
O barulho provocado pela Ello – rede social que chegou chegando, com direito a manifesto e 40 mil solicita��es de convite por hora – fez estremecer a hegemonia do Facebook. Muitos j� se adiantaram e elegeram a iniciante como herdeira do legado de Mark Zuckerberg, que, estima-se, pode perder at� 80% dos usu�rios at� 2017, � semelhan�a do que ocorreu com o rec�m-extinto Orkut. Mas ser� que esse � mesmo o futuro das redes sociais? Analistas garantem que ainda � muito cedo para destronar o gigante do Vale do Sil�cio e colocar em seu lugar o estreante de Vermont.
“Essa fase inicial � de muita curiosidade e as pessoas v�o entrando. Mas, depois, vai ficar muito perfil morto”, prev� o analista de m�dias sociais, Anderson Araujo. Toda essa curiosidade foi ati�ada pelo manifesto apresentado pelos criadores da Ello, que ganhou mais visibilidade depois que o Facebook anunciou que s� aceitaria nomes verdadeiros no cadastro de usu�rios. O texto de apresenta��o da Ello come�a categ�rico: “Sua rede social � propriedade de anunciantes”, em refer�ncia ao Facebook. Al�m de condenar o bombardeio de propagandas, critica a manipula��o e coa��o �s quais o usu�rio est� sujeito. E termina de forma enf�tica: “Voc� n�o � um produto”.
Para Grazielle, est� a� uma das grandes sacadas da novidade e uma das raz�es para o boom repentino. “Ela vem com um manifesto e se prop�e a ser uma rede que resgata a ideia de espa�o para conex�es, com respeito � privacidade e sem an�ncio”, explica a especialista. O fato de se mostrar como uma alternativa ao Facebook tamb�m chama a aten��o. “Ela surge como um anti-Facebook, onde as pessoas reclamam n�o apenas do n�mero de an�ncios, mas tamb�m da manipula��o da timeline e at� do crescimento desenfreado, o que as faz perder o interesse e prop�sito de estarem ali, as principais motiva��es para permanecerem numa rede social”, avalia a professora.
A ideia do convite, original do Orkut, tamb�m agu�ou o interesse num primeiro momento. Tanto � que senhas de acesso que s� seriam recebidas de amigos que j� estavam cadastrados chegaram a ser comercializadas. Agora, a pr�pria Ello gera os c�digos de acesso imediatamente no site. “Gostei bastante da interface e acho que a Ello une o melhor do Twitter, do Tumblr, de blogs e do Facebook”, afirma a analista de redes sociais Amanda Tavares, de 23 anos. Para Raiane Oliveira, analista de redes sociais da Plan B Comunica��o, a Ello � amig�vel e parece ter uma proposta de atingir o p�blico criativo como artistas e designers. “O leiaute tamb�m � muito interessante, clean e minimalista”, avalia Raiane. Amanda reconhece que a proposta da ferramenta � de ser menor que o Facebook e permitir postagens mais livres. “A maneira como a Ello se apresenta � bem �nica e original”, refor�a.
E agora?
Para Amanda Tavares, algumas coisas ainda est�o confusas, como o feed e a classifica��o de amigos. Anderson Araujo questiona a forma como a rede social ganhar� dinheiro. “A proposta � cobrar por recursos extras, mas acho que os usu�rios n�o est�o muito abertos a isso, o que pode ser visto na pr�pria venda de aplicativos”, afirma. A cultura da gratuidade faz com que a toler�ncia seja maior, inclusive, para os an�ncios. “Essas propagandas est�o cada vez mais segmentadas e a tend�ncia � de que sejam cada vez melhores e a cara do consumidor. Por isso, vejo que, em algum ponto, a Ello vai acabar perdendo com essa cobran�a”, prev�. A verdade � que o Facebook dificilmente ficar� de bra�os cruzados frente � amea�a. “Ele se adapta ao uso que as pessoas lhe d�o”, afirma Raiane, que ainda n�o v� a possibilidade de extin��o da rede social de Mark Zuckerberg. “Muitas outras surgiram e n�o ganharam for�a. � muito precipitado garantir que a Ello ir� se popularizar a esse ponto”, afirma.

CONFIRA O MANIFESTO DA ELLO NA �NTEGRA
“Sua rede social � propriedade de anunciantes. Todo post que voc� compartilha, todo amigo que adiciona e todo link que segue � monitorado, registrado e convertido em dados. Anunciantes compram seus dados para que possam te mostrar mais an�ncios. Voc� � o produto que � comprado e vendido. N�s acreditamos que h� um caminho melhor. Acreditamos na ousadia. Acreditamos na beleza, simplicidade e na transpar�ncia. Acreditamos que as pessoas que fazem e aquelas que utilizam deveriam ser parceiras. N�s acreditamos que uma rede social deve ser uma ferramenta de fortalecimento. N�o uma ferramenta para enganar, coagir e manipular, mas um lugar para conectar, criar e celebrar a vida. Voc� n�o � um produto.”
O QUE VEM POR A�
» Introdu��o do bot�o “love”, com a mesma fun��o do “curtir”, do Facebook
» Monetiza��o a partir da venda de recursos para personaliza��o da p�gina. Dessa forma, surgiriam usu�rios premium, com mais benef�cios que os demais. Os valores devem variar entre US$ 1 e US$ 2 e ser�o vendidos como ocorre com os aplicativos
» Bloqueio de usu�rios
» Central de notifica��es
» Integra��o com outras redes sociais como Instagram e YouTube
Pr�s
» An�ncios
A empresa se compromete a n�o vender informa��es dos perfis para terceiros, o que tamb�m agrada.
» GIFs
Na Ello, a febre das imagens animadas tem terreno f�rtil para se desenvolver. Basta arrastar e soltar o GIF na �rea de publica��o do status – chamada de “say Ello” – e pronto. O Facebook ainda n�o conseguiu tornar o compartilhamento de GIFs no mural uma tarefa f�cil. Tem gente que nem sabe que isso � poss�vel.
» Timeline
Voc� s� vai ver o que quer, ou seja, o que os amigos est�o postando. Nada de saber o que os amigos dos amigos est�o curtindo ou comentando. Tem tamb�m a op��o de apenas seguir outros perfis, � semelhan�a do que ocorre no Twitter. As duas redes de relacionamento est�o separadas entre friends (amigos) e noise (onde voc� inclui perfis com os quais n�o tem rela��o cotidiana e s� est� interessado em visualizar, de forma compacta, as atualiza��es).
» Visual
Mais limpo e minimalista, como gostam de dizer os usu�rios mais descolados. A facilidade de ver o pr�prio perfil e, na mesma p�gina (� preciso apenas recolher uma aba e expandir a outra) acompanhar a atualiza��o dos “friends” e “noise”.
Contras
» Privacidade
N�o existe ajuste de privacidade. Qualquer pessoa que quiser te seguir pode. N�o h� nenhum controle sobre isso. N�o � permitido definir quem pode ver suas publica��es. Todo mundo v� o que todo mundo posta. Al�m disso, nada de bloquear ou denunciar outro usu�rio. Isso n�o existe.
» Chat
N�o tem. � at� poss�vel mandar uma mensagem privada, mas n�o � t�o c�modo como no Facebook. Na caixa de texto “say Ello”, � preciso colocar @ antes do nome do usu�rio com o qual vai iniciar a conversa. Depois, � s� clicar no �cone mensagem.
» Notifica��es
Toda a movimenta��o da sua conta � notificada por e-mail e n�o dentro do site.
» Interatividade
Nada de curtir a publica��o alheia. Na Ello, os usu�rios s� sabem o n�mero de visualiza��es que seu post
teve, nada mais. Al�m disso, n�o podem escrever nada no mural do amigo, o que pode
ser um retrocesso principalmente para quem s� parabeniza os conhecidos por meio dessa ferramenta.
Quem est� por tr�s da Ello?
A Ello foi criada pelo analista de computa��o norte-americano Paul Budnitz, de 47 anos, que come�ou sua carreira quando ainda estava no col�gio. Ele vendia roupas que ele mesmo criava para lojas de museus ao redor do mundo. Depois, criou videogames para o legend�rio computador dom�stico Commodore 64. No fim os anos 1980 e in�cio de 1990, Budnitz se dedicou ao estudo da fotografia, escultura e cinema na Universidade de Yale. Seus dois primeiros filmes, 93 milh�es de milhas e Ultravioleta, foram premiados no Festival de Berlim, sendo distribu�dos no mundo todo. Em 1997, Budnitz come�ou a gravar para si filmes de 16mm em minidiscos, na �poca um novo formato que conheceu em viagem ao Jap�o. Bastou para transformar isso num neg�cio de US$ 10 bilh�es com a cria��o da Minidisco.com, que customizava �udio para filmes. O software foi criado por ele mesmo, na garagem de casa, segundo seu site. Budnitz se dedicou tamb�m � cria��o de bicicletas de luxo, criando a Budnitz Bicycles. Mas tudo isso ainda era pouco para Paul. Criativo, inquieto, inovador, lan�ou diversos livros e exibi��es de arte, criou diversas companhias at� fundar a Kidrobot, uma das mais importantes empresas de toy art do mundo. Confira mais sobre a vida dele em sua p�gina na internet: paulbudnitz.com.