
Os testes com probi�ticos no Laborat�rio de Imunobiologia do ICB s�o feitos com camundongos e deve demorar alguns anos para que experimentos sejam feitos com humanos. Ainda n�o se sabe de que forma ele ser� administrado em pessoas, se na forma de um medicamento ou um simples iogurte, j� que a bact�ria usada nos experimentos � da esp�cie Lactococcus lactis, amplamente usadas em latic�nios.
O processo de patenteamento j� foi iniciado. Mas para qualquer produ��o em escala industrial � preciso ainda que laborat�rios se interessem pelo estudo, desenvolvam um produto para uso humano e acompanhem a evolu��o dos testes. Se hoje houvesse patroc�nio, os testes demorariam cerca de tr�s anos. “O processo � longo e caro. A UFMG tem a Coordenadoria de Transfer�ncia e Inova��o Tecnol�gica (CTIT) que ajuda pesquisadores a fazer patentes e entrar em contato com laborat�rios. Existem cons�rcios internacionais (conveniados no Brasil com a Finep, empresa p�blica ligada ao Minist�rio de Ci�ncia, Tecnologia e Inova��o) com or�amento para levar a pesquisa para a etapa de teste cl�nicos em humanos”, ressalta a professora do Departamento de Bioqu�mica e Imunologia do ICB, Ana Maria Caetano Faria, coordenadora da pesquisa.
Apesar disso, a pesquisa aparece como uma esperan�a para quem sofre com os sintomas das doen�as inflamat�rias cr�nicas. Hoje, elas s�o tratadas com imunossupressores e outras medica��es que t�m alto custo ou apresentam efeitos colaterais graves. “Quando tivermos uma formula��o para humanos, queremos test�-la em pacientes com doen�as intestinais cr�nicas do Hospital das Cl�nicas, parceiro da UFMG”, explica a pesquisadora. Ela destaca ainda a import�ncia do estudo diante do aumento das enfermidades inflamat�rias de modo geral. “Essas doen�as cresceram muito nos pa�ses emergentes e o Brasil est� nesse grupo. A eleva��o de casos de diabetes, obesidade ou doen�as inflamat�rias intestinais tem rela��o direta com as mudan�as de h�bitos alimentares e de vida”, destaca. A Lactococcus lactis foi escolhida por sua seguran�a de uso e pela produ��o natural de fatores anti-inflamat�rios no organismo. Existem v�rios micro-organismos n�o patog�nicos presentes na microbiota do intestino humano, onde h� cerca de trilh�es de bact�rias de 500 a 1.000 esp�cies diferentes.
Pulso eletromagn�tico
Para alcan�ar o efeito desejado na terapia, a bact�ria Lactococcus lactis sofre um pulso eletromagn�tico, recebe uma carga de material gen�tico e come�a a produzir uma prote�na, chamada prote�na de choque t�rmico, com alto poder anti-inflamat�rio. O processo � feito por profissionais do Laborat�rio de Gen�tica Celular e Molecular do Departamento de Biologia, que s�o colaboradores da pesquisa. “Sozinha, a bact�ria n�o teria o efeito desejado. Por isso ela � manipulada geneticamente, a ponto de come�ar a produzir essa prote�na de choque t�rmico que atua no combate �s doen�as inflamat�rias”, explica o bi�logo, pesquisador e professor de gen�tica do departamento, Anderson Miyoshi.
Ana Maria Faria explica a atua��o da prote�na no organismo. “Normalmente, ela j� est� presente em todo o corpo, mas em n�veis mais baixos. Mas se apresenta em concentra��o maior nas situa��es de inflama��o dos tecidos do corpo e, quando administrada por via oral, induz mecanismos anti-inflamat�rios para pontos espec�ficos onde ela est� presente em altas concentra��es”, afirma a cientista, destacando que, dessa forma, a prote�na passa a gerar mecanismos para regular a inflama��o.
Terapia age no foco do problema
Para entender a atua��o pr�tica do probi�tico modificado geneticamente, basta analisar os testes feitos com camundongos que receberam o ant�geno da esclerose m�ltipla. Com o passar do tempo eles perderam o movimento do rabo, das patas traseiras e posteriormente das dianteiras, at� parar de andar. A paralisia ocorreu devido a uma inflama��o na bainha de mielina, estrutura do sistema nervoso que permite a condu��o r�pida de impulsos nervosos e, consequentemente, dos movimentos. Depois de submetidos a doses da bact�ria que produz a prote�na de choque t�rmico, os animais retomaram os movimentos, j� que a subst�ncia atua na desinflama��o da bainha. Quando a aplica��o do probi�tico � feita antes do surgimento da doen�a, os sintomas nem mesmo aparecem. Ou seja, � poss�vel prevenir a enfermidade. Quando j� s�o notados, eles diminuem consideravelmente”, explica a coordenadora da pesquisa, Ana Maria Caetano Faria.
A terapia com probi�ticos se diferencia em rela��o aos tratamentos com imunossupressores por agirem no foco da inflama��o. J� os medicamentos melhoram a doen�a, mas suprimem o sistema imunol�gico, o que torna a pessoa mais suscet�vel a infec��es. Outro obst�culo no uso das drogas para tratamento da esclerose m�ltipla � a impossibilidade de se administrar os imunomoduladores e imunossupressores em situa��es como gesta��o, lacta��o, depress�o, insufici�ncia card�aca e hep�tica.
“Trabalhamos h� mais de 20 anos no ICB/UFMG com o intuito de criar alternativas terap�uticas para doen�as inflamat�rias cr�nicas, principalmente as autoimunes, caso da esclerose m�ltipla. Essa foi a primeira, mas estamos testando em outras doen�as, como artrite reumatoide – que afeta as articula��es – e as doen�as intestinais, como a doen�a de Crohn e a colite ulcerativa. Tamb�m j� comprovamos, em experimentos com infec��o por Salmonella, que o nosso probi�tico n�o causa imunossupress�o, pois ele n�o interfere na imunidade anti-infecciosa”, acrescenta a cientista.
Em todos os procedimentos desenvolvidos para esta pesquisa os animais s�o anestesiados. O artigo do estudo feito no caso da esclerose m�ltipla foi publicado no ano passado, enquanto o estudo da aplica��o de probi�ticos nos casos de colite deve ir a publica��o at� o fim deste semestre.
Cientifiqu�s - Gloss�rio
Probi�ticos – micro-organismos vivos (como bact�rias, fungos e leveduras) de atua��o funcional ben�fica no organismo, t�m efeito sobre o equil�brio bacteriano intestinal: controle do colesterol e de diarreias e redu��o do risco de c�ncer. Os probi�ticos podem ser componentes de alimentos industrializados presentes no mercado, como leites fermentados, iogurte, ou podem ser encontrados na forma de p� ou c�psulas.
Doen�as autoimunes – doen�as em que as pessoas t�m uma reatividade imunol�gica aos componentes do pr�prio corpo, gerando inflama��es, a exemplo do diabetes, da artrite reumatoide e da esclerose m�ltipla. Doen�as inflamat�rias cr�nicas – grupo de doen�as inflamat�rias de longa dura��o que causam les�o dos tecidos e �rg�os, podendo ser de origem autoimune ou n�o, a exemplo da colite ulcerativa, da doen�a de Crohn, da obesidade, da aterosclerose e da esclerose m�ltipla.
Doen�as degenerativas – doen�as cr�nicas que levam a les�es nos tecidos e �rg�os e perda de fun��o, podendo ser inflamat�rias ou n�o, a exemplo da doen�a de Alzheimer, da artrose, do glaucoma, da esclerose m�ltipla.