
O Manual Diagn�stico e Estat�stico de Transtornos Mentais (DSM), considerado a b�blia da psiquiatria, inclui a depend�ncia em jogos eletr�nicos na sess�o III, indicando que ainda s�o necess�rios mais estudos a respeito. J� a fixa��o em redes sociais e mensagens instant�neas � um fen�meno t�o novo que ainda n�o entra na classifica��o – oficialmente, o termo usado para diagn�stico � uso problem�tico das tecnologias.
Apesar de serem dist�rbios recentes, os especialistas alertam que � preciso cada vez mais prestar aten��o a eles. “O ambiente do s�culo 21 n�o tem precedentes. A gente n�o pode demonizar a tecnologia, a gente vai ter de aprender a lidar com ela”, diz o psiquiatra Gabriel Bronstein, chefe do Setor de Depend�ncia Qu�mica e Outros Transtornos do Impulso da Santa Casa da Miseric�rdia do Rio de Janeiro.
Para o psiquiatra da inf�ncia e adolesc�ncia Daniel Spritzer, fundador e coordenador do Grupo de Estudos sobre Adi��es Tecnol�gicas (Geat), a depend�ncia precisa ser estudada e tratada de acordo com cada subtipo. “Ser� que usar a rede social � igual a ficar vendo v�deo no YouTube ou jogando o dia inteiro? Acho que � bem diferente”, observa. Ainda assim, no cotidiano dos consult�rios, os especialistas que tratam dos diversos v�cios virtuais – jogos, redes sociais, smartphones e pornografia on-line – destacam caracter�sticas comuns �s adi��es tecnol�gicas e que tamb�m est�o presentes nos pacientes de depend�ncia qu�mica, como preju�zos sociais e � sa�de, queda no rendimento, dificuldade de parar, fissuras, reca�das e comorbidades (doen�as que se manifestam paralelamente ao quadro), entre outras.
Saud�vel X prejudicial
“N�o d� para pensar no tratamento sem considerar as comorbidades”, afirma a psic�loga Veruska Santos, terapeuta do grupo Delete, esp�cie de centro de “desintoxica��o tecnol�gica” criado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). L�, os dependentes primeiro s�o avaliados por psiquiatras para identificar quais problemas est�o por tr�s do v�cio. Os mais comuns, de acordo com Santos, s�o depress�o, ansiedade, p�nico e transtorno obsessivo-compulsivo. Muitas vezes, observa Daniel Spritzer, os pacientes chegam aos consult�rios com algum desses problemas, e, durante a avalia��o, os especialistas constatam que eles sofrem tamb�m de depend�ncia de algum tipo de tecnologia.
O psiquiatra explica que a adi��o vem acompanhada de algumas caracter�sticas que diferenciam o uso normal do prejudicial. Modifica��o de humor, tempo que se passa pensando ou se dedicando ao v�cio, toler�ncia cada vez maior, conflitos internos e sociais e reca�das s�o alguns deles. O tempo, observa, � um marcador importante, mas n�o determinante. “Dificilmente, vai ter algu�m com depend�ncia que jogue s� duas horas por dia, mas nem todo mundo que joga muito vai ter preju�zo. O tempo � relativo, s� um indicador do problema”, afirma. “Para diagnosticar, n�o basta saber quanto usa, mas como usa”, concorda a psic�loga Aline Restano, tamb�m pesquisadora do Geat.
Por exemplo, um usu�rio pode passar muitas horas nas redes sociais sem se abalar pelo fato de sua foto ter recebido poucas curtidas. Isso n�o acontece com os dependentes. Aline Restano conta que, no caso da adi��o, at� o som de notifica��o de mensagens do WhatsApp traz prazer para os pacientes que, por outro lado, sofrem quando o aparelho soa menos do que eles esperavam. Um prazer que, na realidade, est� profundamente associado � ang�stia. Uma jovem de 17 anos, paciente da psic�loga, relatou que ficou uma semana sem o celular, retirado pela m�e. No come�o, teve raiva. Mas, no fim, sentiu-se libertada. “Que al�vio”, disse a menina.
Se o tempo � um fator relativo, os pais devem ficar atentos ao rendimento escolar, que costuma despencar. “Esse � um dos primeiros sinais a aparecer. A crian�a ou o adolescente ficam mortos de sono, pois passam a madrugada no computador ou no celular”, afirma Spritzer. Outros sintomas s�o a perda de interesse social – a pessoa deixa de se relacionar com as outras para se dedicar ao mundo virtual –, os embates familiares e at� altera��es na sa�de. Sedentarismo e aumento de peso s�o os problemas mais evidentes.
A psic�loga Aline Restano d� uma dica para quem tem d�vidas se o filho est� mais envolvido com a tecnologia do que deveria. “Um dos fatores de risco de meninas dependentes de redes sociais � passar muito tempo do dia visualizando o perfil dos outros, sem postar nada. Muitas vezes, o pai pensa que ela n�o abusa das redes porque n�o posta, mas s� olhar constantemente � pior”, diz. O excesso de ci�mes deflagrado por a��es como curtidas na foto do namorado � outro forte indicativo de que a rela��o daquela pessoa com a tecnologia passou os limites do saud�vel.
Diferen�as
Meninas e meninos t�m perfis de depend�ncia diferentes. Eles t�m mais interesse pelos jogos on-line. “Com os avatares, assumem outras habilidades que n�o t�m na vida real”, explica Veruska Santos, do grupo Delete. Quarenta e cinco por cento dos pacientes de 9 a 17 anos atendidos pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ jogam em rede com outras pessoas. J� as meninas dedicam-se mais �s redes sociais. Nesse �ltimo caso, a psic�loga Aline Restano aponta outro sinal de alerta: olhar constantemente para o celular, que pode ser mais grave ainda do que passar muito tempo conectado. “�s vezes, n�o d� tempo de atualizar e elas j� est�o checando de novo”, diz. Para essas garotas, n�mero de curtidas, solicita��es de amizade, coment�rios positivos e notifica��es de mensagens s�o como o combust�vel que alimenta a depend�ncia.
No projeto Delete, Veruska Santos conta que os terapeutas est�o conseguindo bons resultados. “Come�am a ser fortalecidos comportamentos para controlar o uso compulsivo. N�o � parar de usar, mas faz�-lo de maneira diferente”, diz. O trabalho de gerenciamento do tempo e o desenvolvimento de habilidades sociais tamb�m s�o estimulados. Mas para que o tratamento seja bem-sucedido, o empenho familiar � fundamental.
“�s vezes, os pr�prios pais estimulam os filhos a se tornarem dependentes de tecnologia. Dar um computador para eles ficarem ocupados o dia inteiro � mais c�modo”, critica.
Uso consciente
Veja 10 passos para utilizar
a web e os eletr�nicos de
maneira saud�vel, segundo especialistas da UFRJ
1 - Bom senso para que o uso n�o se torne abusivo no cotidiano
2 - Fique atento �s consequ�ncias f�sicas (como priva��o de sono, dores na coluna e problemas de vis�o) e psicol�gicas (como depress�o, ang�stia e ansiedade) devido � utiliza��o exagerada
3 - Dose a pr�tica de uso de tecnologias no cotidiano. Verifique se seu desempenho acad�mico ou no trabalho est�o sendo prejudicados
4 - Reflita sobre seus h�bitos cotidianos e fa�a diferente
5 - N�o troque atividades ao ar livre para ficar conectado
6 - Prefira uma vida social real � virtual, escolhendo relacionamentos/amizades reais em vez de virtuais
7 - Pratique exerc�cios f�sicos regularmente e fa�a intervalos regulares durante o uso das tecnologias
8 - N�o abale o seu humor com publica��es virtuais e n�o acredite em tudo que � postado
9 - Valorize suas rela��es familiares
10 - Pense no meio ambiente, recicle os aparelhos e evite a troca frequente sem necessidade
Leve em conta que…
» As atitudes virtuais devem ser previstas e refletidas
» O limite entre p�blico e privado � muito sutil
» O que � postado pode ser considerado uma flecha disparada
» � importante diferenciar o uso normal do patol�gico
» A vida vira manchete nas redes sociais
Fonte: Grupo Delete