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Estado de Minas CALDEIR�O CULTURAL

Estudo refor�a ideia de que os Maias se desenvolveram a partir de diferentes povos


postado em 26/04/2013 11:00 / atualizado em 26/04/2013 11:09

Vilhena Soares

Escavações no local em que foi achada a mais antiga construção do sítio de Ceibal, na Guatemala: influências culturais que vão além da civilização olmeca(foto: REVISTA SCIENCE/DIVULGAÇÃO)
Escava��es no local em que foi achada a mais antiga constru��o do s�tio de Ceibal, na Guatemala: influ�ncias culturais que v�o al�m da civiliza��o olmeca (foto: REVISTA SCIENCE/DIVULGA��O)

Bras�lia – Os maias s�o famosos pela complexidade cultural e pelo not�vel conhecimento que demonstravam em �reas como astronomia, arquitetura, escrita e matem�tica. Contudo, a origem dessa sociedade, que habitava a Am�rica muito antes da chegada dos europeus, ainda carrega segredos que intrigam os historiadores. Estudiosos j� levantaram duas teorias sobre como ocorreu seu desenvolvimento. Enquanto uns sustentam que o processo tenha sido por conta pr�pria, outros acreditam que ele  aconteceu sob influ�ncia dos olmecas, que chegaram a ser apontados como uma esp�cie de “civiliza��o-m�e” dos demais povos meso-americanos.

Agora, um estudo coordenado pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, e publicado na edi��o de hoje da revista Science, refor�a uma terceira dire��o, que tem aos poucos ganhado for�a, com a realiza��o de novas an�lises. Ao escavarem o s�tio arqueol�gico de Ceibal, na Guatemala, os pesquisadores encontraram fortes ind�cios de que houve, sim, influ�ncia cultural no desenvolvimento maia. E mais: ela n�o veio apenas dos olmecas, mas tamb�m de outras sociedades.

O ponto de partida do novo estudo foi um trabalho sobre Ceibal feito em 1960 por pesquisadores de Harvard. “Quando examinei o mapa desse trabalho anterior, notei um arranjo de edif�cios em torno de uma pra�a que era parecido com os de La Venta (s�tio arqueol�gico da civiliza��o olmeca localizado no Golfo do M�xico). Com isso, pensei que Ceibal seria um �timo local para examinar a rela��o entre os maias e os olmecas”, conta Takeshi Inomata, l�der do trabalho e professor de antropologia na Universidade do Arizona.

Pesquisador em um túnel subterrâneo encontrado: as datações de radiocarbono auxiliaram o estudo(foto: REVISTA SCIENCE/DIVULGAÇÃO)
Pesquisador em um t�nel subterr�neo encontrado: as data��es de radiocarbono auxiliaram o estudo (foto: REVISTA SCIENCE/DIVULGA��O)
O estudo, no entanto, reservava surpresas para os especialistas. Durante as escava��es, que duraram sete anos, eles descobriram locais para a realiza��o de cerim�nias e rituais religiosos complexos que, de acordo com o antrop�logo, n�o poderiam ser influ�ncia dos povos olmecos que habitavam La Venta. Al�m disso, exames de data��o por radiocarbono confirmaram que as constru��es descobertas foram feitas 200 anos antes de La Venta se firmar como um centro importante.

Os pesquisadores ainda levaram em conta a possibilidade de a organiza��o encontrada no s�tio estudado ter sido resultado da influ�ncia de San Lorenzo, um centro olmeca mais antigo. Mas tamb�m a descartaram. “San Lorenzo � mais antigo do que Ceibal, mas n�o tinha o complexo cerimonial padronizado nem as pir�mides que encontramos l�”, completa Inomata.

Intera��o ampla

Se essas influ�ncias religiosas n�o vieram dos olmecas de La Venta ou de San Lorenzo, de onde elas teriam surgido? Os pesquisadores acreditam que, entre o apogeu dos dois centros olmecas, outros povos emergiram na regi�o. “Chegamos � conclus�o de que a civiliza��o maia surgiu de uma intera��o mais ampla, incluindo sociedades do Sul da Costa do Golfo, em Chiapas, e no Sul da Costa do Pac�fico tamb�m. Ou seja, de toda a Meso-Am�rica”, diz o autor principal do estudo.

Ele ressalta que houve grandes mudan�as sociais nas plan�cies maias da regi�o da Guatemala no per�odo pr�-cl�ssico (1000 a.C. a 250 d.C), influenciadas pelos habitantes da Costa de Chiapas e a Costa do Golfo, e que Ceibal fez parte dessa mudan�a, incorporando tra�os de outras culturas e, consequentemente, se diferenciando em seu desenvolvimento. “O surgimento de uma outra forma de sociedade, com nova arquitetura, novos rituais, tornou-se realmente a base importante para todas as civiliza��es meso-americanas posteriores”, frisa Inomata.

De acordo com o historiador da Universidade de S�o Paulo (USP) Eduardo Santos, o novo estudo aparece na esteira de outros trabalhos, segundo os quais os olmecas n�o seriam os principais influenciadores da civiliza��o maia. “Pesquisas recentes nessa �rea t�m mostrado que, ao contr�rio do que pens�vamos, os olmecas n�o seriam uma ‘civiliza��o-m�e’. At� porque n�o se sabe direito quem s�o os olmecas, como eles se organizavam e quais eram suas rela��es pol�ticas. O que sempre desconfi�vamos, e esse estudo tamb�m mostra, � que existiam sim outros povos na regi�o da Meso-Am�rica que teriam deixado tra�os na forma��o dos maias, como vemos em Ceibal”, diz. “Essa seria a explica��o de uma pir�mide, um s�mbolo recorrente, por exemplo, ter circulado facilmente por aquela regi�o”, detalha o especialista.

 

Sofistica��o intelectual
A civiliza��o maia � uma das mais antigas civiliza��es pr�-colombianas. Segundo estudos, ela surgiu h� cerca de 3 mil anos, no per�odo determinado como pr�-cl�ssico (1000 a.C. a 250 d.C). Os maias baseavam sua economia em agricultura primitiva, mas atingiram uma sofistica��o social e intelectual alt�ssima, com grande conhecimento sobre astronomia e matem�tica, o que permitiu a elabora��o de calend�rios precisos. Para muitos estudiosos, mudan�as clim�ticas que afetaram a produ��o agr�cola foram a principal causa da extin��o dessa civiliza��o, mas outros especialistas consideram essa explica��o excessivamente simplista.

 

Dados sobre a organiza��o social

A descoberta de complexos espa�os cerimoniais no s�tio de Ceibal, na Guatemala, ajuda tamb�m a montar o quebra-cabe�a da forma��o das sociedades meso-americanas com rela��o � organiza��o social. Segundo o l�der do estudo, Takeshi Inomata, os anos de pesquisa mostram que os rituais funer�rios realizados no local, por exemplo, apontam para uma igualdade de classes, j� que � poss�vel observar que os diversos membros da sociedade eram enterrados da mesma forma.

“O ritual e esses espa�os formais representam essa igualdade de classes. A exist�ncia de ritos funer�rios igualit�rios em Ceibal aponta que a desigualdade social n�o era t�o pronunciada na regi�o, diferentemente do que se observa em San Lorenzo e La Venta, que provavelmente tiveram governantes”, conta o autor do artigo da Science.

Francisca Gallardo, mestre em antropologia e professora da Faculdade Iesb, explica que a pr�tica cerimonial � um elemento importante em pesquisas que buscam descobrir como funcionava a organiza��o das sociedades antigas. “Esse rituais demonstravam emo��es coletivas, como s�mbolos m�ticos e refer�ncias de alguma manifesta��o religiosa. Sabe-se que as cren�as e os ritos s�o efetivados e t�m sentidos de diferentes formas, que contribuem para a forma��o e educa��o das pessoas e, portanto, do grupo social”, detalha.

Mem�ria A professora de hist�ria da Universidade de Bras�lia (UnB) Susane Rodrigues acredita que o estudo contribui para novas descobertas na �rea das sociedades antigas que geralmente s�o descritas de maneira artificial. “Esses achados arqueol�gicos podem contribuir na recupera��o e no fortalecimento das mem�rias e identidades ind�genas da Meso-Am�rica e, consequentemente, na reformula��o das teorias sobre as origens dos maias”, avalia.

Susane destaca a falta de informa��es sobre o tema, que n�o tem sido muito valorizado na hist�ria. “Ultimamente, observamos na m�dia uma s�rie de document�rios que insistem em dizer que os maias se desenvolveram gra�as ao contato com extraterrestres. O que corrobora, ainda mais, com o apagamento do protagonismo ind�gena pr�-colombiano”, aponta a historiadora.

“Trabalhos como esses ajudam a mostrar que o passado da regi�o � muito mais complexo do que se pensou e que sua hist�ria foge aos padr�es de uma hist�ria euroc�ntrica e evolucionista, revelando a pluralidade das rela��es humana no passado”, complementa.


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