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Estado de Minas

Senso de justi�a e igualdade foi estrat�gia na evolu��o de s�mios e humanos

Pesquisadores encontram evid�ncias de que a indigna��o com a injusti�a praticada contra desconhecidos � uma caracter�stica evolutiva, que ajudou s�mios e humanos a viverem coletivamente e, assim, aumentar suas chances de sobreviv�ncia


postado em 28/09/2014 00:12 / atualizado em 29/09/2014 12:10

Os macacos-capuchinhos protestam quando têm recompensas menores que outros animais(foto: FRANS DE WAAL/DIVULGAÇÃO)
Os macacos-capuchinhos protestam quando t�m recompensas menores que outros animais (foto: FRANS DE WAAL/DIVULGA��O)
No quebra-cabe�a da evolu��o humana, h� uma pe�a de dif�cil encaixe. Trata-se do senso de justi�a, aquele sentimento que faz com que uma pessoa tome as dores de um desconhecido sem, aparentemente, tirar vantagem disso. Se o objetivo � garantir a manuten��o dos pr�prios genes, parece pouco inteligente agir de forma altru�sta em situa��es envolvendo estranhos. Como, por exemplo, dar uma bronca no filho porque ele pisou no p� da crian�a do vizinho. Essa, contudo, pode ser uma sofisticada estrat�gia de conviv�ncia adquirida pelos primatas para ganhar benef�cios sociais.


H� tempos, cientistas debatem se a preocupa��o com a equidade � uma caracter�stica inata ou se emergiu como fruto da conviv�ncia em sociedade. Para Sarah Brosnan, pesquisadora dos departamentos de Psicologia e Filosofia do Instituto de Neuroci�ncia e do Centro de Pesquisa da Linguagem da Universidade Estadual da Ge�rgia, nos Estados Unidos, o senso de justi�a evoluiu em resposta � necessidade de cooperar com outros indiv�duos. N�o porque homens e demais primatas sejam simplesmente “bonzinhos”. Mas porque eles “sabem” que, em algum momento, poder�o tirar proveito disso.

“A sensibilidade � equidade e � iniquidade oferece muitos benef�cios evolutivos”, afirma Brosnan. “Em primeiro lugar, os animais precisam reconhecer quando recebem menos que o outro, porque esse � um indicativo de que o sistema de coopera��o social, do qual todos tiram vantagem, pode estar em risco”, diz a psic�loga, que investiga o tema desde 2003. Da mesma forma, ao receber mais que o parceiro, o homem ou o primata percebem que o sistema cooperativo do qual participam pode ir por �gua abaixo e, por isso, protestam em uma resposta convencionalmente chamada de avers�o � iniquidade. “As evid�ncias indicam que, � medida que a confian�a na coopera��o aumenta, os indiv�duos tamb�m se beneficiam da sensibilidade de receber mais que os outros”, conta Brosnan.

Contudo, para que essa situa��o ocorra, � preciso um refinamento cognitivo at� agora n�o verificado em outras esp�cies al�m dos primatas. Enquanto os c�es e os p�ssaros demonstram insatisfa��o ao se sentir “passados para tr�s”, apenas humanos, macacos e s�mios protestam contra a injusti�a praticada com outros, mesmo que a situa��o n�o os afete diretamente. Isso porque eles conseguem antecipar a rea��o alheia e sabem que a consequ�ncia pode ser um abalo no sistema de coopera��o. “Essa press�o pelo aumento da coopera��o combinada com habilidades cognitivas avan�adas e controle emocional permitiram aos humanos desenvolver um senso completo de justi�a”, define Frans de Waal, cientista do Centro Nacional de Pesquisa Primata Yerkes e da Universidade de Emory. Ele assina, com Sarah Brosan, um artigo sobre a percep��o da equidade na revista Science.

“O senso de justi�a � a base de muitas coisas na sociedade humana, de discrimina��o salarial a pol�tica internacional”, comenta Brosnan. “O que nos interessa � por que n�s, humanos, n�o somos felizes com o que temos se o outro tem mais, mesmo que tenhamos o bastante. Minha hip�tese � que isso importa porque a evolu��o � relativa. Se voc� coopera com algu�m que recebe mais do benef�cio ofertado, ent�o essa pessoa vai se sair melhor que voc�, � sua custa”, afirma. Para testar essa teoria, h� uma d�cada a psic�loga e o colega Frans de Waal investigam, em outras esp�cies de primatas, as bases do senso de justi�a.

Os chimpanzés, como os humanos, se incomodam também quando outros são injustiçados(foto: SIA KAMBOU/AFP)
Os chimpanz�s, como os humanos, se incomodam tamb�m quando outros s�o injusti�ados (foto: SIA KAMBOU/AFP)
Sofistica��o

O primeiro estudo da dupla foi com macacos-capuchinho, que se recusavam a executar uma tarefa quando percebiam que o colega havia recebido uma recompensa melhor que eles para fazer a mesma coisa. Desde ent�o, eles testaram a resposta � iniquidade em outras nove esp�cies de primatas — incluindo humanos. Brosan e De Waal constataram que os homens e os s�mios (gorilas, chimpanz�s, bonobos, e orangotangos, primatas mais pr�ximos do Homo sapiens) s�o os �nicos que protestam tamb�m quando levam vantagem em rela��o aos outros. “Esse � o verdadeiro senso de justi�a, � quando voc� se importa tamb�m quando ganha mais”, observa de Waal.

De acordo com os cientistas, para que isso ocorra � preciso pensar no futuro e n�o apenas na recompensa imediata, pois abre-se m�o de algo no momento em prol do sistema cooperativo a longo prazo. O altru�smo nesses casos tamb�m exige autocontrole para abrir m�o de algo vantajoso. As duas caracter�sticas dependem de uma sofistica��o cognitiva, percebida em apenas algumas esp�cies, que t�m hist�ria evolutiva semelhante. Por isso, Brosan e De Wall acreditam que n�o h� d�vidas de que o senso de justi�a, antes de ter nascido com o pr�prio homem e seus semelhantes, �, de fato, um tra�o que surgiu para benefici�-los.

Para Nick Wright, psic�logo e pesquisador da Universidade da Calif�rnia em Los Angeles, estudos sobre o senso de justi�a est�o ajudando a compreender tra�os mais subjetivos do comportamento humano, o que tem aplica��es pr�ticas. “Esses resultados s�o muito interessantes para compreendermos como sentimentos subjetivos de justi�a e interesse pr�prio impactam na tomada de decis�es, sejam elas corriqueiras, do dia a dia, sejam em um �mbito social maior”, acredita.


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