LONDRES - As autoridades brit�nicas interrogar�o os respons�veis pelo Facebook por um experimento pol�mico, no qual a rede social manipulou secretamente os sentimentos de seus usu�rios - anunciaram nesta quarta-feira.
Em 2012, o Facebook manipulou por uma semana o feed de not�cias de 700.000 usu�rios, sem sua permiss�o, para medir seu impacto emocional. Um grupo de usu�rios recebia not�cias positivas, e o outro, apenas atualiza��es negativas, para medir seu impacto emocional.
No estudo, o Facebook manipulou o algoritmo usado para distribuir os posts no feed de not�cias dos usu�rios para verificar como isso afetava o seu humor.
Os resultados da pesquisa, conduzida por pesquisadores associados ao Facebook, pela Universidade de Cornell e pela Universidade da Calif�rnia, foram publicados em junho na 17ª edi��o dos Anais da Academia Nacional de Ci�ncia (dispon�vel em https://www.pnas.org/content/111/24/8788.full.pdf).
Os pesquisadores pretendiam verificar se o n�mero de palavras positivas, ou negativas, nas mensagens lidas pelos usu�rios resultaria em atualiza��es positivas, ou negativas, de seus posts nas redes sociais.
Observou-se que os usu�rios que tiveram o feed manipulado utilizaram palavras positivas, ou negativas, dependendo do conte�do, ao qual foram expostos.
"Esses resultados provam que as emo��es expressas pelos outros no Facebook influenciam nossas pr�prias emo��es, o que evidencia o cont�gio em larga escala via redes sociais", afirmaram seus autores.
Enquanto outros estudos usam metadados para estudar tend�ncias, este parece ser o primeiro a manipular dados para verificar se h� rea��o.
O Gabinete do Comiss�rio de Informa��o, o organismo brit�nico independente de supervis�o, declarou que est� investigando o caso.
"Estamos cientes deste assunto e falaremos com o Facebook, al�m de nos coordenarmos com a autoridade de prote��o de dados irlandesa, para saber mais sobre suas circunst�ncias", declarou � AFP um porta-voz.
A sede europeia do Facebook fica em Dublin.
O site de relacionamentos declarou que est� disposto a responder e colaborar.
"Est� claro que o estudo incomodou as pessoas, e assumimos a responsabilidade", declarou um porta-voz do Facebook em mensagem � AFP.
"Queremos fazer melhor no futuro e estamos melhorando nossos procedimentos, baseando-nos nestes coment�rios" dos clientes, prosseguiu.
"O estudo foi feito com a prote��o adequada da informa��o das pessoas, e estamos dispostos a responder a qualquer pergunta dos reguladores", concluiu.
A diretora de opera��es da rede social, Sheryl Sandberg, admitiu que o Facebook se "comunicou muito mal", no que diz respeito a essa experi�ncia.
"No Facebook, levamos a privacidade muito a s�rio", acrescentou Sandberg em Nova D�lhi, aonde viajou para lan�ar um livro e se reunir com empres�rios e l�deres pol�ticos.
N�o curti
O resultado da pesquisa, publicado em 17 de junho na revista da Academia Nacional de Ci�ncias dos Estados Unidos (PNAS), mostra que os usu�rios usam mais palavras negativas, ou positivas, segundo o alcance dos conte�dos a que est�o expostos.
"Os estados emocionais s�o comunicativos e podem ser transmitidos por um efeito de cont�gio, o que conduz as pessoas a sentir as mesmas emo��es sem serem conscientes disso", escreveram os autores, que d�o por demonstrada "a realidade de um cont�gio emocional de massas por meio das redes sociais".
O estudo passou inicialmente despercebido nos principais meios de comunica��o dos Estados Unidos. No entanto, a aten��o cresceu ap�s artigos publicados no s�bado na revista online Slate e nas p�ginas na internet da The Atlantic e da Forbes.
"�, sem d�vida, legal, mas � �tico?", questionou a The Atlantic.
Alguns usu�rios da rede social expressaram seu profundo pesar e descreveram o m�todo usado como "alarmante", ou "demon�aco".
"O Facebook manipulou seu 'feed de not�cias' para um experimento psicol�gico. Chegou a hora de encerrar a conta do Facebook", escreveu um usu�rio no microblog Twitter.
Uma pr�tica corrente
A professora de Ci�ncias do Comportamento Suzy Moat, da Escola de Neg�cios londrina de Warwick, disse que as empresas na internet fazem diariamente coisas muito similares ao experimento pol�mico.
"Em muitos sentidos, este experimento � simplesmente um exemplo p�blico do que muitas empresas realizam para ver como podem influenciar no nosso comportamento", explicou.
"Por exemplo, Facebook e Amazon experimentam constantemente, mostrando a diferentes grupos de pessoas vers�es sutilmente diferentes de suas p�ginas para ver se uma vers�o � melhor para incrementar a frequ�ncia com que os usu�rios se relacionam com o conte�do, ou se aumentam os cliques em an�ncios", prosseguiu.
"Assim, � interessante que haja tanta indigna��o com isso, mas n�o com os experimentos com que muitos outros neg�cios na internet fazem conosco todo dia, possivelmente porque muita gente n�o tem consci�ncia do que est� acontecendo", sentenciou.