
Pesquisadores da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) v�o liberar na natureza mosquitos Aedes aegypti que n�o transmitem o v�rus da dengue. O primeiro teste ser� em Tubiacanga, na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira, 23. � a primeira vez que essa estrat�gia � testada no continente americano - j� h� pesquisas em andamento na Austr�lia, Vietn� e Indon�sia.
Os ovos dos mosquitos foram contaminados com a bact�ria Wolbachia, encontrada em 60% dos insetos, como as dros�filas (pequenas moscas) e pernilongos. Essa bact�ria atua como uma esp�cie de vacina para o Aedes aegypti - ela impede que o v�rus da dengue se multiplique no organismo do mosquito, que deixa, assim, de transmitir a doen�a.
A Wolbachia tamb�m atua na reprodu��o dos insetos. Se o macho contaminado fertilizar ovos de f�meas que n�o tenham a bact�ria, esses ovos n�o dar�o origem �s larvas. Se macho e f�mea estiverem contaminados, ou se s� a f�mea tiver a bact�ria, toda a prole carregar� a Wolbachia. A bact�ria � transmitida naturalmente para as gera��es seguintes de mosquitos e o m�todo se torna autossustent�vel: Aedes com Wolbachia acabam se tornando predominantes na natureza, sem que os pesquisadores precisem liberar insetos contaminados constantemente. Em localidades da Austr�lia, isso aconteceu em 10 semanas, em m�dia.
A pesquisa com a Wolbachia come�ou na Universidade de Monash, na Austr�lia, em 2008. Inicialmente, os cientistas esperavam que a bact�ria reduzisse o tempo de vida do Aedes, mas descobriram que ela tamb�m afeta a reprodu��o e bloqueia a multiplica��o do v�rus. "Estamos diante de uma estrat�gia cient�fica inovadora e segura, que poder� contribuir para o controle da dengue e para a melhoria da sa�de da popula��o", afirmou o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira, l�der do projeto no Brasil. Ele integrava a equipe de cientistas que fez as descobertas na Austr�lia.
A Wolbachia � uma bact�ria intracelular, que s� pode ser transmitida de m�e para filho, no processo de reprodu��o dos mosquitos. Al�m disso, � maior que o canal salivar do mosquito. Ou seja, n�o sai pela saliva, meio pelo qual o homem � contaminado. Para garantir que n�o infecta seres humanos e animais dom�sticos, durante cinco anos, integrantes da equipe, na Austr�lia, alimentaram uma col�nia de mosquitos com Wolbachia, usando seus pr�prios bra�os.
O projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil foi lan�ado no Rio de Janeiro, em 2012. Nesses dois anos, os pesquisadores capturaram Aedes aegypti nos locais que servir�o de testes, estudaram essas regi�es e criaram os mosquitos contaminados em laborat�rio. Depois de lan�ados em Tubiacanga, os cientistas poder�o avaliar a capacidade dos mosquitos com a bact�ria se estabelecerem no meio ambiente e se reproduzirem com os mosquitos locais.
Cerca de 10 mil insetos ser�o liberados semanalmente em Tubiacanga, por at� quatro meses. Para reduzir o inc�modo da popula��o, a Secretaria Municipal de Sa�de fez uma campanha para eliminar focos de cria��o do mosquito. Depois da Ilha do Governador, os bairros da Urca e Vila Valqueire, no Rio de Janeiro, e de Jurujuba, em Niter�i, receber�o os mosquitos. Estudos de larga escala para avaliar o efeito da estrat�gia est�o previstos para ocorrer a partir de 2016.
