Silas Scalioni
Trens flutuantes que podem viajar a 400 km/h ligando grandes cidades ou se locomovendo a velocidades menores funcionando como transporte coletivo urbano e a um custo de implanta��o significativamente menor do que o investimento necess�rio para uma linha convencional de metr�. Isso pode at� parecer fic��o ou projetos na pauta s� de pa�ses de Primeiro Mundo. Entretanto, em breve pode ser uma realidade aqui mesmo no Brasil, que vem desenvolvendo um programa capaz de revolucionar o sistema de transportes no pa�s.
A novidade responde pelo nome de Maglev Cobra, o primeiro trem brasileiro de levita��o magn�tica, que finalmente come�a a sair do papel. Desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de P�s-Gradua��o e Pesquisa em Engenharia (Coppe) e pela Escola Polit�cnica por meio do Laborat�rio de Aplica��es de Supercondutores (Lasup), o projeto j� apresenta a constru��o de uma esta��o que liga dois centros de tecnologia do c�mpus da UFRJ, que servir� como teste final para o funcionamento do ve�culo. A implanta��o se d� gra�as a um conv�nio entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) e a Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O prot�tipo do Maglev Cobra ter� capacidade de transportar at� 30 passageiros em quatro m�dulos.

De acordo com os respons�veis pelo programa brasileiro, o trem n�o emite ru�do nem gases poluentes. Tamb�m n�o haveria risco de o campo magn�tico do trilho afetar a sa�de dos passageiros. A emiss�o magn�tica do ve�culo medida em laborat�rio � bem menor do que a emitida por um fone de ouvido ou celular . “O Maglev Cobra p�e o Brasil em um n�vel de destaque no mundo das tecnologias de levita��o”, afirma o coordenador do Laborat�rio de Aplica��es de Supercondutores da UFRJ e coordenador do projeto, Richard Stephan. Segundo ele, al�m de ser sustent�vel, o trabalho infraestrutural do Megalev chega a ser 70% mais barato do que as obras de um metr� subterr�neo. Como compara��o, basta dizer que a constru��o de uma linha de metr� no Rio de Janeiro tem custo avaliado em cerca de R$ 100 milh�es por quil�metro. J� no caso de um trem por levita��o magn�tica, o pre�o da obra por quil�metro seria somente R$ 33 milh�es.
Por ser uma novidade ainda com poucos exemplos de uso, h� muitas d�vidas sobre o projeto, respondidas na p�gina oficial do Megalev. Uma delas � de o trem descarrilar se houver interrup��o de energia. Na verdade, o trem tem autonomia para um dia inteiro de opera��o. Enquanto os criostatos estiverem com nitrog�nio l�quido, ele n�o se descola da linha magn�tica. E, claro, o sistema de seguran�a passar� por homologa��o antes de entrar em opera��o.
Solu��o?
S� na d�cada de 80 foi poss�vel obter supercondutores de alta temperatura cr�tica. Embora a ci�ncia soubesse das propriedades de levita��o dos supercondutores desde o s�culo 19, foi necess�rio o desenvolvimento tecnol�gico em diversas �reas para que se tornasse poss�vel a constru��o desse ve�culo. O Laborat�rio de Aplica��o de Supercondutores da UFRJ (Lasup) dedica-se a aperfei�oar e estudar a aplica��o da tecnologia dos supercondutores. Foi por meio dos estudos do Lasup que a tecnologia maglev mostrou-se uma solu��o urbana fact�vel.
Possivelmente, novos sistemas urbanos para transporte usando a levita��o ir�o surgir na pr�xima d�cada. Muitas pessoas que creditam o aquecimento global � polui��o veicular acreditam que o Maglev � a solu��o para todos os problemas. Mas os respons�veis pelo projeto ressaltam que n�o �. Eles acreditam, sim, que o Maglev Cobra ser� um passo significativo para a redu��o das emiss�es de gases poluentes para a atmosfera.
Para saber detalhes sobre o projeto, visite o site www.maglevcobra.com.br/
Como funciona
No caso brasileiro a vers�o escolhida � a levita��o magn�tica supercondutora, bem simples: uma placa de cer�mica supercondutora, ao ser resfriada com nitrog�nio l�quido, produz o efeito de levita��o sobre um im� de neod�mio – feito a partir de uma composi��o dos elementos qu�micos neod�mio (Nd), ferro (Fe) e boro (B). Trata-se da mais moderna tecnologia nesse segmento, o que justifica ainda n�o haver uma linha de teste em escala real. No projeto brasileiro foram realizados testes de bancadas com os componentes isolados e a finaliza��o deles � justamente montar o ve�culo e testar todos os componentes interligados, formando assim o sistema Maglev Cobra. Inicialmente, o programa implantar� uma linha curta de testes, mas depois contar� com outra, bem mais completa, dentro da UFRJ, capaz de transportar 20 mil alunos por dia, o que dar� a aprova��o final ao sistema deixando-o, ent�o, pronto para uso comercial.
De onde vem?
Grande parte do ar que n�s respiramos � nitrog�nio. O nitrog�nio l�quido � obtido em ind�strias de gases como um subproduto decorrente da fabrica��o do oxig�nio l�quido, necess�rio para ind�strias e hospitais. O nitrog�nio fica l�quido a uma temperatura de -196 graus cent�grados. Ao aquecer, ele torna-se g�s novamente e volta para a atmosfera. Sem polui��o alguma.
TR�S PERGUNTAS PARA...
. Richard Stephan
. coordenador do projeto MagLev Cobra
No que se baseia e quais s�o os objetivos do projeto?
A primeira inten��o � ligar pontos estrat�gicos, como aeroportos, para em seguida fixar paradas no meio do percurso at� fazer conex�o com as principais linhas de metr� nas grandes cidades. A tecnologia prop�e um ve�culo com v�rias unidades curtas, assemelhando-se a uma cobra, permitindo curvas e rampas mais acentuadas, e velocidade de at� 70 km/h. Esses materiais foram disponibilizados no final do s�culo 19 e at� hoje n�o h� sistema do tipo em uso comercial. Um motor linear d� a tra��o. Como a propuls�o s� precisa de energia el�trica, o Maglev Cobra tem um efeito poluente baixo. Com m�nimo n�vel de emiss�o de ru�do, o ve�culo pode ser executado em cidades, em estruturas elevadas.
Quais tipos de tecnologias s�o usadas e quanto tempo para viabiliz�-lo?
O ve�culo proposto tem uma apar�ncia futurista, incorporando alta tecnologia, design moderno e os requisitos ambientais e sociais. Acreditamos que a partir de 2015 a tecnologia estar� madura para o in�cio da comercializa��o. A inten��o � substituir as rodas por sistemas de levita��o. A tecnologia pode ser aplicada de diferentes maneiras (levita��o eletrodin�mica, eletromagn�tica e supercondutora) e � baseada nas propriedades de supercondutores de alta temperatura (HTSS) e o campo magn�tico de Nd-Fe-B imans. A tecnologia de ponta utilizada no Maglev carioca � � base de nitrog�nio super-resfriado em c�psulas e a sua proximidade com os trilhos magnetizados por meio de poderosos �m�s provoca o efeito de levita��o. O primeiro desses m�dulos j� foi testado nos laborat�rios da UFRJ e suportou muito bem o peso de seis adultos.
J� existe algo semelhante no mundo?
A tecnologia Maglev vem sendo pesquisada h� mais de 40 anos na Alemanha e no Jap�o. No entanto, em uso comercial, h� atualmente apenas duas linhas: uma em Shanghai e outra conhecida como HSST (www.hsst.jp), inaugurada para a Expo 2005, no Jap�o, num trecho de aproximadamente nove quil�metros objetivando o transporte de baixa velocidade.