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Estado de Minas

Ressaca n�o impede desejo por mais �lcool

Estudo conduzido nos Estados Unidos mostra que o mal-estar sentido ap�s o consumo exagerado de bebidas et�licas tem pouca influ�ncia sobre a decis�o de tomar novas doses


postado em 05/03/2014 00:12 / atualizado em 05/03/2014 20:20

Vilhena Soares

Muita dor de cabe�a e uma sede insaci�vel. Quem costuma beber conhece bem os sintomas da ressaca. Durante o inc�modo, s�o comuns as promessas de que o �lcool se tornar� coisa do passado ou, pelo menos, ser� mantido longe durante um bom tempo. Contudo, pesquisa realizada nos Estados Unidos e publicada na revista especializada Alcoholism: Clinical & Experimental Research mostra que o mal-estar n�o costuma impedir nem adiar novas doses no dia seguinte.

Depois de analisar, durante 21 dias, o comportamento de 386 volunt�rios que bebiam frequentemente, os cientistas respons�veis pelo estudo conclu�ram que a ressaca tem pouca influ�ncia na decis�o de voltar a consumir �lcool. “Os participantes fizeram um di�rio todas as manh�s e foram convidados a avaliar a probabilidade de beber mais tarde no mesmo dia. Mesmo quando os bebedores declaravam sofrer agudamente por uma ressaca, isso n�o afetava as inten��es de consumo consciente. Em m�dia, o intervalo entre epis�dios de consumo foi prorrogado por apenas algumas horas pela ressaca”, explica Thomas Piasecki, professor de psicologia da Universidade de Missouri e autor principal do estudo.

De acordo com Damaris Rohsenow, coautora do estudo e professora de ci�ncias comportamentais e sociais na Universidade de Brown, o prazer proporcionado pelo �lcool costuma falar mais alto que suas consequ�ncias para os bebedores frequentes. “Uma ressaca n�o atrasa ou reduz as chances de beber de novo porque as pessoas n�o se incomodam muito com ela e porque o prazer de intoxica��o por �lcool � mais importante para esses indiv�duos. O prazer imediato � priorizado”, diz.

Para Piasecki, as descri��es colhidas indicam que outros fatores t�m muito mais peso na decis�o das pessoas de beber ou n�o no outro dia. “Sem d�vida, isso reflete o fato de que o comportamento de beber � determinado por uma s�rie de fatores, como o dia da semana, a oportunidade e os planos sociais. A ressaca pode ter um papel nas margens dessa decis�o”, explica Piasecki. “Isso significa que teremos de procurar outras explica��es para essa liga��o, como a possibilidade de que as ressacas s�o marcadores de outras diferen�as individuais, como as diferen�as de sensibilidade aos efeitos de �lcool ou uma tend�ncia a experimentar fortes desejos ligados ao consumo do �lcool”, acrescenta.

O psic�logo justifica o interesse na ressaca porque epis�dios de mal-estar ap�s uma bebedeira podem trazer importantes informa��es sobre como o �lcool afeta a sa�de f�sica e mental. “Espero que os pesquisadores dirijam mais aten��o � ressaca, que tem sido um tema pouco explorado em estudos de �lcool.” “Os resultados nos encorajam a pensar em hip�teses alternativas que ligam ressacas e alcoolismo, tais como a possibilidade de que as ressacas s�o bons marcadores para outros fatores de risco”, destaca Piasecki.

Outra constata��o do experimento americano � que beber mais para curar o inc�modo f�sico n�o se mostra eficaz. Nos relatos, ficou claro que, mesmo voltando a ingerir �lcool, os volunt�rios seguiram com os sintomas causados pela bebedeira. Segundo Arthur Guerra de Andrade, psiquiatra e chefe do Grupo Interdisciplinar de Estudos de �lcool e Drogas (Grea), nesse ponto a pesquisa ajuda a desmentir uma cren�a que n�o tem nenhuma comprova��o cient�fica.

“Todo n�s ouvimos, em algum momento, que ao beber mais voc� corta o efeito da ressaca. At� repetem que, para combater fogo, s� mais fogo ainda. Isso, por�m, n�o � verdade. Esse � um mito que eu acreditava ser mais caracter�stico no Brasil, mas agora, com esse trabalho, vejo que ele tamb�m existe em outro pa�s”, afirma Andrade, que n�o participou do estudo.

O especialista tamb�m acredita que o trabalho traz novas discuss�es acerca da ressaca que podem auxiliar em novas pesquisas. “Como m�dico, acredito que traga outras linhas de pesquisa interessantes, principalmente quanto � sa�de p�blica. Ele nos ajuda a chamar a aten��o para pessoas que bebem por mais tempo, que s�o ‘fortes para bebida’, e a entender por que agem assim”, prossegue. “Penso que estudar fatores preditores da ressaca tamb�m seria interessante. Se mulheres que est�o em per�odo menstrual sofrem mais com ela, por exemplo, ou se rapazes que fazem mais exerc�cios sofrem menos, ou se isso tem alguma raiz depressiva”, completa Andrade. Na avalia��o de Luciana Diniz, professora-adjunta do Departamento de Cl�nica M�dica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a pesquisa se destaca pela quantidade de pessoas acompanhadas. “Sabemos muito pouco sobre a ressaca. Os trabalhos que conhe�o envolveram um n�mero pequeno de pessoas. Esse estudo tem um n�mero mais abrangente, o que ajuda em termos de maior validade nos resultados”, destaca.

Fen�meno

A pesquisadora tamb�m frisa que mais investiga��es contribuir�o para uma vis�o melhor do fen�meno. “Acredito que considerar caracter�sticas individuais nos pr�ximos trabalhos, com an�lise de pessoas que n�o t�m o costume de beber tanto, por exemplo, possam nos ajudar. Falar tamb�m das crises de abstin�ncia do �lcool e seus efeitos pode auxiliar a entender melhor o assunto. Acredito tamb�m que esse tema necessita de descobertas maiores, pois pode nos fornecer informa��es importantes, que sirvam como orienta��o de campanhas de sa�de contra o alcoolismo, que, na minha opini�o, ainda fazem falta no nosso sistema de sa�de”, acredita.

Thomas Piasecki adianta que sua equipe continuar� estudando o tema. “Ainda precisamos obter a imagem completa desse problema. Por exemplo, a ressaca pode n�o adiar um novo consumo, mas pode levar a redu��es na quantidade de �lcool consumida em epis�dios subsequentes. Esperamos que em trabalhos futuros possamos tamb�m olhar para fatores gen�ticos relacionados com esse mal-estar e se eles se sobrep�em a genes ao qual atribu�mos o risco para o alcoolismo”, revela.

Ass�dio nos bares
Outro estudo publicado na Alcoholism: Clinical & Experimental Research mostra que homens que agridem mulheres sexualmente (for�ando ou insistindo em contato de cunho sexual de algum tipo) em bares ou casas noturnas escolhem como alvos v�timas que aparentam estar embriagadas. Quanto maior a quantidade de �lcool consumida por uma mulher nesses ambientes, maior a chance de ser assediada. Segundo os autores, isso sugere que os respons�veis pelo ataque percebem as mulheres embriagadas como alvos mais vulner�veis ou poss�veis de ser responsabilizadas pela viol�ncia que sofrem. Os autores observaram 1.057 incidentes de agress�o durante 1.334 visitas a 118 bares em Toronto (Canad�).

 


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