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Estado de Minas

Machismo migra para a internet e interfere na rela��o no mundo virtual

Diferentes estudos mostram que comportamentos machistas migram para a internet, influenciando a forma de mulheres e homens se relacionarem no mundo virtual


postado em 06/09/2013 10:33 / atualizado em 06/09/2013 10:36

(foto: ANDERSON ARAÚJO/CB/D. A PRESS)
(foto: ANDERSON ARA�JO/CB/D. A PRESS)

Bras�lia – Ao longo da hist�ria, a mulher foi considerada uma criatura parecida com o homem, por�m inferior. Na Gr�cia Antiga, por exemplo, elas eram imperfeitas: os �rg�os sexuais estavam no lugar errado, escondidos dentro do abdome. Em meados do s�culo 20, personalidades como a francesa Simone de Beauvoir e a brasileira Luz del Fuego ajudaram a mostrar que muitas das diferen�as entre os g�neros s�o frutos mais de uma imposi��o cultural do que biol�gica. Mesmo assim, d�cadas depois, o discurso sobre a inferioridade feminina persiste e passa a ser reproduzido em uma das mais democr�ticas ferramentas desenvolvidas pela humanidade: a internet. Intrigados, cada vez mais pesquisadores, de diversas partes do mundo, tentam entender como o sexismo se manifesta nas rela��es mediadas por computador.

Um dos mais recentes estudos nesse sentido foi realizado na Universidade de Miami, nos Estados Unidos. Os pesquisadores Qinghua Yang e Cong Li decidiram investigar se o gosto musical divulgado pelos usu�rios de redes sociais na internet pode torn�-los mais ou menos atraentes aos olhos dos demais internautas. Os resultados sugerem que os homens se sentem mais interessados por mulheres que gostam de m�sica cl�ssica do que por aquelas que preferem estilos mais pesados, como o rock. Elas, por outro lado, se mostram mais atra�das pelos f�s do rock’n’roll.

“Os rapazes que escutam metal pareceram mais atraentes porque a sociedade, de modo geral, espera que sejam ‘dur�es’. Por outro lado, eles consideraram as mulheres que optavam pela m�sica cl�ssica mais atraentes, porque � esperado que elas sejam angelicais e discretas”, especula Yang. Segundo a psic�loga cl�nica Maraci Sant’Ana, criou-se uma imagem de que o casal ideal � formado por um homem forte, disposto e viril, e o oposto � esperado da mulher. A partir da experi�ncia de consult�rio, ela observa que o homem brasileiro adota o mesmo comportamento. “Eles dividem a mulher em dois tipos: aquela que merece o relacionamento s�rio, e a outra que s� serve para dar prazer. Quando eles dizem que ‘essa � para casar’, significa que h� um grupo que n�o serve para esposa ou m�e dos filhos dele”, analisa a psic�loga.

De acordo com Fabricio Bortoluzzi, professor de ci�ncia da tecnologia da Universidade do Vale do Itaja� (Univali), a pesquisa da Universidade de Miami evidencia que o mundo on-line �, na verdade, uma reprodu��o da vida off-line. H�, portanto, uma conformidade social nos dois ambientes. � normal, por exemplo, ver fotos de mulheres sensuais e seminuas no perfil de homens, em particular os mais jovens. As mesmas postagens, se feitas pelas mulheres, poderiam ser consideradas vulgares. “Na internet, tamb�m se espera que a mulher seja recatada e boa mo�a. Se elas realmente s�o o que elas expressam ser, � outro assunto”, analisa Bortoluzzi.

Essa impress�o foi verificada em um estudo realizado este ano na Universidade da Calif�rnia, com 600 participantes. A an�lise constatou que as mulheres, em geral, s� admitem na internet sentirem vontade de praticar sexo casual quando se sentem protegidas pelo anonimato. Al�m disso, quando falam sobre sua sexualidade sem esconder a identidade, as mo�as costumam diminuir o n�mero de parceiros que tiveram. J� entre os homens, a tend�ncia � exatamente oposta. “Quando se sentem protegidas pelo anonimato, elas expressam sua sexualidade de forma natural. Outras pesquisas demonstraram que as mulheres s�o mais preocupadas com a privacidade on-line do que os homens, talvez pelo fato de muitas terem um hist�rico de experi�ncias ruins”, afirmou Melanie Beaussart, l�der da pesquisa, quando apresentou os dados, em julho.

Reputa��o

Para Melanie, mesmo no Ocidente, as mulheres vivem um padr�o cultural que condena aquelas com muitos parceiros sexuais ou vida social muito ativa. Assim, elas se tornam mais vigilantes sobre a sua reputa��o on-line, preservando at� mesmo fotos e informa��es sobre festas. Uma an�lise realizada na Universidade de Hacettepe, na Turquia, constatou que o principal motivo de as internautas do pa�s n�o abrirem seus perfis no Facebook para pessoas desconhecidas s�o o medo da press�o social que poderiam sofrer.

O estudo foi realizado a partir de um question�rio respondido por 870 usu�rios da rede social. Os resultados mostraram que os prop�sitos de uso podem ser classificados em quatro categorias: conhecer pessoas, manter rela��es existentes, realizar pesquisa acad�mica e manter-se atualizado sobre os amigos e os fatos do mundo. “Foram encontradas diferen�as significativas entre os sexos em todas as finalidades mencionadas. No entanto, os homens admitiam muito mais usar a ferramenta para conhecer pessoas”, conta Sacide G�zin Mazman, uma das autoras do trabalho.

Para Ant�nio Carlos Xavier, professor de lingu�stica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os resultados de Mazman refor�am a impress�o de que as mulheres utilizam as redes sociais com um prop�sito espec�fico e, portanto, s�o mais recatadas. E isso se reflete na postura e na linguagem delas. Um exemplo disso � a conduta adotada pelas internautas em f�runs de discuss�o. Uma pesquisa realizada por Judy Mahoney e Nancy Knupfer, das Universidades Bown Mackey e do Kansas, respectivamente, revela que, mesmo com o anonimato permitido pela comunica��o on-line, algumas mulheres relatam serem perseguidas e intimidadas na internet.

Para evitar isso, elas se identificam como usu�rios neutros, sem que o apelido revele o g�nero. “Cada sujeito tem um estilo pr�prio, e isso � transferido para a forma como ele escreve. Como a sociedade possui pap�is de mais valor, as mulheres adotam nomes e palavras que remetem a esses pap�is para se resguardarem”, explica Xavier. No entanto, ele revela que, mesmo assim, � poss�vel perceber diferen�as nas formas de homens e mulheres se comunicarem on-line.

Menstrua��o

Se, por um lado, eles t�m menos limites e pudores na forma de escrever, elas s�o mais detalhistas e articuladas, sobretudo quando participam de alguma discuss�o. Uma das caracter�sticas femininas � usar mais tempo para formular as ideias. No entanto, quando conversam com outras mulheres conseguem manter uma conversa mais sim�trica. “Elas sabem que a outra tem o mesmo valor social. Tradicionalmente, as mulheres s�o vistas como submissas aos homens. Por exemplo, elas ficam atr�s quando h� uma disputa para falar, pois eles parecem se posicionar de forma mais dominante”, observa Xavier, especialista em lingu�stica.

A atitude beligerante dos homens pode, muitas vezes, render posturas machistas. Um estudo da Universidade Estadual do Arizona que analisou mais de 2 mil tu�tes revela que, durante uma discuss�o acalorada com uma mulher, os homens tenderam a hostiliz�-la utilizando uma condi��o natural feminina: a menstrua��o. “Eles dizem que elas est�o privadas de sexo ou ‘naqueles dias’, como uma forma de humilh�-las. Encontramos muitos recados expressando raiva, viol�ncia e misoginia”, conta Leslie-Jean Thornton, autora do trabalho.

Tu�tes de perfis masculinos com mensagens como “deveria existir uma lei contra a menstrua��o”, “mulheres n�o deveriam falar com nenhum homem quando estiverem naqueles dias”, “eu quebraria sua cara durante essa �poca do m�s” ou “vadias sangrentas” s�o alguns exemplos. “Nesse caso, alguns usu�rios se posicionam como homens furiosos que querem associar as mulheres a impuras e baixas. Isso indica uma realidade que � compartilhada por muitas pessoas”, conclui Leslie-Jean na pesquisa, publicada pelo peri�dico Sex Roles.


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