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Estado de Minas

Entenda a din�mica do medo

Cientistas tentam desvendar o que ocorre no c�rebro antes da percep��o real do perigo, e esperam entender a s�ndrome do p�nico


postado em 21/11/2013 09:36 / atualizado em 21/11/2013 09:37

Paloma Oliveto

Bras�lia – Pode ser o barulho seco de um galho quebrando ou o som ritmado do arrastar de passos. �s vezes, � um vulto que passa sorrateiro. Outras, uma sombra que brinca nas paredes. Os sentidos se agu�am, as pupilas se dilatam, os pelos eri�am, o cora��o dispara. Orquestrado pela mente, o corpo todo reage. Por cada poro brota o medo, uma das mais primitivas emo��es do homem.


Entender o que se passa no c�rebro antes mesmo que a raz�o perceba o perigo � um dos desafios da ci�ncia. J� se sabe bastante sobre uma sensa��o tanto temida quanto buscada – quando se vai a uma montanha-russa, por exemplo, n�o � outra coisa sen�o o medo que as pessoas querem encontrar. Mas ainda h� muito o que se descobrir, principalmente porque a� pode estar a chave para o tratamento de condi��es desafiadoras, como a s�ndrome do p�nico e o transtorno da ansiedade generalizada.


De uma coisa n�o restam d�vidas: o medo � essencial para a preserva��o das esp�cies. Temer o perigo � a condi��o b�sica para driblar os predadores e escapar de situa��es com risco em potencial. Testes com animais revelam um padr�o praticamente universal diante de amea�as. Fuja ou lute, parece dizer o c�rebro. O que vai definir a escolha � um duplo processo iniciado pelo t�lamo, a regi�o que capta os est�mulos externos e os passa adiante.


“O corpo � extremamente sens�vel � possibilidade de uma amea�a e, ent�o, h� m�ltiplos caminhos que levam a informa��o do medo para o c�rebro”, explica Abigail Marsh, professora de psicologia da Universidade de Georgetown. “Imagine estar passeando na floresta e, de repente, algo se mover no ch�o. Para que n�o haja risco de ser surpreendido, simultaneamente seu c�rebro vai agir de duas maneiras”, exemplifica Marsh. Uma delas � t�o r�pida que se manifesta antes mesmo de a poss�vel amea�a ser notada conscientemente. “Seu cora��o vai disparar, voc� vai suar frio e congelar”, exemplifica. Um segundo depois de congelar, a pessoa poder� perceber que se tratava apenas de folhas secas movidas pelo vento. Nesse caso, foi apenas um susto. Mas, se o c�rebro identificasse que o movimento no solo era o de uma cobra, o corpo inteiro seria avisado para reagir. Esse � o caminho longo, que identifica o perigo com mais precis�o e permite tomar decis�es.


Um coquetel de horm�nios bombardeia o organismo, desencadeando as rea��es t�picas do medo: pupilas dilatadas, pelos do bra�o arrepiados, sensa��o de frio no est�mago, respira��o ofegante, boca seca, batimentos card�acos acelerados. Tudo isso para preparar o corpo no caso de um ataque. Em segundos, processos fisiol�gicos n�o fundamentais, como a digest�o, s�o interrompidos, para que todos os �rg�os concentrem-se na rea��o � amea�a. O sangue � dirigido aos m�sculos, glicose e oxig�nio garantem mais energia, aumenta-se a produ��o de plaquetas e leuc�citos para combater poss�veis ferimentos. Pelo mesmo motivo, a bexiga e o intestino podem esvaziar. Os olhos ficam estatelados: s�o as pupilas prontas para enviar ao t�lamo qualquer est�mulo visual que represente um risco.


“Felizmente, nosso corpo tamb�m sabe como reverter essa resposta ao medo, e bem r�pido tamb�m”, conta Abigail Marsh. “O sistema nervoso parassimp�tico tem a habilidade de normalizar os batimentos card�acos e de baixar o fluxo de adrenalina”, esclarece. � por isso que, depois de levar um susto, tremer da cabe�a aos p�s e sentir que o cora��o vai sair pela boca, ao perceber que, em vez de uma cobra, trata-se de um monte de folhas secas sendo levadas pelo vento, em poucos segundos a pessoa volta a caminhar normalmente pela floresta, como se nada tivesse acontecido.

Pavor Por outro lado, h� indiv�duos que, mesmo sem amea�as externas, n�o s� experimentam a sensa��o de medo como s�o acompanhados por ela o tempo todo. Alguns cientistas acreditam que a s�ndrome do p�nico e o transtorno da ansiedade generalizada podem estar relacionados com a ativa��o do sistema fuja ou lute diante de acontecimentos estressantes do dia a dia. Nesses casos, o t�lamo identificaria no estresse  uma amea�a e, como no caminho curto, enviaria essa informa��o diretamente para a am�gdala, sem dar tempo para o c�rtex sensorial avaliar racionalmente o est�mulo.


O neuropsic�logo Justin Feinstein, da Universidade de Iowa, acredita, por�m, que os dist�rbios do medo passam longe da am�gdala, o que evidenciaria a participa��o de outras regi�es do c�rebro na forma��o da sensa��o de p�nico. Ele chegou a essa conclus�o ao estudar o curioso caso de uma mulher de 47 anos, conhecida como S.M., que sofre de uma rar�ssima condi��o gen�tica, a doen�a de Urbach-Wiethe, caracterizada pela aus�ncia de temor. Na adolesc�ncia, as am�gdalas de S.M. foram praticamente destru�das e, com elas, qualquer resqu�cio de medo. A paciente, uma bem-sucedida artista pl�stica, revelou que dar voltas em montanhas-russas, por exemplo, � algo divertido e engra�ado, mas que n�o consegue sentir nem um friozinho na barriga.


Em uma das muitas pesquisas cient�ficas das quais participou como volunt�ria, S.M. foi levada a uma loja de animais ex�ticos. Mesmo dizendo que n�o gosta de cobras, quis brincar e tocar nas mais perigosas, demonstrando que, de fato, � incapaz de sentir medo diante de um est�mulo externo. Contudo, em um teste desenvolvido pela equipe de Feinstein, a mulher experimentou uma sensa��o que h� d�cadas desconhecia: o pavor.


Para estimular a artista pl�stica a sentir medo, os m�dicos da Universidade de Iowa deram uma dose de CO2 para ela inalar. Entre 30 segundos a um minuto, o g�s, que provoca o engasgo, costuma induzir pessoas normais ao estado de terror, pois a sensa��o � de falta de ar. Pouco depois do in�cio do teste, S.M. gritou pedindo por ajuda. A artista descreveu aos m�dicos um estado mental terr�vel, “completamente novo”, que caracterizou como sendo p�nico. “Ela procurava por ar, seus batimentos card�acos se elevaram; ela estava completamente estressada, temendo por sua vida. Isso nos indica que o p�nico, ou seja, o medo ao extremo, � induzido em algum lugar fora das am�gdalas”, afirma Feinstein.

Rota do terror

De acordo com o psic�logo, enquanto informa��es do mundo externo s�o filtradas pelas pequenas estruturas esf�ricas antes de o medo ser produzido fisiologicamente, os sinais de terror originados dentro do indiv�duo seguem por uma rota diferente. “� uma descoberta que pode ser fundamental para explicar por que as pessoas t�m ataques de p�nico”, avalia.


O psic�logo Wil Cunningham, da Universidade Estadual de Ohio, concorda com Feinstein sobre a necessidade de se buscarem novas regi�es cerebrais associadas ao medo. “Quase todo estudo sobre o assunto mostra que, em situa��es de medo, as am�gdalas ficam ativas. Mas, no estudo das emo��es, n�o podemos nos fixar em uma parte espec�fica do c�rebro porque, ao que parece, elas est�o distribu�das por todo o �rg�o”, defende.


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