Roberta Machado
O sonho de enviar um ve�culo voador para Marte nasceu no fim da d�cada de 1990, quando a Nasa come�ou a testar alguns conceitos no seu Laborat�rio de Propuls�o a Jato (JPL). O projeto estudou alguns designs inspirados em animais e chegou a considerar at� mesmo a fabrica��o de um avi�o espacial, mas a equipe de engenheiros da ag�ncia decidiu investir em uma linha de pesquisa mais consolidada. “Designs bioinspirados s�o interessantes do ponto de vista da pesquisa acad�mica, mas, da perspectiva da engenharia, helic�pteros s�o uma tecnologia muito mais investigada e testada, que pode suprir as necessidades da nossa miss�o”, explica Bob Balaram, l�der t�cnico do projeto.
O resultado de 15 anos de trabalho � uma pequena caixa amarela suportada por quatro pernas muito finas. O equipamento pesa cerca de um quilo e suas duas h�lices t�m pot�ncia suficiente para levantar voos de 100m de altura. C�lulas solares instaladas no topo do drone se encarregam de fornecer energia ao ve�culo, que tem bateria suficiente para ficar no ar por at� tr�s minutos. Os engenheiros calculam que o sistema seja capaz de percorrer meio quil�metro por dia.
Desafio
O pequeno helic�ptero desenvolvido pela equipe da Nasa ainda n�o teve a viagem aprovada e representa um desafio mesmo para a ag�ncia,xxxxxx que j� enviou incont�veis foguetes, rob�s e sondas para o espa�o. Embora a gravidade do Planeta Vermelho seja muito baixa, a atmosfera quase inexistente do local torna a decolagem muito dif�cil. A camada de gases que envolve Marte tem cerca de 1% da densidade do ar da Terra, o que exige muito mais energia do drone para percorrer uma dist�ncia bem menor. A equipe da Nasa est� atualmente testando um prot�tipo em uma c�mara a v�cuo que vai mostrar se o equipamento � capaz de voar no ar marciano.
A limita��o obriga ainda a equipe de engenheiros a ser bem econ�mica com o projeto, que precisa ser t�o leve quanto um helic�ptero de brinquedo. Ao contr�rio de um ve�culo terrestre de uma tonelada como o Curiosity, que tem um conjunto complexo de componentes para manter o sistema sempre funcionando, o equipamento voador deve contar com o m�nimo de pe�as poss�vel. “No caso do drone, n�o � poss�vel ter sistemas de redund�ncia como os do Curiosity, ele ficaria muito pesado”, compara Edison Pignaton de Freitas, professor do Instituto de Inform�tica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Outro problema a ser resolvido pela equipe de engenheiros � a blindagem, o drone, que deve proteger da alta radia��o marciana sem aumentar o peso. “O problema da radia��o � que, quando ela incide nos componentes eletr�nicos, ela pode mudar o estado l�gico do componente e causar o processamento errado da informa��o. Isso pode acarretar, por exemplo, no processamento incorreto da rota��o das h�lices, fazendo o drone cair ou nem levantar voo”, especula o especialista brasileiro.
Viagem acelerada
Em pouco mais de dois anos, o rover Curiosity percorreu cerca de 40 quil�metros na superf�cie de Marte. A jornada lenta � marcada por constantes paradas para a realiza��o de experimentos cient�ficos e segue um plano de viagem extremamente cauteloso: a cada dist�ncia vencida, o rob�, do tamanho de um ve�culo utilit�rio, precisa parar para estudar os arredores e se certificar de que o caminho � seguro. Afinal, uma simples roda atolada pode significar o fim de uma miss�o bilion�ria.
A ideia dos pesquisadores da Nasa � ajudar o ve�culo explorador com uma vis�o privilegiada, que poder� indicar com mais rapidez o melhor trajeto a seguir no acidentado solo do Planeta Vermelho. A ag�ncia estima que o drone possa triplicar a dist�ncia percorrida pelo rover, al�m de dar aos pesquisadores mais op��es de lugares para explorar e aumentar as chances de sucesso da miss�o. Como um seguran�a, o drone seguiria sempre na frente, investigando os arredores antes de os cientistas determinarem o pr�ximo destino do rob� terrestre. Os dois ve�culos manteriam uma dist�ncia segura um do outro por meio de um sistema de comunica��o, evitando colis�es.
O projeto do helic�ptero espacial n�o inclui instrumentos avan�ados como lasers ou espectr�metros, mas a vis�o a�rea da c�mera do ve�culo deve ser uma importante ferramenta para os pesquisadores na busca por sinais de vida passada. “Acreditamos que a �gua seja extremamente importante para a vida como conhecemos. Se conseguirmos escolher um lugar onde tenha �gua ativa, seria interessante para procurar vida atual ou antiga”, ensina F�bio Rodrigues, professor do Instituto de Qu�mica da Universidade de S�o Paulo (USP).
A an�lise das forma��es geol�gicas registradas em imagens feitas por sat�lite j� foram o suficiente para cientistas afirmarem, por exemplo, que o planeta teve rios e que algumas regi�es cobertas por gelo ainda est�o ativas. A c�mera do drone tem uma resolu��o 10 vezes maior do que as imagens registradas pelo Mars Reconnaissance Orbiter e pode revelar detalhes nunca vistos do solo marciano. “Um rover tem equipamentos que v�o medir o tipo de mineral do terreno e a presen�a de mat�ria org�nica, mas ele s� consegue visualizar uma �rea muito pequena. Com o drone, ele teria imagens muito boas que serviriam para entender o terreno e gui�-lo para lugares mais interessantes.”
A Nasa ainda n�o revela o investimento feito no drone espacial, mas afirma que, se for aprovado a tempo, o equipamento deve representar uma pequena parcela do investimento da miss�o, atualmente or�ada em US$ 1,9 bilh�o. At� o momento, apenas sete instrumentos cient�ficos est�o oficialmente aprovados para a miss�o de 2020, incluindo duas c�meras de alta resolu��o e um equipamento capaz de produzir oxig�nio a partir do di�xido de carbono presente na atmosfera de Marte.