Isabela de Oliveira
Um exemplo � o projeto em desenvolvimento no Instituto de F�sica de S�o Carlos, da Universidade de S�o Paulo (IFSC/USP). O professor Jo�o Paulo Lemos Escola, tecn�logo em inform�tica, decidiu aprimorar o conhecimento j� consolidado em biometria (processo de reconhecimento baseado em caracter�sticas fisiol�gicas ou comportamentais) para modernizar um dos mais antigos m�todos de identifica��o: a assinatura.
A l�gica por tr�s da t�cnica criada pelo brasileiro � simples. Algumas caracter�sticas da escrita de uma pessoa n�o s�o impressas apenas no papel. O padr�o de som que a caneta gera ao entrar em contato com a folha, por exemplo, � �nico em cada rubrica. A partir da�, Jo�o Paulo teve a ideia de desenvolver um sistema que pudesse atestar a veracidade de uma assinatura a partir dos ru�dos que ela promove. O m�todo poder� ser �til no reconhecimento de clientes de bancos e cart�rios, por exemplo.
Desde 2007, o grupo de pesquisa do especialista, que � professor efetivo do Instituto Federal de Educa��o, Ci�ncia e Tecnologia de S�o Paulo, estuda atividades relacionadas ao processamento de �udio. A equipe se concentra, especialmente, em Wavelet, uma t�cnica que permite converter sinais do dom�nio do tempo, como uma m�sica, em sinais de frequ�ncia.
O conhecimento acumulado nesse tempo permitiu que os cientistas coletassem as frequ�ncias mais importantes do som da escrita e as transferissem para o computador. Para isso, o primeiro passo foi incorporar um microfone a uma caneta esferogr�fica comum para capturar os ru�dos de uma assinatura. Os sinais de �udio s�o, ent�o, processados por softwares que convertem a informa��o em dados a serem interpretados pelo sistema. “O ru�do da escrita de cada indiv�duo ser� sempre parecido, ainda que tenha algumas oscila��es. O que generaliza essas informa��es � o software. Ele informa a probabilidade de uma assinatura pertencer ou n�o � pessoa a partir da an�lise dos padr�es que ela tem na hora de escrever”, descreve Jo�o Paulo.
Intervalos
O grau de sucesso na valida��o da assinatura depende de um algoritmo combinado a uma t�cnica chamada M�quina de Vetor de Suporte (SVM) – sistema computacional que analisa dados e reconhece padr�es. O modelo foi treinado para “aprender” os tra�os de cada uma das quatro pessoas que forneceram assinaturas reais para o experimento. Esse aprendizado s� foi poss�vel porque o prot�tipo analisa as informa��es com uma rede neural artificial (RNA), um programa de computador inspirado no sistema nervoso de seres vivos. Portanto, assim como ocorre no c�rebro humano, as RNAs conseguem adquirir e administrar conhecimento.
O �udio repassado para o c�rebro virtual � salvo no computador em formato WAV, modelo mais simples de armazenamento de amostras digitalizadas de �udio. Ele permite que os pesquisadores dividam a faixa de frequ�ncias aud�veis pelo ouvido humano em 25 intervalos, chamados de bandas cr�ticas. Quando s�o captados simultaneamente dois ou mais sons de frequ�ncias diferentes, mas pertencentes � mesma banda cr�tica, o de maior amplitude mascara qualquer outro �udio de amplitude menor. Esses padr�es emitidos pela escrita das assinaturas s�o “aprendidos” pela rede neural, e � ela a respons�vel por diferenciar os indiv�duos que est�o no sistema daqueles que n�o est�o. Isso significa que a t�cnica n�o acusa a assinatura errada, apenas a certa.
“Por isso, a pol�tica da institui��o deve ser de analisar se o indiv�duo � mesmo quem diz ser, pois, se ele n�o pertence � base, o sistema n�o tem como saber”, afirma o autor. Jo�o Paulo Escola estima que a t�cnica n�o ser� cara caso chegue a ser comercializada, porque utiliza uma caneta comum com um microfone de eletreto embutido. Tudo isso custa menos de R$ 1. “Se voc� somar isso a 1 metro de cabo de �udio e um conector P2, vai ter um custo de produ��o de menos de R$ 5 para cada caneta”, calcula o pesquisador.
O pr�ximo passo da pesquisa, segundo o autor, � a implementa��o de novas fun��es � caneta, como a captura da imagem da assinatura. Al�m disso, outra possibilidade � a inclus�o de um sensor de impress�o digital na caneta. Ele permitir� que a imagem da caligrafia e da impress�o digital do usu�rio sejam registradas simultaneamente, uma combina��o que deve melhorar o �ndice de acerto.
Efici�ncia
Do jeito que est�, a caneta acertou em 90% das vezes que foi utilizada. A marca ainda n�o � suficiente para proteger bancos e cart�rios, diz Carlos Maziero, coordenador do Programa de P�s-Gradua��o em Computa��o Aplicada da Universidade Tecnol�gica Federal do Paran� (UTFPR). Ele destaca que o trabalho � interessante, mas pontua que o �ndice de acerto precisa ser o mais pr�ximo poss�vel de 100%. “Isso depende do que voc� quer proteger. Por exemplo, se um pr�dio p�blico deixa um estranho a cada 100 entrar, ent�o h� 99% de acertos, e esse valor � razo�vel para esse caso. Mas, se for uma conta de banco, n�o d� para ter menos do que 100%”, alerta. Maziero, que n�o participou do estudo, ressalta que a pesquisa est� no caminho certo, porque a biometria � considerada, hoje, a t�cnica de prote��o mais eficiente, especialmente a de reconhecimento de retina, que identifica os padr�es do sistema circulat�rio do fundo do olho.
Por ser complexo e caro, esse m�todo est� dispon�vel apenas para grandes empresas. Isso faz com que projetos como os de Jo�o Paulo Escola sejam importantes para ampliar o uso da biometria nos sistemas de seguran�a. At� porque, diz Maziero, as opera��es que utilizam login e senha est�o perdendo espa�o para novas tecnologias por serem fr�geis e facilmente decifradas. “As autentica��es multifatores, aquelas que utilizam v�rios m�todos de uma vez, ganhar�o cada vez mais for�a”, aposta o especialista.
Tr�s perguntas para...
Eudes da Silva Barboza, analista de Tecnologia da Informa��o e professor do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE)
O sistema de seguran�a por senhas est� ficando cada vez mais fr�gil. O que podemos esperar desse tipo de tecnologia?
Os meios de autentica��o por senha est�o, sim, mais fr�geis. � evidente que o meio de autentica��o convencional por senha ter� que ser transformado, ou melhor, substitu�do por alguma outra forma de autentica��o.
Existe algum dispositivo capaz de oferecer 100% de seguran�a?
Por mais que se invista em seguran�a da informa��o, n�o existe sistema perfeito. A pesquisa de Jo�o Paulo Escola segue uma linha inovadora na �rea de biometria por manuscrito e pode ser implementada em qualquer sistema de autentica��o por se tratar de um meio de reconhecimento n�o invasivo. Agora, vale salientar que, como qualquer sistema de autentica��o, esse ter� de conter, no m�nimo, dois fatores de verifica��o para ser validado. O problema � que as melhores t�cnicas de reconhecimento de indiv�duo, como o caso de biometria de DNA ou por �ris, s�o tecnologias caras, muito invasivas e at� desconfort�veis para o usu�rio.
O que podemos fazer para nos proteger?
Eu recomendo a todos que necessitam realizar transa��es eletr�nicas de valores pela internet ou telefone que utilizem dispositivos criptogr�ficos (e-token, cart�es inteligentes etc.), para garantir a confiabilidade, a integridade e a disponibilidade nos servi�os banc�rios. Tamb�m que o usu�rio obtenha um bom antiv�rus e tome certas precau��es, como n�o abrir qualquer tipo de e-mail nem instalar softwares gratuitos e piratas que precisam de crackers (software usado para quebrar um sistema de seguran�a qualquer).