Ele foi escolhido como mascote da Copa do Mundo no Brasil por ter a capacidade de se transformar em uma bolinha, mas essa caracter�stica do tatu-bola acaba funcionando como um gol contra a esp�cie, se o time advers�rio que ele encontrar pela frente for de seres humanos.
Toda vez que se assusta, em vez de correr em disparada ou cavar um buraco, como outros tatus, o bola se enrola dentro de uma dura carapa�a. O que ao longo da evolu��o foi uma excelente estrat�gia para evitar a maioria dos predadores, no conv�vio com humanos, por�m, faz com que ele seja facilmente pego pelas m�os por ca�adores. O mam�fero aparece como "vulner�vel" na Lista Vermelha de esp�cies amea�adas de extin��o divulgada pela Uni�o Internacional para a Conserva��o da Natureza (IUCN).
A categoria � a de menor risco da entidade. Mas pesquisadores brasileiros, em levantamento encomendado pelo Instituto Chico Mendes de Conserva��o da Biodiversidade (ICMBio), j� identificaram que o problema � maior. A esp�cie, segundo eles, est� "em perigo", o que deve alterar a classifica��o em uma atualiza��o futura da lista.
A amea�a vem da perda de h�bitat - o animal � caracter�stico da Caatinga, bioma que j� teve quase metade de sua �rea original desmatada - e da ca�a de subsist�ncia e de divers�o.
"O tatu-bola foi capaz de desenvolver uma habilidade fant�stica, que permite que ele se proteja at� de uma on�a-pintada, mas n�o do homem", afirma o bi�logo Jos� Alves de Siqueira, da Universidade Federal do Vale do S�o Francisco.
A condi��o da esp�cie fica ainda mais delicada quando a f�mea est� no cio. Pesquisadores j� observaram que elas costumam ser seguidas por uma fila de v�rios machos. "Se um ca�ador chega perto deles e bate palma, todos viram bolinhas. Ele pega todos de uma vez s�", conta o tamb�m bi�logo Enrico Bernard, da Universidade Federal de Pernambuco.
Gol pela prote��o
A dupla de pesquisadores e colegas publicou, no final de abril, na revista Biotropica, um alerta sobre a situa��o e um desafio para que o fato de ele ser mascote da Copa sirva para aumentar a prote��o da Caatinga e da esp�cie.
Eles sugeriram, por exemplo, que, a cada gol da competi��o, sejam destinados mil hectares para a prote��o no bioma. E pediram que se acelerasse a publica��o do plano de a��o para a conserva��o do tatu-bola.
Ao menos o segundo pedido j� foi atendido. No dia 22 de maio, Dia Internacional da Biodiversidade, o ICMBio lan�ou o plano, que tem como objetivo reduzir a amea�a �s duas esp�cies de tatu-bola do Brasil. O Fuleco, o mascote da Copa, foi inspirado na 100% brasileira, a Tolypeutes tricinctus. A T. matacus ocorre no Pantanal e na Bol�via, no Paraguai e na Argentina.
Segundo Leandro Jerusalinsky, do ICMBio, o plano tra�a a��es para promover mais conhecimento sobre as esp�cies: como atualizar as �reas de ocorr�ncia, estimar tamanho populacional, conhecer melhor sua ecologia e biologia, quanto tempo as esp�cies podem levar para se recuperar. Outra frente prop�e uma maior prote��o ao h�bitat, e uma terceira focaliza na fiscaliza��o contra a ca�a.
Os pesquisadores pedem rapidez para a cria��o de duas unidades de conserva��o prometidas: o Parque Nacional do Boqueir�o da On�a, de 300 mil hectares na Bahia, que est� em estudo h� mais de 12 anos no Minist�rio do Meio Ambiente; e o Parque Estadual do Tatu-Bola, previsto para ter 75 mil hectares no sert�o de Pernambuco.