Desde que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi flagrado tirando uma foto de si mesmo acompanhado do primeiro-ministro brit�nico, David Cameron e da primeira-ministra da Dinamarca, Helle Thorning Schmidt, o tema veio � tona. Mas n�o foram s� eles. No ranking dos melhores selfies do ano, feito pelo weblog americano Mashable, est�o desde as cantoras Beyonc�, com seu novo corte de cabelo e Katy Perry, com um s�mio na selva, at� o vil�o Darth Vader, de 'Guerra nas estrelas'. No espa�o sideral, o astronauta Chris Cassidy teve seu momento e at� uma �guia conseguiu a proeza de se retratar usando uma c�mera surrupiada.
Ela afirma que o Facebook, ao contr�rio de redes sociais como o Whatsapp, que permitem um contato mais objetivo, tem um tra�o mais narc�sico. Os usu�rios fazem quest�o de tirar fotos caprichadas, em seu melhor �ngulo, usando maquiagem... “� um tra�o de inseguran�a. A pessoa precisa da resposta, da famosa curtida. Quando n�o acontece vem a decep��o”, afirma. Ela explica que � comum atender pacientes no seu consult�rio com esse problema. Eles postam o que fizeram, onde estavam e ningu�m d� resposta. “A necessidade de registrar e tornar p�blicos os momentos especiais da vida corresponde � necessidade de se mostrar privilegiado, inserido num mundo especial, ao mesmo tempo que provoca no espectador uma sensa��o de estar fora. Quando ele curte, se sente tamb�m inclu�do. H� at� uma express�o relativa a este medo de 'ficar de fora’. � a ‘fomofobia’, representada pela sigla Fiomo, que vem do Fear Of Missing Out (medo de perder).”
De acordo com a psiquiatra, esse mal � completamente contempor�neo e universal. Os indiv�duos s� se sentem seguros e felizes a partir do reconhecimento alheio. “H� diversas situa��es em que as pessoas deveriam desfrutar do momento e se satisfazerem, mas querem ser vistos, ter a admira��o do outro.” Ela conta que em uma recente exposi��o na Tate Modern, em Londres, ficou admirada de os visitantes ficarem preocupados apenas em se registrar diante das obras de arte, sem ao menos observ�-las por um segundo. Os turistas querem mostrar a todos que est�o em um lugar privilegiado, provocar um tipo de inveja, explica. Para se ter uma ideia da magnitude do fen�meno, 880 bilh�es de fotografias ser�o tiradas em 2014 por selfies, tanto faz homens, mulheres e crian�as.
Paoliello acredita que a cultura da auto-imagem nas redes sociais � um caminho sem volta. “As redes s�o um instrumento fant�stico, mas tudo que � demais vira veneno. Os fen�menos s�o c�clicos. Vai chegar num ponto que as pessoas v�o ter um pouco mais de pudor e vai haver um recolhimento. Atualmente, vivemos em um big brother o tempo inteiro. Maiores e menores intimidades s�o expostas”, aponta. Para ela, uma ang�stia, um “buraco na vida” leva as pessoas a esse tipo de exacerba��o. As pessoas felizes n�o precisam disso, n�o t�m esse tipo de exagero. Chegar� um momento na vida que esse tipo de instrumento vai falhar e elas v�o buscar ajuda.

Quando tinha 12 anos, a estudante e hostess Luz Gomes, de 22 anos, pediu uma c�mera fotogr�fica como presente de Natal. Na �poca, ainda era preciso revelar as fotos, muito mais dif�cil para conferir se o autorretrato tinha sa�do como queria. “Acho fant�stico estar nesta era tecnol�gica. Parece m�gico!”, entusiasma-se a jovem apaixonada por selfies. Ela gosta de registrar, especialmente, momentos de viagens, baladas e encontros com os amigos. Luz diz defender o direito de livre express�o. “Esse tipo de foto � uma coisa do momento, que est� na moda. � divertido e n�o custa nada faz�-las”, afirma.
Para ela, o selfie virou uma pr�tica em alta gra�as ao sucesso do aplicativo Instagram, que tem por objetivo “se mostrar, compartilhar o que se est� fazendo e com quem”. Na sua conta na rede ela tem cerca de mil seguidores e suas fotos fazem sucesso. Cada post ganha cerca de 150 curtidas. Normalmente, ela usa aplicativos de edi��o de imagem nos seus autorretratos. “Os filtros s�o como um photoshop expresso! Para cada foto h� um melhor. O Instagram oferece diversos. Gosto muito do Val�ncia, que d� uma claridade na imagem, mas tem outros que deixam preto e branco, azuladas... Vai depender do seu gosto no momento”, diz.
A hostess tem um Motorola Razr D3 com 8MP e grava��o em HD. Apesar disso prefere tirar fotos com sua c�mera semiprofissional Canon XS130, com resolu��o de 12MP, o que ajuda muito na qualidade das fotos. Luz tem ainda uma t�cnica especial para fazer autorretratos. “Requer uma boa ilumina��o. Aproveitar a luz natural do dia ajuda muito. � importante capturar o melhor �ngulo”, diz. Se for em casa, ela explica que � melhor ficar mais pr�xima da janela, que mant�m o ambiente mais claro. Segundo ela, n�o adianta encontrar um bom �ngulo se o fundo atrapalhar. � preciso olhar ao redor. J� se for ao ar livre, Luz diz que � recomend�vel procurar uma paisagem antes. “Usar a c�mera frontal � a melhor dica, pois voc� consegue definir melhor seu �ngulo, ver como est� saindo e ter uma no��o da foto”, ressalta.
DESDE O FOTOLOG
Para o designer gr�fico Vin�cius Louren�o, de 27 anos, mais conhecido como Glico G�nio, o selfie n�o � nenhuma novidade. “Isso j� existia desde a �poca do fotolog. Depois de terem criado a cibershot todo mundo faz”, brinca. Ele tira alguns autorretratos, mas nada que se compare � persegui��o de Luz pelo melhor �ngulo. Normalmente, Glico faz fotos de si quando quer mostrar algo que est� usando, como uma roupa ou um bon� novo. Outras situa��es comuns para selfies � quando viajam ou v�o para a balada com os amigos.
Glico n�o se at�m muito a t�cnicas especiais para se fotografar. “Talvez uma boa op��o seja no espelho, com c�mera invertida. O legal do selfie � isto: voc� v� como fica”, afirma. Ele costuma usar dois aplicativos de edi��o de imagens que oferecem recursos de cor, corte, ilumina��o e contraste: Asterlight e C�mera mais. Apesar de n�o ser um autorretratista compulsivo, o designer n�o acha que seja ruim a pr�tica do selfie. “Quem critica com certeza tem uma. Quando a pessoa faz um selfie quer mostrar a imagem naquele instante. Talvez esteja num ponto tur�stico. Povo adora criticar um tempo comum”, ressalta.