Roberta Machado

Por tr�s de uma pose bem planejada para a selfie, de um tu�te editado � perfei��o ou daquele post bem-humorado do Facebook pode haver uma tristeza oculta. Pesquisadores norte-americanos criaram um programa de computador que, por meio das redes sociais, monta o perfil do verdadeiro estado emocional do usu�rio, nem sempre claro para familiares e amigos. Al�m dos tra�os �bvios, como a express�o facial ou uma postagem de palavras positivas, o software procura sinais de alegria ou tristeza em pistas mais sutis, como o tempo que o internauta gasta na rede e at� mesmo seus sinais biom�tricos.
O programa, desenvolvido pela Universidade de Rochester, ainda est� em uma etapa preliminar de desenvolvimento, mas j� mostra resultados que provam a validade da ideia. O software foi colocado � prova com um grupo de 27 volunt�rios, que foram estimulados por publica��es positivas ou negativas enquanto tinham todos os movimentos, posts e at� mesmo selfies examinados pelo computador equipado com uma c�mera.
O sistema foi desenvolvido para colher o maior n�mero poss�vel de dados sobre o internauta, sem que ele tenha de sair da sua rotina. O usu�rio n�o precisa responder a nenhum tipo de question�rio, fazer exames ou fornecer depoimentos. O programa usa como base as pistas deixadas naturalmente na internet, seja postando um coment�rio em um site, seja lendo o conte�do publicado por outras pessoas.
“A sa�de mental tem muito a ver com o estado de esp�rito, que pode ser facilmente afetado pela consci�ncia de estar sendo observado ou questionado. Por isso, coletar dados enquanto o usu�rio n�o est� percebendo � t�o crucial para que a mente seja observada em seu estado natural”, explica Jiebo Luo, professor de ci�ncias da computa��o da Universidade de Rochester e principal autor do trabalho.
Os pesquisadores escolheram uma s�rie de marcadores que podem indicar como o usu�rio se sente, como a escolha de palavras usadas em um post no Twitter. Uma ferramenta separa os verbetes considerados felizes dos tristes e determina o tom geral do tu�te publicado. Esse � considerado um dos mais importantes dados para a avalia��o do programa, que confere pesos diferentes para cada dado registrado. “Nosso sistema l� tanto as mensagens de texto quanto as imagens em tu�tes para extrair os sinais das mensagens recebidas e das enviadas. Damos mais peso �s mensagens enviadas para prever o estado emocional do usu�rio”, exemplifica Luo.
Rubor
Mesmo que o internauta s� publique coment�rios positivos, os sinais de ansiedade emocional do usu�rio continuam claros para o programa. O software tamb�m pode medir a frequ�ncia dos batimentos card�acos de uma pessoa com base nas mudan�as de tom da testa dela. Esse � um indicativo do estado de agita��o do usu�rio, que pode ser medido ainda pela quantidade de vezes que ele pisca os olhos ou pelos movimentos que faz com a cabe�a. Esses e outros dados, que incluem at� mesmo a dilata��o da pupila, s�o calculados pelo programa com base nos v�deos registrados enquanto o usu�rio tira uma selfie habitual.
O exame biom�trico feito pelo software pode ver, atrav�s da imagem, que o internauta constr�i de si mesmo nas redes sociais. “T�m pessoas que se exp�em at� demais e que, possivelmente, v�o demonstrar o estado de humor na rede social. H� outras que s� publicam e acessam certos tipos de conte�do e que selecionam muito bem o que publicam”, explica Paulo Lopes, do N�cleo de Pesquisas da Psicologia em Inform�tica da PUCSP.
Outro sintoma facilmente medido pelo computador � a velocidade de leitura de uma p�gina. Quanto mais tempo a pessoa demorar lendo o mesmo conte�do, maior � o indicativo de que algo vai mal. O mesmo vale para o volume de cliques: enquanto um indiv�duo bem-humorado costuma navegar com mais agilidade, acessando um grande n�mero de sites, o internauta desanimado n�o vai mudar de p�ginas com tanta frequ�ncia. “N�o acho que o programa tenha uma precis�o alt�ssima, mas ele pode servir de alerta”, acredita Paulo Lopes.
Monitoramento pelo smartphone
Em breve, os pesquisadores da Universidade de Rochester esperam criar um aplicativo que possa transformar qualquer smartphone em um dispositivo de monitoramento emocional. Jiebo Luo, principal autor do trabalho, revela que est� coletando dados para deixar o sistema mais robusto e sens�vel �s emo��es humanas, ensinando-o, por exemplo, a diferenciar a tristeza da raiva. Quando estiver pronto, o app poderia ser usado para monitorar a sa�de mental de usu�rios ou at� mesmo gerar dados a serem usados por profissionais de sa�de que acompanham a evolu��o de um tratamento com base no humor do paciente. “No fim das contas, o nosso objetivo � melhorar o bem-estar mental de todos”, resume Luo.
No entanto, especialistas alertam que aplicativos de sa�de como esse podem fornecer falsos resultados, apontando problemas inexistentes ou ignorando sinais de uma doen�a que seriam notados por um profissional em um diagn�stico tradicional. “O caminho � longo at� que se consiga obter um instrumento compat�vel com o comportamento humano, que � multideterminado. � mais f�cil a gente ter um instrumento super sens�vel e preciso para avaliar as estrelas do que para avaliar como nos comportamos”, aponta Jo�o Carlos Alchiere, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e conselheiro suplente do Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Alchiere acredita que ferramentas como o software desenvolvido pelos pesquisadores da institui��o norte-americana possam fazer parte da rotina de pacientes e m�dicos nas pr�ximas duas d�cadas, se as pesquisas forem capazes de aperfei�oar a tecnologia. O uso de um programa como o desenvolvido em Rochester poderia, na opini�o do brasileiro, fornecer a longo prazo um relat�rio completo sobre as flutua��es de humor do usu�rio, detalhadas suficientemente para auxiliar no diagn�stico feito por um terapeuta. “Ter�amos resultados muito promissores. Esse � o ponto do Big Data, as pesquisas com grandes quantidades de dados”, estima. (RM)