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Estado de Minas

Teoria da relatividade de Einstein foi da descren�a ao triunfo

Ideias do f�sico alem�o sobre a relatividade enfrentaram resist�ncia de colegas at� serem comprovadas em 1919, com observa��es do espa�o feitas a partir do Brasil


postado em 13/01/2015 10:00 / atualizado em 13/01/2015 10:04

Paloma Oliveto

O judeu Albert Einstein n�o era homem de um milagre s�. H� quase 100 anos, uma d�cada depois de publicar os artigos que serviram de base para a teoria geral da relatividade, ele apresentou, em uma s�rie de confer�ncias na Academia de Ci�ncias da Pr�ssia, o seu maior triunfo. O que o f�sico proferiu nas quatro apresenta��es, ocorridas nas ter�as-feiras de novembro de 1915, mudaria a ci�ncia para sempre. Passado um s�culo da exposi��o, ningu�m jamais conseguiu contrariar nem sequer uma v�rgula do trabalho de Einstein.

Al�m das turbul�ncias familiares – ele estava separado da primeira mulher e afastado dos filhos –, o alem�o sentia-se consumido pela pr�pria ansiedade. Em uma carta ao amigo David Hilbert, matem�tico que tamb�m estava atr�s da f�rmula da gravidade, ele deixa transparecer o estado de empolga��o e nervosismo. “Se minha modifica��o atual (que n�o muda as equa��es) estiver certa, ent�o a gravita��o deve desempenhar um papel fundamental na composi��o da mat�ria. Minha pr�pria curiosidade est� interferindo em meu trabalho!”, revelou, �s v�speras de apresentar a segunda palestra da confer�ncia. At� ali, todos os conceitos pareciam se encaixar perfeitamente. Mas faltavam as equa��es que colocariam a cereja no bolo.

A teoria geral da relatividade n�o se descortinou � frente de Einstein em um cl�ssico momento de “eureca!”. Na verdade, esse era um problema que ele vinha tentando resolver havia anos. Se, em 1905, o f�sico matou a charada sobre o movimento a uma velocidade constante, faltava � teoria especial explicar o que ocorria a uma velocidade n�o linear. Em suas correspond�ncias – boa parte delas digitalizada pela Universidade Hebraica e dispon�veis no site https://www.alberteinstein.info –, Einstein revela que, em 1907, imaginou a cena de um corpo caindo de um telhado.

Se a luz viaja a uma velocidade constante, o mesmo n�o se pode dizer do desafortunado homem que despenca de forma acelerada. Mas, para complicar as coisas, o cientista pensou que, dependendo do referencial, o corpo em queda tamb�m pode estar em repouso. Para o resto do mundo, quem est� se movendo em dire��o ao ch�o � a pessoa que escorregou do telhado. S� que, aos olhos da v�tima, ela pode estar parada – e o resto do mundo � que est� em queda livre. “Tudo � relativo” se transformou em postulado cient�fico, frase de efeito e estampa de camisetas pop.

Conceitos Unidos

A teoria geral da relatividade ati�ou ainda mais a f�ria dos newtonianos contra Einstein. Eles estavam indignados com o alem�o desde 1905, quando a s�rie de artigos publicados na Annalen der Physik colocava em xeque a vis�o mecanicista do universo. Nada poderia viajar mais r�pido que a luz, disse, contrariando a ideia de que a gravidade era uma for�a instant�nea, como dizia Isaac Newton. Agora, ele defendia que essa misteriosa coisa que impede que se saia voando pelos ares e tamb�m atrai todos os corpos para o centro era a curva de um tecido que chamou espa�o-tempo.

“Einstein constatou que gravita��o e acelera��o eram os dois nomes de uma mesma coisa. Ele pegou dois conceitos que todos sempre pensaram ser cen�rios naturais completamente diferentes e disse que eram equivalentes”, revela Larry Lagerstromd, f�sico e professor de hist�ria da ci�ncia da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. “Espa�o e tempo, energia e massa, acelera��o e gravita��o, como diz Gerald Holton (professor de Harvard e um dos maiores experts mundiais em Einstein), ele sempre estava confrontando a quest�o: ‘Por que deveria haver dois fen�menos diferentes com duas teorias diferentes para explic�-los quando, para mim, parecem uma coisa s�?’.”

Tudo fazia muito sentido para o g�nio alem�o, mas faltava algo fundamental, sem o qual suas ideias j� controversas entre os pares jamais seriam validadas: a equa��o. Ao escrever para o amigo matem�tico, Einstein n�o poderia imaginar que, em resposta, receberia uma provoca��o. David Hilbert disse que estava muito perto de chegar a “uma solu��o para seu grande problema”. “Pelo que entendi de seu novo artigo, a solu��o que voc� tem � completamente diferente da minha”, arrematou.

Para a surpresa de Einstein, Hilbert realmente estava disposto a passar � sua frente. Antes da �ltima confer�ncia do f�sico alem�o, o matem�tico enviou a uma revista cient�fica sua vers�o das equa��es da teoria da relatividade. Chamou o artigo de nada menos que “As bases da f�sica”. David Hilbert podia ser um excelente matem�tico. E, de fato, o era. Mas ele estava errado. Era Einstein quem havia chegado � f�rmula correta. Agora n�o havia mais volta. O judeu de Berlim oficialmente tornava-se o maior f�sico da hist�ria.

“Em 25 de novembro de 1915, Einstein publicou as equa��es de campo da relatividade geral, as chamadas equa��es de Einstein. Esse evento marca um dos maiores feitos do cientista, mesmo em compara��o aos seus tr�s mais famosos artigos, do ano miraculoso de 1905”, observa Tilman Sauer, diretor do Instituto Te�rico do Centro Albert Einstein de Bern, na Su��a. O f�sico tamb�m � idealizador do Projeto Artigos de Einstein, que digitaliza os trabalhos cient�ficos do cientista. “A publica��o tamb�m representa o fim de um longo e tortuoso caminho que iniciou pouco depois de ele, como um especialista em patentes desconhecido, apresentar a teoria da relatividade. No fim desse caminho ele tinha ascendido na hierarquia acad�mica, chegando a membro da Academia Prussiana de Ci�ncias, em Berlim.”

Confirma��o no Cear�

Faltava muito pouco para Albert Einstein ganhar fama n�o s� entre os pares, mas se tornar uma figura pop no mundo todo. A oportunidade veio na forma de eclipse solar. Em 29 de maio de 1919, o dia virou noite na Am�rica do Sul e na �frica, durante seis minutos e 51 segundos. O evento foi observado por pesquisadores da Real Sociedade Astron�mica, de Londres, que organizaram expedi��es para regi�es geogr�ficas do hemisf�rio sul que permitissem uma visualiza��o perfeita do evento. Um desses lugares foi a Ilha do Pr�ncipe, perto da Guin� Equatorial. O outro foi Sobral, no Cear�, ent�o um vilarejo de 2 mil habitantes.

O posicionamento das estrelas n�o era o que se esperava para o c�u daquele dia. Elas estavam um tanto deslocadas. E os valores dos desvios eram compat�veis com os resultados dos c�lculos que os astr�nomos fizeram, usando o princ�pio da teoria da relatividade. Quatro anos depois de Einstein apresentar na s�rie de confer�ncias de Berlim, fotografias do eclipse feitas no interior do Cear� comprovavam a distor��o da curvatura espa�o-tempo provocada pelo campo gravitacional do Sol. No dia seguinte, a manchete do jornal The New York Times decretava: “Todas as luzes entortaram no C�u. A teoria de Einstein triunfa”.


L�NGUA AFIADA
Como se n�o bastasse ser um g�nio, Albert Einstein tinha outra habilidade: fazer humor. Veja algumas das frases e passagens engra�adas da vida do f�sico:

» Eternidade
O escritor Walter Isaacson, autor do livro Einstein: sua vida, seu universo, conta que em uma recep��o na Academia Nacional de Ci�ncias dos Estados Unidos o f�sico ouviu uma s�rie de discursos em sua honra proferidos por pessoas como o pr�ncipe Albert I de M�naco, que era oceon�grafo. O evento parecia n�o terminar nunca. Einstein, ent�o, cochichou para um diplomata alem�o que estava sentado ao seu lado: “Acabo de desenvolver a teoria da eternidade”.

» Poucas ideias
O f�sico tamb�m era modesto. O jornalista e escritor cient�fico Bill Bryson revela em Uma breve hist�ria de quase tudo que, certa vez, o poeta franc�s Paul Valery perguntou a Einstein se o g�nio andava com uma caderneta para anotar suas ideias. “Einstein olhou para ele com uma suave, por�m genu�na, surpresa. ‘Oh, isso n�o � necess�rio’, respondeu. ‘� t�o raro eu ter uma ideia’.”

» Discreto

Einstein n�o gostava de publicidade. Certa vez, ele contou a um rep�rter da revista New Yorker que, quando abordado nas ruas, respondia: “Me desculpe, me perdoe! Sempre sou confundido com o professor Einstein!”. E sa�a em disparada.

 


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