de casa. Cerca de 1,5 mil �rvores foram cortadas no Bairro Palmares. “S�o ferramentas s�o importantes, porque representam uma nova maneira de praticar cidadania”, ressalta. O trabalho que ela desenvolve para a faculdade pretende ainda mapear apropria��es urbanas de cultura/lazer dos jovens da cidade. O projeto chama UrBHanidades (urbhanidades.crowdmap.com), grafia com trocadilho da sigla de Belo Horizonte.
H� diversas formas de contribuir com a plataforma. Pelo site basta preencher um formul�rio com dados da notifica��o, como categoria, t�tulo e descri��o. O cidad�o pode enviar um e-mail para o projeto ([email protected]) ou ainda utilizar a hashtag #ficaficus no Twitter. Vers�es de aplicativos para dispositivos Android e iOS tamb�m est�o dispon�veis. Se, mesmo assim, a d�vida persistir, recorra ao tutorial publicado no YouTube: https://bit.ly/11uCFGI.
ENTENDA O CASO
Pol�mica ecol�gica
Mais de 40 f�cus, a maioria centen�rios, foram mutilados ainda em fevereiro, para tentar combater a mosca-branca-do-f�cus, praga que infestou as �rvores. Em 26 de mar�o, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) publicou um decreto no Di�rio Oficial do Munic�pio anunciando a situa��o de emerg�ncia ocasionada pela infesta��o da praga em f�cus na capital. Testes foram feitos para avaliar a melhor forma de combater a infesta��o. No dia 8, foi realizada a poda dos galhos secos de 19 exemplares de f�cus na Avenida Barbacena, no Barro Preto, Regi�o Centro-Sul da cidade. Tamb�m h� contamina��o de �rvores da Avenida Bernardo Monteiro, na Regi�o Leste, al�m do adro da Igreja da Boa Viagem, na Regi�o Centro-Sul, e do Parque Municipal Lagoa do Nado, na Regi�o Norte. As feiras que eram realizadas na Av. Bernardo Monteiro foram transferidas, temporariamente, para a Avenida Pasteur. Foi realizada na quinta-feira (11/4) uma audi�ncia p�blica na C�mara Municipal para discutir a situa��o. O Fica F�cus questionou a necessidade das podas e anunciou o encaminhamento de uma representa��o ao Minist�rio P�blico para que sejam adotadas outras formas de tratamento das �rvores e apontando os projetos de interven��o urbana da PBH na Avenida Bernardo Monteiro. A Secretaria de Meio Ambiente aguarda autoriza��o da Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria para come�ar a aplica��o de inseticida.
Al�m do google maps
O professor do Centro Universit�rio Metodista Izabela Hendrix, Marcelo Maia, orientador de Carolina Martins, explica que n�o h� uma aplica��o espec�fica para produzir uma cartografia pensando no �mbito da cidadania. Existem, na verdade, diversas iniciativas em que a motiva��o dos seus idealizadores t�m esse vi�s. “N�o h� tecnologia que promova uma a��o a n�vel de cidadania sem engajamento colaborativo. Colaborar, a princ�pio, � f�cil, mas colaborar de modo engajado pressup�e insist�ncia/compromisso com o processo e corresponsabiliza��o na cria��o de um banco de dados de interesse comum”, destaca.
Para ele, em termos de exerc�cio de cidadania, as ferramentas de mapeamento, mas mais que isso, de conex�o e compartilhamento em tempo real de experi�ncias, s�o capazes de mobilizar multid�es e abrir novas fronteiras em processos cada vez mais participativos. Nesse sentido, o Instagram e o Twitter tamb�m seriam excelentes ferramentas de mapeamento. “O aplicativo Instamap (instamapapp.com), por exemplo, deixa bem claro o potencial de mapeamento em tempo real da cidade. Ou seja, � poss�vel, teoricamente, acompanhar ao vivo o que est� acontecendo em qualquer ponto do planeta”, explica.
Plataformas
Existe um projeto de realidade aumentada chamado Layar que permite trabalhar informa��es de forma georreferenciada. Assim, esse tipo de cartografia produzido pela ferramenta abandona a representa��o bidimensional (como Google Maps) e passa a usar a superf�cie da cidade como base de mapeamento. “De certo modo, podemos dizer que a base de abstra��o do Google Maps � limitada e, sendo um pouco ousado, talvez ultrapassada para as din�micas da cidade real contempor�nea”, afirma Maia.
O professor conta que a Ushahadi (ushahadi.com), plataforma utilizada no projeto Fica F�cus, � relativamente nova. Foi desenvolvida por uma empresa de tecnologia sem fins lucrativos, especializada na produ��o de softwares livres e gratuitos para coletar informa��o, visualiz�-la e fazer um mapeamento interativo. As vantagens desse mapeamento, se comparado ao Google Maps, s�o in�meras. Al�m de ser mais f�cil, � vers�til, podendo ser usada em computadores, tablets e smartphones. Os mapas ainda s�o ilimitados (tem�ticos), enquanto o gigante das buscas oferece um �nico mapa. Ao escolher um tema, pode-se representar uma infinidade de dados que v�o al�m das categorias tradicionais do Google maps, que, ali�s, oferece essa fun��o, mas limitada aos desktops.
“Se o Google maps aponta as padarias de um bairro, o Crowdmap, mapeaia os trechos de cal�adas e esquinas onde se pode sentir cheiro de p�o assando no fim da tarde”, exemplifica bem-humorado. Para ele, as ferramentas de cartografia, desde que impulsionadas por um grupo de indiv�duos conectados e engajados em torno de uma causa, s�o recurso poderoso para o planejamento participativo e a gest�o transparente da cidade. � o que estuda e discute o movimento P2P Urbanism, impulsionado pela P2Foundation (p2pfoundation.org).
